Fosse antever um movimento razoável para os mercados nesta quarta-feira, no que você apostaria?
Tudo mais constante, eu apostaria em alta da Bolsa e queda do dólar.
Por quais razões?
Primeiro, pois há um elemento de fluxo que não pode ser ignorado. Após o recorde histórico de cotação do dólar, por exemplo, é de se esperar que aqueles que ganharam com isso coloquem o lucro no bolso, exercendo pressão sobre as cotações.
A recíproca é válida: nos casos em que há forte retração no preço de algum ativo, é natural esperar um repique posterior, ainda que pontual, de investidores interpretando a queda como oportunidade.
Veja bem: isso não quer dizer que há uma inversão na tendência. Fluxo define movimentos pontuais. Fundamentos definem tendências.
Do lado dos fundamentos, no entanto, também temos nesta quarta-feira um motivo para apostar na alta da Bolsa e na queda do dólar...
A votação da pauta bomba no Congresso trouxe vitória, ainda que parcial, ao governo Dilma, com a preservação dos vetos da presidente. Ainda falta apreciar questão do reajuste dos servidores do Judiciário, com impacto relevante sobre as contas...
...mas, à primeira vista, parece que a estratégia do governo entregar ministérios relevantes ao PMDB em troca de apoio rende alguns frutos.
Alta da Bolsa e queda do dólar?
Pelo contrário. Tem uma pedra no meio do caminho. E ela é do tamanho da China.
Meio trilhão de dívida
Antes de eu entregar o M5M de mão beijada para o Rodolfo, no primeiro semestre deste ano, vinha falando que, virtualmente, a dívida da Petrobras (SA:PETR4) era de meio trilhão de reais.
Hoje, com o dólar acima de R$ 4, as manchetes por aí chegam à brilhante constatação: “o endividamento da estatal foi acrescido em 100 bilhões de reais, o que faz o total chegar a assustadores 513 bilhões de reais, ou 9,4% do PIB do Brasil. Ao se confirmar essas estimativas, o endividamento acumulará um aumento de 723% desde que Dilma chegou ao poder".
Ontem mesmo conversamos que a Petro está em uma sinuca de bico danada...
Das duas uma: ou você investe menos e fatalmente produz menos (gerando menos caixa), ou investe mais e produz mais, mas antecipa o colapso da estrutura de capitais da empresa, altamente alavancada.
O que resta?
1) A empresa queima caixa consistentemente. Portanto, a realidade de seus resultados hoje é incapaz de resolver o problema.
2) Ela pode emitir mais dívida? Pode, mas será dívida cara (classificação de risco elevada) e provavelmente em moeda estrangeira. Além disso, dívida não se paga com mais dívida.
3) Ela pode emitir mais ações? That’s a bingo! Seria emitir ações a preço de banana (entre mínimas de anos e anos). E, com o dólar a R$ 4, seria entregar a companhia de mão beijada para o estrangeiro capitalista opressor.
Talvez (3) seja a única alterativa que resta para resolver a dívida de meio trilhão da Petro. Se ela fará ou não aumento de capital, aí são outros quinhentos...
Não podemos comparar fluxo com estoque
A rigor, não há imprecisão nas aspas (itálico) acima, retiradas do Estadão.
Mas precisamos tomar muito cuidado com os comparativos...
PIB é fluxo. Dívida é estoque.
Veja o caso da Vale, por exemplo...
A mineradora tem aproximadamente 90% de suas receitas em dólares, para cerca de 65% de seus custos em reais. Portanto, do lado operacional sua exposição líquida é positiva em dólares. Isso é fluxo.
No entanto, é batata Vale ter prejuízo contábil em resultados por conta de dólar forte... Afinal, parte de sua dívida é em dólares.
Vale pode não estar pagando a dívida naquele momento (fluxo ou serviço da dívida), mas está remarcando o montante total (estoque) dessa dívida à cotação da moeda naquele momento.
Outro cuidado (derivado do causo acima)
Lucro é medida contábil. Análise mais precisa da realidade da empresa se dá por avaliação de seus fluxos de caixa.
Em situações de estresse, recomendo comparar geração de caixa operacional (+) com investimentos (-) e resultado financeiro (geralmente negativo em situações de estresse).
Petrobras, por exemplo, deu lucro no último resultado, e as ações reagiram bem. Mas simplesmente não sobra nada de fluxo para pagar as contas: a geração de caixa operacional (R$ 21,5 B) não foi suficiente para fazer frente aos investimentos (de R$ 17,8 B) mais o resultado financeiro (negativo em R$ 5,6 bilhões), que, juntos somam R$ 23,4 bilhões.
Retrato do dia
Aqui, a renda fixa consegue ser mais volátil do que renda variável.
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