Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com.
- Situação da soja frente às estimativas de oferta e demanda
- Milho corrige
- Trigo futuro continua acima de US$7 na CBOT
- Algodão segue em trajetória de alta
- Proteína animal entra em baixa temporada de demanda
Todos os meses, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulga um relatório de estimativas de oferta e demanda de produtos agrícolas no mundo. Muitos produtores consideram esse relatório, conhecido pela sigla WASDE, como o padrão-ouro dos fundamentos para o mercado.
O WASDE fornece uma visão geral da produção, estoques, exportações e outros dados de produtos do campo. Os mercados futuros costumam subir ou cair caso o relatório se desvie das previsões consensuais do mercado. Os preços futuros são os indicadores em tempo real do caminho de menor resistência para as commodities agrícolas.
No dia 10 de setembro, o USDA divulgou seu relatório WASDE de setembro. A temporada de colheita de 2021 já está em andamento nos EUA e hemisfério norte. Os preços das commodities agrícolas continuam bem mais altos em setembro de 2021 do que no mesmo período do ano passado.
Eu conversei com Sal Gilberte, fundador da família Teucrium de ETFs agrícolas, como CORN, SOYB, WEAT, e CANE, para saber suas visões sobre o último relatório WASDE. Sal me disse o seguinte:
“Não houve muita novidade no relatório WASDE de setembro de 2021. O mais importante para mim foi a situação de restrição no balanço da soja americana, o nível mais baixo dos estoques finais de trigo em 8 safras e a confiança do USDA em grandes números de produção e importação de milho para a China. Os preços do milho chinês continuam muito altos em relação aos americanos, o que significa que a produção daquele país está superestimada, ou o número de importação de milho da China precisa de alguns ajustes. De qualquer forma, os estoques domésticos de grãos nos EUA estão muito abaixo da relação histórica de estoque/consumo, principalmente na soja. Está claro que o mundo precisará de pelo menos outra safra completa antes que a relação estoques/consumo de grãos volte para as médias históricas”.
Situação da soja frente às estimativas de oferta e demanda
Sal ressaltou que a soja apresentava restrição na oferta. O mercado futuro da soja parecia concordar.
Fonte: CQG
O gráfico diário da soja para novembro ilustra que a oleaginosa registrou um padrão de reversão altista em 10 de setembro, dia de divulgação do relatório do USDA. O WASDE de setembro afirmou que os estoques iniciais e finais nos EUA e no mundo haviam subido em agosto, enquanto dados como rendimento, produção e estoques mundiais estavam dentro das faixas previstas. A soja futura seguiu as avaliações feitas pelo relatório mensal. Os preços voltaram a subir em relação ao nível mais baixo desde o fim de junho. A soja para novembro estava um pouco acima de US$12,95 por bushel no dia 15 de setembro.
Milho corrige
O fundador da Teucrium questiona o preço do milho doméstico da China, em vista dos dados de produção e importação. Os dados fundamentalistas do milho mostram que os níveis de estoques mundiais subiram em relação ao relatório de agosto, mas o contrato futuro do milho para dezembro permaneceu sob pressão até a divulgação do último relatório do USDA.
Fonte: CQG
Como mostra o gráfico diário do milho para dezembro, o preço ficou abaixo de US$5 em 10 de setembro, mas registrou um padrão de reversão altista no dia do relatório WASDE. Depois de recuar até o preço mais baixo desde meados de abril, o milho se estabilizou perto do nível de US$5,35 em 15 de setembro no pregão pós-WASDE.
Trigo futuro continua acima de US$7 na CBOT
Os estoques mundiais de trigo ficaram dentro da faixa esperada no último relatório WASDE. Após superar a marca de US$7 por bushel, o trigo recuava quando o USDA afirmou que os estoques finais nos EUA haviam caído, enquanto os mundiais haviam crescido. Mas permaneceram abaixo do nível de 2020 durante a colheita.
Fonte: CQG
O gráfico mostra que o trigo na CBOT atingiu seu nível mais baixo desde o fim de julho a US$6,77 por bushel em 10 de setembro. O trigo se recuperou e estava de volta a US$7 por bushel em 15 de setembro. A Rússia é o maior país exportador de trigo do mundo, o que torna o grão numa espécie de instrumento geopolítico.
Algodão segue em trajetória de alta
O USDA afirmou que o mercado de algodão registrou queda nos estoques iniciais desde agosto, mas os estoques finais poderiam ser maiores, em vista da maior produção. Os estoques globais caíram. Mesmo diante da alta da produção, o consumo superou a oferta.
Fonte: CQG
O gráfico do algodão futuro na ICE ilustra a tendência de alta que fez o produto atingir a máxima plurianual a 96,71 centavos em agosto. A mais de 93 centavos em 15 de setembro, o algodão futuro estava bem perto do pico mais recente e se valorizava após a divulgação do WASDE.
Proteína animal entra em baixa temporada de demanda
O USDA reduziu a previsão para a produção de carne bovina em 2021, sem alterar a perspectiva para suínos. O WASDE elevou a projeção de preços da carne bovina em 2021 e 2022, assim como de suínos neste ano. Embora o WASDE mostrasse otimismo com a proteína animal, os mercados registraram vendas sazonais com o fim da temporada de churrascos nos EUA, marcada pelo Dia do Trabalho. O pico de demanda se encerra no início de setembro de cada ano.
Fonte: CQG
O gráfico futuro do boi gordo ressalta o declínio de US$1,38225 no fim de agosto até a mínima de US$1,25675 em 13 de setembro após o WASDE. O boi gordo para dezembro repicou para o nível de US$1,30 em 15 de setembro.
Fonte: CQG
O contrato futuro de bezerro para outubro caiu de US$1,7255 no fim de agosto para a mínima de US$1,54775 por libra-peso em 13 de setembro antes de repicar para US$1,56500 em 15 de setembro.
Fonte: CQG
Já o suíno magro futuro caiu de 91,425 centavos por libra-peso no fim de agosto para a mínima de 79,775 centavos em 14 de setembro, ficando um pouco acima de 82 centavos por libra-peso em 15 de setembro. Os declínios nas carnes se deveram mais a fatores sazonais do que ao último relatório WASDE.
Os preços agrícolas caíram em relação às máximas no início de 2021, mas ainda assim permanecem muito mais altos do que no mesmo período de 2020. A questão é que os produtos agrícolas estão refletindo maiores pressões inflacionárias e demográficas. A população mundial está crescendo, e a produção anual deve manter o ritmo para satisfazer o maior consumo.