O café arábica futuro fechou o mês de maio em alta, pela primeira vez no último quadrimestre. Mas será que a liquidação iniciada no fim de janeiro já acabou?
É o que sugere o gráfico da commodity, ainda que restem dúvidas quanto à demanda europeia, em meio ao prolongamento da guerra na Ucrânia e ao suporte de compras na China no curto prazo, enquanto a gigante importadora de todas as matérias-primas luta para encerrar seus recentes episódios de Covid.
Consumido por mais de dois terços do mercado, o arábica é o grão premium preferido de renomadas redes de cafeterias, como Starbucks (NASDAQ:SBUX) e Restaurant Brands (NYSE:QSR), da Tim Hortons, além da Dunkin Donuts. A outra variante do café, o robusta, é cultivado principalmente no Vietnã e é a escolha preferida dos fabricantes de cafés instantâneos.
O contrato mais negociado do arábica na ICE Futures dos EUA fechou o mês de maio a US$ 2,3185 por libra-peso, uma alta de 4,4% no mês. Nos três meses anteriores, registrava uma desvalorização acumulada de 5,5% desde o fechamento de janeiro a US$ 2,3510.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
O último grande mês do arábica foi novembro, quando subiu 14,4% e atingiu a máxima de 10 anos a US$ 2,4755. Depois disso, o grão ainda conseguiu continuar avançando, até alcançar um novo pico da década, a US$ 2,6045, em fevereiro, antes do aumento da volatilidade e da liquidação que durou três meses.
Mas os aspectos técnicos do arábica agora mostram que o repique de maio ainda tem espaço para se prolongar.
“O gráfico diário do arábica futuro está forte, com os preços sendo negociados acima das médias móveis simples de 100 e 200 dias”, afirmou o analista técnico Sunil Kumar Dixit, que disse ainda:
“A superação do nível de US$ 2,40 pode ajudar o café a testar US$ 2,50-2,60 rapidamente”.
Mas Dixit também alertou que as condições sobrecompradas no estocástico do arábica poderiam resultar em uma consolidação na faixa de US$ 2,30 e 2,20.
“Os preços precisam se firmar acima de US$ 2,11 para continuarem o movimento ascendente”, explicou Dixit, acrescentando:
“Uma fraqueza abaixo de US$ 2,04 pode fazer o café testar as regiões de suporte a US$ 1,98-1,90”.
Da perspectiva dos fundamentos, o café insere-se num contexto favorável, segundo analistas que acompanham o grão.
“A projeção de condições secas no Brasil na próxima semana desencadeou a cobertura de posições vendidas no mercado futuro do café”, escreveu o analista Rich Asplund em uma publicação feita na quinta-feira, quando citou os dados da Somar Meteorologia, sugerindo uma chance limitada de precipitação nas regiões de cultivo no Brasil nesta semana.
De acordo com a Somar Meteorologia, as principais plantações no estado de Minas Gerais receberam 11,5 mm de chuvas na última quinzena, ou 52% da média histórica. Minas responde por cerca de 30% da produção de arábica no Brasil.
A valorização do real brasileiro também favorece a alta do grão, após a moeda disparar para a máxima de um mês contra o dólar recentemente. A valorização cambial desincentiva a exportação de café por parte dos produtores do país.
A Federação de Cafeicultores da Colômbia informou, em 5 de maio, que as exportações do país em abril haviam caído 18% ano a ano, para 845.000 sacas, o que acabou dando suporte ao arábica, na medida em que a Colômbia é a segunda maior produtora do grão.
Sinais de menor oferta mundial de café favorecem a alta dos preços, depois que a Organização Internacional do Café reportou, em 2 de maio, que as exportações globais do produto entre outubro e março de 2022 haviam recuado 0,1% ano a ano, para 66,25 milhões de sacas.
O Rabobank equilibrou as projeções de alta do mercado, ao afirmar, na semana passada, que a safra global de 2022/23 reverteria para um superávit de 1,7 milhão de sacas, em comparação com o déficit de 5,1 milhões de sacas em 2022/22.
A expectativa do banco é que a produção brasileira de 2022/23 salte 14% ano a ano, para 64,5 milhões de sacas. Além disso, a guerra na Ucrânia e os recentes bloqueios sanitários na China contra a Covid alimentavam a expectativa de menor demanda de café no mundo, segundo a instituição.
Jack Scoville, analista-chefe de mercados agrícolas do Price Futures Group, de Chicago, concordou com a projeção do Rabobank sobre o impacto da Ucrânia e da China.
“A guerra na Ucrânia ressalta a expectativa de menor demanda na Europa de modo geral”, explicou Scoville, acrescentando ainda:
“O consumo na China deve ser menor, em razão da sua guerra contra a Covid”.
A China definiu que sua meta de expansão econômica seria de 5,5% neste ano, nível mais baixo em três décadas, após os dois meses de bloqueios sanitários em Xangai, que foram encerrados nesta semana. O premiê Li Keqiang disse a autoridades, na semana passada, que a China poderia enfrentar dificuldades para registrar um crescimento positivo no atual trimestre.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.