O descompasso nos parâmetros da estratégia do “câmbio alto juro baixo” incentivado pelo Ministério da Economia e fomentado pelo BC apresenta a “sua fatura” e não é pequena e estará “em cartaz” ao longo das próximas semanas e meses na economia brasileira.
Inflação elevadíssima sinalizada pelo IGP-M, mas que “invadiu” os preços dos alimentos no varejo, especialmente os exportáveis contaminados pelos preços externos aquecidos e valorizados pelo câmbio alto no país, e o que se observa é uma visão absolutamente falha por parte do COPOM desta situação perversa que “não observa esta realidade” e valida a inflação pelo IPCA absolutamente incompatível com a realidade brasileira, e simplesmente cita o fato como “temporário”.
O desajuste nos preços relativos da economia está grandioso, seja pelo aviltamento dos preços dos produtos, seja pela sutil prática de redução já perceptível do conteúdo dos produtos, sendo prática contumaz inclusive não se pode descartar o retorno do kilo de 900 grs e redução de embalagens, típicos do Brasil.
O Brasil que ainda não se desvencilhou da pandemia do coronavírus, que insinua uma 2ª rodada no mundo a partir da Europa, permanece com a claudicante economia que não encontra condições de retomar suas atividades normais e, a bem da verdade, nem bem sabe se isto será possível e qual será o novo formato como legado das experiências obtidas ao longo dos últimos 6 meses da pandemia do coronavírus.
Desemprego em crescimento persistente e adicionalmente queda da renda, seja pelo impacto inflacionário nos alimentos e elevação dos serviços atrelados ao IGP-M, seja pelo impacto cessante da redução dos programas assistenciais do governo, criam perspectivas altamente desconfortáveis e, seguramente, não ancoram os sinais que os economistas mais tolerantes e o governo vêm magnificando como recuperatórios da atividade econômica.
O juro baixo está conduzindo o BC/COPOM a um “corner” e dificultará a rolagem da DP que será pressionada pela reivindicação por juro maior, ocorrendo o contraditório de que o mercado financeiro que tanto reivindica a queda da SELIC será o agente da pressão de juro maior para rolagem da dívida, visto que, ainda que os prazos da DP continuem sendo reduzidos pela autoridade dada esta percepção, o juro de longo prazo já está migrando forte para o curto/médio prazo como consequência da retomada voraz da inflação.
Com o juro totalmente fora do ponto, a vítima é o dólar que acaba por repercutir a pressão num ambiente em que o país não tem nenhum risco cambial, muito pelo contrário, tem risco fiscal que pressiona o juro que precisará ser equacionado para que o preço do dólar recue a parâmetros bem acomodados.
Erroneamente, na linha com outras emergentes, atribui-se “por mera conveniência” a simetria de que há “rejeição ao risco”, mas no caso brasileiro a causa é interna com o juro baixo e rolagem da DP, visto que não há problema de rejeição externa visto que o que havia de substantivo de investimentos no mercado financeiro já deixou o país e de há muito o Brasil perdeu atratividade aos investidores estrangeiros.
O “alarido, a repercussão” embora se dê no entorno do preço do dólar é tão somente repercussão do desalinhamento do juro, já que na moeda estrangeira não há pressão de demanda e o país tem posição de absoluto conforto com reservas cambiais soberbas e mercado de derivativos sofisticado.
Se nada for feito, o IGP-M, repercutindo o dólar alto fora de controle como consequência do juro irreal, impactará na inflação no atacado que desaguará no “pass-through” para o varejo, e como todos sabem mas o COPOM reluta em reconhecer, não há movimento transitório nesta mudança, no Brasil os preços sobem rapidamente e relutam em recrudescer, em regra não recrudescem se perpetuam.
Inquestionavelmente, a política monetária e cambial está num momento bastante errático e num ambiente de risco fiscal crescente é bastante factível que haja sinais efetivos de dificuldades do governo em rolar a DP.
Temos enfaticamente colocado que a adequação do “câmbio alto e juro baixo” em parâmetros mais equânimes com a realidade brasileira, o que implicaria em que o câmbio alto não fosse tão alto e o juro baixo não fosse tão baixo, trariam relevantes benefícios ao país neste momento, tais como despressurizar a inflação atualmente com viés crescente e restabelecer atratividade ao país para os investidores estrangeiros em renda fixa, que assim ajudariam o financiamento da DP do país.
A inflação é tudo que o país não poderia desejar neste momento de esforço para a retomada da atividade econômica, que já vinha lerda e claudicante antes da crise do coronavírus, mas há notórios sinais de “descuido” na percepção desta realidade que já está instalada no cotidiano do país, e isto é preocupante visto que inflação é algo ainda perene na memória brasileira e com fácil percussão nos reajustes em cadeia nos preços.
E, na margem, não pode ser descartada a ocorrência de uma segunda rodada da pandemia do coronavírus, o que seria altamente agravante ao “status quo” do país, até pela forma desordenada que o país age no entorno desta crise, com inúmeros conflitos de diretrizes.
Neste cenário de forte desajuste não há tendências, mas certamente poderemos ter comportamentos no dólar e na Bovespa preocupantes e o governo poderá ter efetivo problema com rolagem da DP, ainda que reduza como vem fazendo os prazos de vencimento da mesma, para tentar contornar as pressões do mercado por juros.