Incontestavelmente, há inúmeros fatores além do Coronavírus afetando o comportamento do câmbio no Brasil.
O horizonte em perspectiva sofre mutações em razão das consequências dos danos e retrocessos causados e que poderão ser ampliados em razão do novo vírus e suas repercussões na economia mundial, sendo impossível dar-lhes dimensão no momento, mas seguramente deverão se tornar efetivos.
Este “temor” promove movimentos defensivos e alteram fluxos de comércio e de capitais na economia mundial, e, com isto podem ter repercussões nas projeções de crescimento econômico.
Mas, é o caso de interrogar-se se o fato por si só pode ser responsável pela exacerbação de algo como 5% na formação do preço da moeda americana frente ao dólar no nosso mercado, colocando-a como das mais desvalorizadas do mundo?
Há coerência para um país que detém expressivo volume de reservas cambiais em estoque e instrumentos operacionais adequados para conter pressões especulativas?
Seguramente não!!
O real “paga um preço” por ser extremamente líquido, mas inequivocamente tudo indica que o comportamento da moeda nacional está atendendo o anseio do Banco Central do Brasil de “câmbio alto e juro baixo”, como que preparando o momento para um novo corte na taxa SELIC.
Então, é razoável admitir-se que o fato está em linha com os interesses do BC, até porque desde 26 de dezembro não realizou intervenções “novas” no mercado de câmbio, salvo as rotineiras de manutenção do “status quo” com a rolagem pontual de posições vincendas, o que é profilático e não intervencionista?
No bojo dos dois fatos impulsionadores da elevação do preço da moeda americana e como sói acontecer, ocorre a presença do especulador que se sente com total liberdade ancorado num fato relevante e na inércia da autoridade monetária.
O contexto fica então muito complexo, do tipo “tudo acontece, mas ninguém sabe exatamente por quê efetivamente”, sendo todos os pressupostos válidos.
Então não há tendências sustentáveis, mas o risco efetivo do surgimento do “vírus da inflação” contaminando os preços relativos da economia, o que parece vir sendo menosprezado neste momento.
O fato é que, a despeito dos inúmeros vetores que estão impactando na formação da taxa cambial seria racional que o BC tivesse feito uma intervenção clássica com oferta de swaps cambiais tradicionais “novos” no sentido de conter a espiral de apreciação do dólar frente ao real de cujo especulativo, que ocorre a partir do mercado futuro, já que o fluxo cambial não evidencia pressão de demanda no mercado à vista.
No nosso entender a ausência da autoridade monetária no momento chama à atenção, e a preocupação é de que no futuro próximo poderão se materializar fatores de grande impacto na formação do preço da moeda americana, visto que o desempenho da balança comercial este ano poderá ser, outra vez, frustrante, segundo a AEB algo somente em torno de US$ 26,0 Bi, após US$ 40,0 Bi frustrante em 2019 quando se projetava US$ 50,0 Bi, e mais o contexto internacional sugere que poderá haver relevante retardamento no fluxo de recursos externos para o país, o que levaria o fluxo cambial deste ano a se repetir negativo.
Dólar alto não promove exportação, janeiro nos mostrou isto embora tenha havido queda na exportação de petróleo e plataformas de petróleo, mas ainda assim seria muito discretamente positiva. O custo Brasil e a baixa produtividade tem peso muito maior.
Entendemos temerária a desconsideração com o possível ressurgimento do “vírus da inflação”, pois poderá surpreender e impor reversão na política de juro invertendo a tendência da curva.
O fato é que entendemos que a autoridade monetária, o BC, deveria ter uma atuação mais efetiva nas ações corretivas dos desvios que ocorrem na formação do preço do câmbio, além daqueles de fácil percepção, para evitar que tendências negativas e diversificadas venham a ganhar vitalidade dificultando as correções.
Certamente o mundo, a partir da China, encontrará solução para equacionar a problemática da CORONAVIRUS, mas se houver descaso com os seus impactos na economia no momento, os males poderão perdurar por um longo tempo, em especial nos países emergentes.