A falta de uma melhor interpretação sobre a relação causa-efeito da recente decisão monocrática do Ministro Fachin do STF, que parecia excluir o ex-Ministro e Juiz Sergio Moro do julgamento por suspeição, e a concomitância da decisão do próprio STF pautando este processo de suspeição para julgamento imediato, deixa evidente que pode haver mais interesse político nestes comportamentos aparentemente conflituosos do que a busca da justiça em si.
Na realidade as decisões sugerem interpretações capciosas e muito mais com conotação política, uma bastante tardia ante os fatos e outra não desejando perder o oportunismo de atender os interesses políticos e fazer a abrangência das decisões maior.
Este imbróglio proporciona, que dentro da instabilidade promovida no mercado financeiro, ocorram movimentos com reações atípicas mais “emocionais do que racionais”, volatilidade e ausência de tendências face à imprevisibilidade das perspectivas em torno do fato.
Se a decisão do Ministro Fachin reconduziu à elegibilidade o ex-Presidente Lula, ao anular os atos antecedentes não vinculados à Petrobras (SA:PETR4), em tese permitiu o entendimento de que excluídos os processos bases do processo de suspeição contra Sergio Moro finalizava também o mesmo. Todavia, o não entendimento por parte do STF deste entendimento criou o contraditório e pontuou de forma evidente que há um objetivo político para ampliar os “perdões” aos políticos envolvidos em processos na Lava Jato e ao mesmo tempo inviabilizar uma eventual candidatura do ex-Ministro e Juiz Sergio Moro à Presidência, como candidato do centro, já que os extremos seriam ocupados pelo ex-Presidente Lula e o atual Presidente Bolsonaro.
Tudo isto são elucubrações em torno dos fatos, e, a rigor, ninguém em sã consciência consegue prognosticar o momento futuro, mas a sensibilidade sugere que seja tenso e incerto.
Dentro da teoria de que “tudo acontece e ninguém sabe exatamente o por quê”, o mercado financeiro arrefeceu seu ímpeto altista, sem que tenha havido intervenção do BC, com base no início do julgamento do ex-Ministro e Juiz Sérgio Moro, mas após uma reação mais intensa de ajuste dos movimentos antecedentes, embora tenha o mantido o ajuste perdeu intensidade.
Estes momentos são muito propícios a intensificação das operações de “day trade”, ambiente próprio para investidores mais experientes e onde incautos e novatos podem perder muitos recursos.
Mas o fato mais relevante e negativo é que esta cena política neutraliza todos os demais problemas imediatos e expressivos que o país enfrenta neste momento.
A crise da pandemia é devastadora e fortemente contracionista da atividade econômica, a PEC emergencial é efetivamente urgente para viabilizar a retomada do programa assistencial, as reformas tributária e administrativa são fundamentais e as privatizações absolutamente necessárias, mas correm o risco de passar para a linha secundária subtraídas pelo clima político, que já envolvia procedimentos de urgência pelo Congresso tentando blindar seus integrantes judicialmente e agora se empenha para condenar o ex-Ministro e Juiz no processo de suspeição para estender os “benefícios”, além do ex-Presidente Lula.
O mercado financeiro catalisa todo este ambiente nefasto e desagregador e, inegavelmente, tem a percepção dos danos no cenário internacional, onde o CDS Brazil para 5 anos já atingiu 217,3 pontos, elevado considerando que o país tem reservas cambiais elevadas e é credor líquido.
Pois bem, qual é a tendência? A rigor não há fundamentos para que se possa defini-los assertivamente, ficando o comportamento do mercado condicionado aos fatos sequentes, mas de toda forma a ocorrência é desgastante e pode afastar o investidor estrangeiro, que já tem motivação para tanto com a elevação do juro dos Treasuries americanos causada pelos sinais inflacionários decorrentes do aporte de grandes somas pelo governo americano para soerguimento de sua economia.
O dólar pode ir a R$ 6,00? Não é descartável esta possibilidade na eventualidade do acirramento político em torno dos assuntos acometidos ao STF. Sustentável? Acreditamos que não, será mais emocional do que racional e fundamentado.
Mas, a realidade é impositiva para que o COPOM promova elevação severa à taxa SELIC, quem sabe até um 0,75%, que equacionaria melhor o equilíbrio juro vs câmbio, atenuando em parte a pressão altista.
A elevação do juro é o antídoto correto e muito mais eficaz do que o BC tentar conter as pressões altistas com venda de novos contratos de swaps no mercado futuro.
Agir para conter a elevação exacerbada do preço da moeda americana, a despeito da tendência global, mas na parte que decorre dos nossos desajustes mais visíveis é imperativo, pois o grau de contaminação do preço elevado por toda economia é desastroso e explosivo para a inflação brasileira.
Para a Bovespa é preciso observar o comportamento do investidor estrangeiro que tem grande repudio aos sinais envolvendo a corrupção e questionamentos envolvendo tolerância com a mesma. Ficam preservados os papéis ligados às commodities muito favorecidos pelo dólar elevado.
Tudo é muito prematuro, quaisquer conclusões certamente serão inconsistentes, é preciso dar um tempo para que “a poeira baixe”, mas o fato é que a eleição para 2022 está no radar de forma intensa.
E os institutos de pesquisa passarão a ganhar mais notoriedade do que os dados do caos fiscal e da pandemia.