Após a onda de otimismo observada na sexta-feira, os mercados amanhecem hoje mais cautelosos, resultado de mais reviravoltas nos principais fatores de risco global: a guerra comercial entre China e Estados Unidos; a desaceleração das economias desenvolvidas; o Brexit e tensões geopolíticas diversas.
O impacto já se fez sentir nas bolsas europeias, que operam em baixas que vão de 0,4% a 0,9% e também no mercado futuro de índices americanos – apesar do feriado nacional, tanto a Nasdaq quanto a NY Stock Exchange estão operando normalmente, embora, provavelmente, com volume menor que o normal.
Guerra comercial
A China e EUA firmaram um acordo verbal na semana passada, com os EUA se comprometendo a não seguir adiante com um aumento de tarifas que estava planejado para essa semana e a China se comprometendo a realizar novas compras do setor agrícola americano – um dos mais afetados pelo conflito iniciado há cerca de 15 meses atrás.
Entretanto, nessa segunda-feira, chegam notícias de que a China quer realizar mais negociações – que incluiriam o cancelamento de mais um aumento tarifário por parte dos EUA, em dezembro – antes de fechar aquilo que Trump vem chamando de “phase one deal” ou acordo “fase um”. A princípio, a tendência é que o governo americano mostre resistência a essa possibilidade.
Divergências claras chegam também via a postura da Casa Branca e de Beijing com relação a importância desse acordo. Donald Trump afirma que o aumento nas compras de produtos agrícolas são “o melhor e maior acordo já feito para nossos Grandes Patriotas Fazendeiros na história do nosso país”.
Veículos oficiais da China, entretanto, se limitaram a dizer que os dois lados “concordaram em fazer um esforço conjunto para eventualmente chegar a um acordo”. Levando em consideração o histórico de Donald Trump, notório pelas afirmações exageradas, a postura dos mercados é agora mais cautelosa, em contraste com a reação inicial de sexta-feira.
Retrocessos no Brexit
Dentre um dos destaques da semana passada, estão um encontro entre o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, no qual ambos se reafirmaram a possibilidade de um acordo que colocasse fim a um dos principais obstáculos do Brexit: a fronteira entre a Irlanda (que não faz parte do Reino Unido, mas da União Europeia) e da Irlanda do Norte, cujo território está na mesma ilha que a Irlanda.
A pacificação da ilha veio precisamente com o fim de uma fronteira entre os dois países nos anos 90 e, legalmente, não pode haver fronteira física entre eles. Até o momento, as negociações não foram capazes de determinar como ficaria a relação entre os dois países após a eventual saída do Reino Unido da União Europeia.
Entretanto, o líder da Casa dos Comuns, Jacob Rees-Mogg, sugeriu que Johnson pode recorrer a legislação da União Europeia para passar por cima da lei que o obrigaria a pedir uma extensão do prazo de negociação – o chamado Benn Act. Isto, uma vez que a legislação do bloco, até concretizada a saída oficial do Reino Unido, ainda sobrepõe a legislação britânica. Entretanto, afirma, a questão ainda terá de ser avaliada por especialistas legais.
Há alguns dias atrás, Boris Johson enviou uma nova proposta para o parlamento europeu, que decidirá se aceita ou não o acordo proposto pelo Reino Unido ainda essa semana. Entretanto, Michel Bernier, negociador-chefe da União Europeia no que diz respeito ao Brexit, afirmou ontem que será muito difícil fechar um novo acordo até 31 de outubro, data limite para as negociações, citando precisamente problemas com relação a fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte. Se um acordo não for firmado, Boris Johnson é obrigado, por uma lei recentemente aprovada pelo parlamento britânico, a realizar um pedido formal de extensão da data de saída do bloco.
Para renovar o conflituoso cenário, a rainha da Inglaterra, em seu tradicionalíssimo discurso de abertura do parlamento realizado essa manhã, ressaltou que a prioridade do governo deve ser uma saída a qualquer custo até o prazo de 31 de outubro – ou seja, com ou sem acordo. Jeremy Corbyn, líder do partido trabalhista, que tem maioria na câmara, criticou o discurso real, dizendo tratar-se de “uma transmissão político-partidária vinda dos degraus do trono”, referindo-se ao modo como a Rainha abraçou as pautas do partido conservador, de Johnson – que ainda não foi capaz de vencer uma única votação.
Novos sinais de desaceleração
Na noite de ontem, novos dados vindos da China mostram queda no nível de importações e exportações feitas pela segunda maior economia do mundo, com as vendas de automóveis caindo pelo décimo quinto mês seguido. Na Europa, um leve aumento de 0,4% na produção industrial de agosto foi ofuscada por uma queda de 2,8% na comparação ano-a-ano.
Os únicos eventos econômicos de impacto significativo agendados para hoje serão por volta das 21h, trazendo dados sobre a inflação na China. Ao longo da semana, contudo, vários eventos de grande magnitude -- como a votação do parlamento europeu a respeito do Brexit – e dados macroeconômicos diversos estão marcados. Todos eles serão disponibilizados gratuitamente e em tempo real pelo Investing.com.
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Cenário técnico
Com o Euro em leve baixa e os principais índices de força do dólar em leve alta, mas com ambos mostrando sinal de fraqueza, é possível observamos uma eventual mudança de direção do dólar ao longo da sessão brasileira. A moeda abriu em R$4.117 e no momento marca leve alta em relação a sessão de sexta-feira.
O preço está logo abaixo da média simples de 20 dias, mas acima da região de suporte que vai dos R$4,110 e R$4.085 – que concentram um grande volume de negociação. A parte inferior dessa região pode valer como suporte para o dia de hoje caso o preço caia, com próximos pontos de interesse em torno de R$4,065 e R$4,060. O próximo ponto de resistência mais relevante, no gráfico diário, vai de R$4.150 a R$4.175.
Como de costume, é bom ficar atento para movimentos bruscos em terno das 10h30, momento de abertura das bolsas dos EUA e que devem ditar o rumo da sessão, dependendo de como investidores de lá encarem os desenvolvimentos do cenário internacional durante o fim de semana. Isto já levando em conta o impacto reduzido em vista do feriado do dia de Colombo, mas com duas das principais bolsas (Nasdaq e NYSE) operando normalmente.