Neste momento existem vários fatores que estão a ter influência na composição na cotação do dólar.
A questão política tem tido um relevo importante, mas existem outros fatores como o excesso de swaps tradicionais – que têm sido compensados pelos swaps reversos com uma atuação forte do BC, que deverá continuar em menor grau e pela diminuição da oferta de swaps tradicionais.
O BC tenta assim segurar a cotação do dólar num patamar não inferior a R$3,50 e aproveita para diminuir a sua exposição nos swaps tradicionais, procurando aumentar as reservas líquidas cambiais e diminuir os custos das suas operações com os swaps.
Não divirjo das opiniões que tenho expressado nos meus artigos de que o dólar neste ano deveria estar entre os R$ 4,00 e R$ 4,25 e em 2017 entre os R$ 3,50 e R$ 3,75.
Nunca defendi que o dólar deveria estar muito acima dos R$ 4,00 e muito menos na casa dos R$ 5,00, nunca vi fundamentos para isso a não ser por motivos especulativos.
Mas temos que nos confrontar que neste momento, contra qualquer expectativa anterior que o dólar se encontra no patamar de R$ 3,50 e R$ 3,75, a qual não vejo motivo de preocupação imediata e até vejo como benéfico para a economia, mas teremos sempre que estar alertas.
Aqui neste contexto o que mais interessa saber, é qual a repercussão da cotação do dólar nesta banda.
Em termos de exportações e importações, ou seja, sobre o impacto na balança comercial ainda é cedo para se tirar alguma conclusão efetiva, mas posso é fazer algumas considerações pessoais.
Não acho que o impacto será tão negativo nas exportações e seu crescimento está mais condicionado pela recuperação de mercados em que o Brasil esteve afastado pela cotação elevada do real no passado.
O preço das commodities é sem dúvida um fator de elevada relevância uma vez que o Brasil é proxy em commodities.
Esta cotação traz algum alivio a pressão inflacionária que agora começa a mostrar com mais consistência uma tendência inercial de descida, podendo chegar a inflação no final de 2016 na ordem do 7%.
A descida da inflação neste momento será mais por via da contração do mercado, da diminuição do rendimento disponível e pela falta de confiança, do que pelo câmbio e a da taxa de juros Selic.
Por esses fatos, é previsível que o BC comece a reduzir a taxa Selic de forma gradual a partir do segundo semestre, mas não é de descartar que possa ser antes, até porque o mercado já contabiliza essa diminuição com os juros dos títulos da dívida em queda atualmente abaixo dos 13 pp no mercado.
Em relação a saída de capitais, é um fato que esta cotação do dólar possa ter algum impacto, mas não acho que seja o motivo relevante, estas saídas já eram previsíveis aquando da perda dos ratings de bom pagador pelas três maiores agências de crédito, S&P, Moody’s e a Fitch.
Existe também o fato de o momento poder estar mais favorável a liquidação de empréstimos contraídos em dólar e a sua não rolagem, levando a uma maior saída de divisas.
Mas estes movimentos deverão ser transitórios e não deverão se perpetuar no tempo, que também podem vir a ser compensados pelos saldos da balança comercial e pelo IED.
O fluxo cambial encontrava-se negativo em torno de US$ 10 bilhões até ao início de abril, veremos como fechará este final de mês e como será o seu comportamento nos meses seguintes e qual será a sua tendência, que no meu entender será de melhoria e fechará o ano de 2016 positivo.
Em relação às importações, essa banda de R$ 3,50 e R$ 3,75 não terá forte impacto de crescimento das mesmas, se bem que dependendo do tipo de bens importados poderá até ser benéfico para a economia, se for em bens destinados a investimento e não só ao consumo.
Mas por outro lado a importação de determinados bens de consumo pode fazer com que a inflação diminua com maior força.
Não devemos em meu entender usar somente o problema das contas públicas e a recessão como justificação de determinada cotação do dólar, ou pelo menos devemos relativizar esse motivo.
Com certeza o problema das contas públicas e da recessão não se resolve pelo câmbio, pode ajudar, mas essa ajuda é de pequena expressão.
As contas públicas e a recessão, com todos os efeitos negativos que lhe são associados, não será resolvido no curto prazo e sem custos adicionais, como o corte de despesa e porventura aumento de impostos.
A mudança política com uma equipe ministerial de “peso” reconhecida pelo mercado interno e externo pode ajudar na credibilidade e na confiança já no curto prazo, mas seu efeito não deverá ser sentido no imediato, não deverá ser por isso que o Investimento estrangeiro venha em grande abundancia no imediato, mas no médio e longo prazo desde que a política econômica seja a mais acertada terá um forte contributo.
Visto isto não vejo que a banda cambial entre os R$ 3,50 e R$ 3,75 neste momento seja um fator desajustado, apesar de estar a espera que acontecesse em 2017, mas a sua antecipação poderá trazer fatores benéficos a nossa economia, e até atrevo-me a dizer que em determinadas circunstancias, com a perspectiva de melhora das contas públicas e a diminuição da recepção no médio e longo prazo essa banda pode até ser conveniente que seja mais baixa.
Vamos ver!!!