Importante observar que a ordem dos “fatores altera a conclusão”, ou seja, é o dólar que está se depreciando pontualmente frente às emergentes e não o contrário e movimento é centrado, principalmente, nas ligadas a commodities, que na contrapartida se valorizam, como já sinalizado de imediato no petróleo, enquanto mantém valorização frente à cesta de moedas das economias desenvolvidas.
Mas o real que repercutiu de imediato, apresenta resistência e há motivos!
A observação precisa desta situação mostra o quanto oportunista é a observação feita pelo Ministro Guedes, defensor do “câmbio alto”, ao salientar que o câmbio já teve “overshooting” e está voltando, visto que o movimento de ajuste paritário decorre do movimento externo do dólar e somente ante as moedas emergentes e não de movimento interno que é meramente reflexivo e tem pontos de forte contenção à tendência.
Os fatores internos brasileiros negativos de contenção tem como destaque e ênfase principal o quadro fiscal que continua pressionando o preço do dólar para viés de alta, além do juro baixo e a inércia nas reformas, sendo estes preocupantes e relevantes, mas todos de natureza interna. Externamente, o mercado internacional continua com os investidores desinteressados em incrementar investimentos no Brasil, mas o CDS do Brasil é baixo visto que é credor líquido em moeda estrangeira, face ao volume de reservas ser maior do que as obrigações.
A depreciação acentuada do dólar no Brasil se vier a ocorrer e se sustentar poderá frustrar os planos do governo em relação à pedalada visualizada como fonte de renda para o Tesouro Nacional com transferência de “lucros” do Banco Central do Brasil, que não se limitam ao operacional, mas atingem o ganho sobre estoques de reservas, e numa visão mais cética piora o cenário já que sugere que, mantido o ajuste, ao final do ano o BC poderá até registrar prejuízo, e então, não haverá lucro, mas sim a necessidade de emissão de Dívida para cobrir a devolução necessária ao BC, e isto pioraria o cenário fiscal.
Por outro lado, eventual depreciação do dólar será positiva para atenuar a inflação, pois o preço do dólar reduzirá seus efeitos deletérios que se irradiam nos preços relativos da economia impactando na inflação do país mais captados pelo IGP-M, se bem que vai depender muito da intensidade da depreciação do dólar versus valorização dos preços das commodities no mercado internacional.
Os efeitos se o ajuste for duradouro repercutirão com reflexos no IGP-M que está excessivamente acelerado este ano face à alta do dólar e que tende a provocar forte desajuste nos preços administrados, em especial, e nos contratos comerciais “vis-a-vis” a inflação pelo IPCA.
Movimentos abruptos desta natureza no mercado de câmbio sempre suscitam grau de atenção maior porque há o riscos de perdas relevantes por parte de “players” posicionados “não hedge comercial”, ou seja, “especulativos” ou que demandaram simplesmente proteção ante as incertezas.
Importante relembrar que o “dólar fragilizado” era a grande ambição do Presidente Trump e que o levava a pressionar o FED para reduzir o juro, pois visava aumentar consideravelmente a competitividade dos produtos americanos no mercado exterior, o que ocorre neste momento, porém restrito a moedas emergentes de países ligados a commodities, parceiros e concorrentes no mercado internacional.
Este é um detalhe relevante, visto que o ajuste que ocorre do dólar, em especial frente às moedas emergentes ligadas a commodities, potencializa a capacidade de concorrência dos Estados Unidos em inúmeros segmentos do mercado internacional onde compete com os emergentes, e caindo ou reduzindo as animosidades com a China, que é o grande comprador mundial, o Brasil pode ser prejudicado no confronto.
No mais, o Brasil continua intacto com seus problemas internos e relevantes e que, mais do que nunca, a situação impõe que as conversações em torno de reformas imprescindíveis saiam das retóricas e passem para ações efetivas e contundentes, e absoluto rigor fiscal.
O que se observa no nosso mercado financeiro é pura consequência do cenário externo sem que haja causa positiva indutora efetivamente local.
A recuperação do emprego, como sinalizado pela FGV continua, mas perde intensidade desde julho e há cada mês mais desalentados inflando as estatísticas de desempregados.
E, o governo continua no “corner” de ver como imprescindível a manutenção dos programas assistenciais à população carente e não dispor de fontes de financiamento, e, a bem da verdade, ainda desconhecer a efetiva dimensão destes programas nos sinais de retomada da atividade econômica do país.
Então, o movimento de depreciação do dólar poderá até se tornar sustentável por decorrer de novo posicionamento da moeda americana no mercado internacional, e se não fosse o quadro fiscal e ausência de reformas imprescindíveis no Brasil e o juro muito baixo que são fatores intensos que se constituem em forte “freio” a este ajuste pleno (conteve ontem a intensidade e a curva de depreciação do dólar no nosso mercado e a inverteu) e sem estes obstáculos poderia então depreciar-se mais expressivamente, visto que o país não tem problemas na questão cambial.
Contudo, o movimento na Bovespa precisa ser visto com sensatez e precaução, já que o novo cenário não sugere que a atratividade do país seja readquirida com os investidores estrangeiros, e o desempenho da economia interna ainda não conhece bem os efeitos negativos da redução dos programas assistenciais, sendo o cenário prospectivo diferente do americano. Desta forma não há homogeneidade no desempenho das ações, preponderando a Petrobras (SA:PETR4) e ligadas a outras commodities.
As bolsas americanas demonstram postura mais condizente com o ambiente interno do país por mudanças em perspectiva no país, não parecendo considerar ainda eventual transição com perturbações e judicialização, que poderiam gerar intranquilidade ao mercado.
À margem da mudança no cenário político e do mercado financeiro global, é inegável o impacto altamente favorável dos avanços no campo das vacinas com a Pfizer anunciando a eficácia de 90% do seu produto e a Rússia afirmando que a sua supera os 90%, e estes fatos acentuam as esperanças de retomada sustentável da atividade econômica global mais homogênea, gerando efetivo otimismo.