A semana foi marcada por decisões de política monetária nos Estados Unidos e na Europa, além de anúncios de estímulo monetário na China após novos dados indicarem enfraquecimento da atividade econômica.
Nos Estados Unidos, o Fed manteve a taxa de {{ecl-168||juros} inalterada no intervalo entre 5,00% – 5,25%, conforme esperado pelo mercado. Importante destacar que a decisão foi unânime.
Não houve grandes alterações na avaliação da conjuntura econômica pelo Comitê, com o comunicado afirmando que a atividade seguiu expandindo em ritmo moderado, reforçando que o mercado de trabalho segue robusto, com a taxa de desemprego mantendo-se em patamar baixo. Adicionalmente, o comitê ressaltou mais uma vez que a inflação permanece elevada.
A principal alteração no comunicado foi a inclusão do trecho em que o Comitê sinaliza que a manutenção da taxa de juros inalterada neste momento permite a observação de mais informações a respeito da atividade econômica e as implicações da política monetária atual. Adicionalmente, reforçou que seguirá atento ao nível de aperto vigente, à defasagem da política monetária na atividade econômica e na inflação para avaliação dos próximos passos.
As projeções também sofreram alterações importantes. Em 2023, a mediana das projeções do PIB do comitê subiu para 1,0% (ante 0,4% em março), enquanto a expectativa para a taxa de desemprego caiu de 4,5% para 4,1%. A projeção para a inflação em 2023, medida pelo PCE, manteve-se relativamente estável em 3,2% (ante 3,3% em março), no entanto, para a inflação subjacente, a expectativa subiu de 3,6% para 3,9%. Em termos de expectativa de juros, nota-se que a mediana das projeções para 2023 subiu de 5,1% para 5,6%, sugerindo uma alta de 50 bps na taxa de juros ainda neste ano. Para 2024 e 2025, destaque para os aumentos nas projeções de juros, que atingiram 4,6% (ante 4,3% anterior) e 3,4% (ante 3,1% em março), respectivamente.
Na conferência de imprensa, Jerome Powell afirmou que o Comitê decidiu manter taxa de juros inalterada nessa reunião para ter acesso a mais informações que permitam avaliar melhor os impactos da política monetária na atividade, citando os efeitos de defasagem. Powell reforçou que pode ser necessário elevar a taxa de juros adiante, mas em um ritmo mais moderado. Em relação à inflação, Powell reconheceu uma desaceleração, mas ressaltou que o núcleo permanece elevado, afirmando que gostaria de ver uma continuidade da melhora na cadeia de suprimentos de bens. Adicionalmente, afirmou enxergar algum arrefecimento no mercado de trabalho. Apesar de reconhecer avanços, Jerome Powell disse que o processo de desinflação à frente deve acontecer de forma lenta e gradual, o que justificaria a postura do Comitê.
Em resumo, apesar da decisão de manutenção da taxa de juros inalterada ter sido amplamente esperada, o aumento nas projeções de juros para 2023 e 2024 surpreenderam o mercado. Entretanto, Jerome Powell reforçou que não há nenhuma decisão em relação às próximas reuniões, afirmando que o Comitê está preparado para ajustar os próximos passos na condução da política monetária. A postura da autoridade monetária parece ter como principal objetivo afastar qualquer precificação de corte da taxa de juros neste ano pelo mercado, e não necessariamente indicar que há necessidade de novas altas a frente. Após a decisão, o mercado precifica atualmente 62% de chance de alta na taxa de juros para a reunião de julho.
Na Europa, o Banco Central Europeu, por sua vez, elevou a taxa de juros em 25 bps para 4,00%, conforme amplamente esperado pelo mercado.
O comunicado destacou que as projeções do BCE indicam que a inflação deva permanecer elevada por período prolongado, com a presidente Christine Lagarde afirmando que o aperto monetário ainda deve continuar. Na conferência de imprensa, a autoridade monetária sinalizou novas altas na taxa de juros à frente, com o mercado esperando pelo menos mais uma elevação de 25 bps. No entanto, declarações de membros do Banco Central Europeu indicam que há chances de que o aperto monetário avance ainda mais em território restritivo.
Em relação à China, a divulgação de indicadores econômicos abaixo da expectativa do mercado gerou reações das autoridades do país.
A produção industrial de maio registrou alta de 3,5% na comparação anual, abaixo da expectativa do mercado (3,6%) e desacelerando em relação à divulgação anterior, quando reportou avanço de 5,6%. As vendas no varejo subiram 12,7% em maio em relação a maio/2022, também abaixo das projeções do mercado (13,8%) e um arrefecimento relevante em relação à alta de 18,4% observada em abril.
A atividade mais fraca no país asiático levou a uma queda nos preços de commodities nos últimos meses. No entanto, o governo chinês reagiu e anunciou novos estímulos monetários para impulsionar a economia do país. No começo da semana, o PBOC, Banco Central da China, reduziu a taxa de juros de curto prazo de 2,0% para 1,9%. Adicionalmente, no meio da semana, a autoridade monetária cortou a taxa de juros de empréstimo de médio prazo para 2,65% (ante 2,75%). Ainda assim, notícias indicam que o país ainda pretende implementar um amplo pacote de estímulos monetários para impulsionar tanto o setor imobiliário quanto a demanda doméstica. Tais decisões impactaram positivamente os preços de commodities ao longo da semana, com perspectiva de fortalecimento da atividade econômica na China a partir dos estímulos implementados.
Portanto, a pausa do Fed sinaliza algum alívio no aperto monetário à frente, mesmo com a sinalização de novas altas nas próximas reuniões. Na Europa, apesar da elevação nos juros, o ciclo de alta na política monetária pode estar se aproximando do fim. Adicionalmente, estímulos na China devem beneficiar a atividade econômica global à frente. Tais fatores sinalizam algum alívio no cenário externo, com indícios de fim de aumento nos juros nos países desenvolvidos indicando que a autoridade monetária brasileira possa ter algum espaço para iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros.