De repente, o sentimento de desorganização se acentua rápido e as perspectivas cada vez mais incertas tomam conta do cenário.
Fica bastante evidente que o erro estratégico do BC/COPOM, em sua última deliberação sancionando tão somente uma alta de 1% na taxa Selic, impõe um “peso” considerável na “fatura” que os fatos apresentam, visto que houve, e era possível que não tivesse havido, um menosprezo ou ausência de percepção da efetiva intensidade da inflação no país e sua alavancagem pelos preços administrados, em especial hídrico-energético e dependentes do petróleo, com enorme impacto no cenário prospectivo de crescimento do país, bem como na reversão do otimismo que vinha sendo vislumbrado, ainda que com bases muito fragilidades, em grande parte mais anseios do que realidade.
A inflação está absolutamente solta e disseminada por toda a economia brasileira. O governo tem pouco a fazer, ficando à mercê dos fatos. Mas preços atrelados ao dólar americano poderiam estar menos contundentes se o juro SELIC, principal antídoto a alta do preço da moeda americana no nosso mercado, tivesse sido elevado com maior compatibilidade com a realidade que já era perceptível.
As referências à inflação presente estão muito banalizadas, a população já está se acostumando, embora nem todos percebam que estão ficando mais pobres.
O BC/COPOM permaneceu com sua decisão “atrás da curva”, quando na realidade é imperativo que esteja à frente, sendo pró-ativo e “zelador” da política monetária, mas a autoridade transparece estar muito submissa aos ditames do mercado e inibida para uma intervenção mais aguda e de efetivo comando.
Como não o foi, o mercado financeiro ajusta “por conta própria” os preços de câmbio e juro, e isto provoca inúmeras projeções díspares que acabam por acelerar o processo de desorganização e ocorrem atipicidades e acomodações, como a consideração de que a inflação oficial atingirá os dois dígitos.
A BOVESPA sente de imediato esta quebra de perspectivas e o crescimento das incertezas, enquanto o câmbio “livre e solto” busca novos recordes diários e se comporta pouco responsivo às intervenções do BC com oferta de contratos de swaps novos, inclusive os ditos para atender o “overhedge” de final do ano, que foi um artifício temporal para tentar mitigar o erro de não ter elevado o juro de forma mais contundente.
O país convive com a questão fiscal a perturbá-lo cotidianamente e as soluções sugeridas até o momento não promoveram tranquilidade, muito pelo contrário, pois o “departamento de criatividade” está ativo e ávido por gastar mais e populisticamente sem suportes confiáveis de receitas, até porque a perda de atividade econômica gradual tende a diminuir a arrecadação.
Mas o fato é que o governo precisa dar suporte à população mais carente, em forte expansão, o que acentua a pobreza no país. Por outro lado, sinais mais fortes de desaceleração da economia mundial, com problemas de ajustes orçamentários nos Estados Unidos e incertezas se e quando se dará o início da retirada dos incentivos à economia, e a hipótese de redução imediata coloca em perspectiva a alta do juro e maior atratividade dos treasuries americanos que acabaria por fortalecer ainda mais o dólar frente às moedas emergentes. A China convive com as incertezas que emanam principalmente do enorme problema de US$ 300 bi da China Evergrande Group (HK:3333) (OTC:EGRNY) e a Europa claudica em sua linha de recuperação, e tudo isto é “tóxico” para os países emergentes, ainda mais como o Brasil que tem alguns desajustes muito fortes.
O viés do dólar, em tese, é de acentuar a alta no nosso mercado, hoje está abrindo na faixa de R$ 5,50 e a postura operacional deverá ser defensiva, obedecendo a máxima de que “herói é aquele que não teve tempo de correr”.