Se alguém dissesse aos produtores de café arábica no Brasil que seus grãos de café subiriam mais que o petróleo em 2021, provavelmente eles dariam risada e voltariam para cuidar da sua fazenda.
Acredite ou não, é justamente isso o que está acontecendo com o arábica.
Na quarta-feira, o contrato futuro mais ativo desse café premium acumulava uma alta de 66,7% no ano em Nova York, superando o rali de 65,6% do petróleo americano.
Foi longa a jornada do arábica até aqui, que atingiu as mínimas de 15 anos de 86,35 centavos de dólar por libra-peso no fim de abril de 2019, uma memória um tanto distante em comparação com os preços atuais, que giram em torno da máxima de sete anos de quase US$ 2,15, atingida em julho deste ano.
Além do seu forte início de outubro, o arábica disparou em seis dos últimos nove meses, desvalorizando-se apenas em janeiro, março e junho.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
Desde o excesso de chuvas na Colômbia à menor safra no Brasil, o impacto do clima e a baixa produtividade no campo, além de outras questões decorrentes da pandemia, acabaram dificultando a busca de torrefadores por grãos de qualidade e de menor custo dessa variante.
A restrição de oferta gerou bons resultados tanto para quem estava comprado quanto para os produtores de arábica, que há anos recebiam muito pouco por seus grãos.
Mas esse rali está afetando as principais redes de cafeterias do mundo, como Starbucks (NASDAQ:SBUX) (SA:SBUB34), Costa Coffee e Tim Hortons, marca da Restaurant Brands International (NYSE:QSR), que dependem do arábica e têm resistido a repassar o aumento de custos para seus clientes.
Jack Scoville, analista-chefe de mercados agrícolas o Price Futures Group, Chicago, disse:
“A falta de café e de meios logísticos para movimentar os grãos disponíveis ainda está dando suporte ao mercado futuro do arábica. Em Nova York, sobretudo, ele encontrou suporte na falta de café disponível no Brasil após eventos climáticos extremos”.
Em relação ao clima, Scoville afirmou que as chuvas ainda eram irregulares, com todas as áreas recebendo chuvas por uma ou duas semanas para a floração. “O clima tem sido seco no Brasil, mas houve uma grande geada no país”, complementou.
E essa restrição de oferta não se restringe ao arábica.
O robusta, café favorito na Ásia, cultivado em grande escala no Vietnã e negociado em Londres, está enfrentando praticamente os mesmos desafios logísticos e de cultivo. Os preços do robusta subiram 56% no ano.
“Londres está tendo problemas para conseguir café do Vietnã, devido à escassez de contêineres para transportar o café para fora do país, que sofre com o ressurgimento da epidemia de Covid", afirmou Scoville.
“Acorde e sinta o aroma!”
De volta ao arábica, será que seu forte rali vai continuar?
O analista técnico indiano Sunil Kumar, contribuidor regular do Investing.com, afirma que é possível ver o arábica atingir a máxima de US$2,86, ou seja, 33% acima dos níveis atuais, se mantiver a atual trajetória.
“O mercado retestou a máxima de julho de US$2,15, apesar da condição extremamente sobrecomprada do IFR no gráfico mensal”, explicou Dixit.
“O arábica vem subindo em linha com o padrão altista de engolfo estabelecido pelo candle de julho, que pode ser confirmado por um fechamento subsequente acima dessa máxima, pavimentando o caminho para US$2,25 – 2,35.”
“O padrão, se confirmado, pode ter como alvo a cotação de US$2,86 no longo prazo”.
Mas Dixit também alertou para a possibilidade de uma consolidação, com o mercado andando de lado.
“Havendo um rompimento para baixo da média móvel exponencial de 5 dias de US$2,04 e da de 5 semanas a US$2,02, teríamos os primeiros sinais de uma exaustão, com alvo na faixa intermediária da banda de Bollinger a US$1,94 e da MME de 50 dias a US$1,88.”
“O impulso altista, no entanto, é um pouco mais forte para que isso aconteça, de forma que devemos continuar vendo mais rompimentos para cima do que para baixo. Como mostram os aspectos técnicos e fundamentalistas, este é o ano do arábica. Acorde e sinta o aroma de café!".
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.