Cenário Externo “Inseguro” Sanciona Alta do Dólar Independente do Juro do FED

Publicado 07.08.2019, 07:30
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Inegavelmente a China promoveu um lance ousado no tabuleiro de xadrez que se tornou o embate comercial com os Estados Unidos, e surpreendeu o mercado financeiro global, no primeiro momento, com as projeções de impactos na concorrência comercial mundial, que se mostrou atordoado e está procurando se alinhar à nova realidade.

Mesmo que a China atenue o ímpeto de desvalorizar sua moeda frente ao dólar de forma mais intensa do que já o fez, criou uma síndrome que deve contaminar o cenário global e impor posturas mais defensivas nos mercados por parte dos investidores globais.

Em momentos de incerteza, o “porto seguro” é o dólar e mesmo que o FED venha a reduzir o juro americano, a prevalência em momentos de incerteza é mais a garantia do que a renda, e assim sendo, será muito difícil reverter a tendência de valorização do dólar frente às demais moedas principais e, em especial, frente às dos países emergentes, que deverão ter acentuada a aversão ao risco, mesmo que, como o Brasil, tenham CDS baixo no momento.

“Guerra cambial” era algo não considerado ou considerado marginalmente como ocorrência pouco factível, mas a China a fez presente e com uma vantagem significativa, pois tem o comando sobre o preço de sua moeda, e assim, pode determinar a sua paridade frente ao dólar e com esta estratégia buscar efeito compensatório do tarifaço americano sobre seus produtos e ganhar enorme competitividade no comércio exterior mundial.

Poderíamos mesmo ousar dizer que “por esta Trump não esperava”, por isso desandou críticas severas ao FED pela inibida decisão de ter cortado tão somente 0,25% na taxa de juro americana, mas o fato é, como salientamos, que em momentos de incertezas o “porto seguro é o dólar” e a rentabilidade se torna secundária frente a busca de garantia.

O Brasil de perfil predominante exportador “colonial” pode potencializar oportunidades de incrementar suas exportações de commodities agrícolas, face à decisão chinesa de não importar produtos agrícolas dos Estados Unidos, e metálicas, aumentando sobejamente os volumes num ambiente de taxa de conversão do dólar elevada pelas circunstâncias.

Mas por outro lado, como deve ser intensificada a postura defensiva dos investidores estrangeiros, o Brasil deve continuar sendo preterido pelos fluxos de investimentos em conta capital e no mercado financeiro e desta forma deve se acentuar a troca de divida externa por dívida interna, face às restrições e encarecimento para rolagens, num momento em que o mercado interno deve revelar satisfatório nível de liquidez e taxa de juro bastante atraente.

Este fato, tornando-se efetivo, contribuirá para que o fluxo cambial negativo se acentue para o Brasil, que deverá rever inclusive suas projeções para desempenho da Bovespa, que poderá ser seriamente prejudicada pela quebra das expectativas.

O preço do dólar no mercado local deverá ser pressionado pelo fluxo de saídas e/ou pela carência de ingressos, agravada pela aversão a risco, e com o estreitamento cada vez mais acentuado do que o atual entre as taxas de juros externa e interna, o custo do cupom cambial tenderá, naturalmente, a pressionar a taxa cambial no mercado à vista elevando-a, exigindo atuação forte do BC com concessão de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra e, quem sabe, tendo que realizar leilões de moeda efetiva.

Nada demais, como já disse um Diretor do BC, o banco está preparado para usar todas as alternativas possíveis no câmbio, e vender moeda efetiva ao sistema bancário é uma das alternativas, se bem que não usual, por isso precisará ser bem explicada a intervenção para evitar ilações erráticas.

Este cenário conturbado a partir da cena externa, com impactos inevitáveis no Brasil ocorre num momento absolutamente inoportuno para o país, que precisa retomar a dinâmica da atividade de sua economia, pois como temos ressaltado a Reforma da Previdência em processo de aprovação, a Reforma Tributária em ebulição e as medidas focando melhora de ambiente negocial, buscam o ordenamento de aspectos relevantes e perturbadores, mas tem baixo impacto na efetiva retomada da atividade econômica, que depende de investimentos produtivos e de infraestrutura, para os quais os empresários têm pouca motivação e o governo não tem recursos.

Há um “corner”, um verdadeiro “nó”, que priva o país de tração efetiva para a retomada da atividade econômica, sem o que não há como recuperar o emprego, gerar renda e consumo.

O Governo, que não tem como emitir moeda e elevar a Dívida Pública, precisa reinventar estratégias, e por isso não descartamos utilizar um percentual das reservas cambiais.

Este contexto poderá, inclusive, prejudicar o programa de privatizações que é imperativo para o país, pois a aversão a riscos por parte dos investidores estrangeiros poderá determinar menor apetite por parte dos mesmos.

O movimento defensivo global poderá agravar mais a tendência a perda de dinâmica da economia mundial e a propensão a investimentos, acentuando postura defensiva.

Então, na nossa visão, RATIFICANDO, neste ambiente não há possibilidade do dólar desvalorizar-se no mercado global, mesmo que o FED reduza a taxa de juro americana, visto que havendo insegurança e incerteza o dólar será o refúgio, sendo que a segurança predomina sobre a rentabilidade.

No Brasil, o dólar deverá se manter com preço elevado, distante do preço considerado de equilíbrio e projetado para o final do ano de R$ 3,75, mas não deverá causar impacto na inflação dado a inércia da atividade econômica e a significativa capacidade ociosa presente no setor produtivo.

Doravante, o embate entre Estados Unidos e China ganha maior dimensão e amplia seus efeitos preocupantes ao colocar “no jogo” o risco de “guerra cambial”.

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