A semana começou animada com o Set-23 subindo +845 pontos na segunda-feira. Os fundos + especuladores sofreram “stops” e recompraram +12.826 lotes (terminando o período ainda “vendidos” em -9.831 lotes – segundo último relatório do CFTC*). Mesmo com a queda na sexta-feira, o café ainda terminou a semana com ganho de +3,17% (máxima / mínima / fechamento respectivamente @ 172,75 / 156,10 / 164,40 centavos de dólar por libra-peso).
No curto prazo o Set-23 realizou o movimento esperado, buscando os +174 centavos de dólar por libra-peso. Porém não conseguiu terminar a semana acima da média móvel dos +50 dias (@ 170,70 centavos de dólar por libra-peso). O Set-23 “se segurou” nos suportes importantes das médias móveis dos +9/+17 dias (@ 165,00 centavos de dólar por libra-peso).
Próximas resistências @ +170,70 / +175,00 / +188,90 centavos de dólar por libra-peso. E próximos suportes @ +165 / + 160 / +155 centavos de dólar por libra-peso.
Mais um ano terminando e mais uma vez podemos afirmar que “o mercado é soberano”! As oportunidades que o mercado nos apresentam precisam e devem ser aproveitadas. E os paradigmas também precisam ser quebrados (com relação ao estudo da Fiesp* apresentado semana passada referente ao Brasil vir a ser um importante polo importador/exportador de produto com valor agregado)!
Como já demonstrei durante o ano o mercado “deu” diversas oportunidades para o produtor realizar o hedge para a safra 23/24 garantindo um “piso / teto” entre +1.500 /+1.800 R$/saca. Infelizmente essa oportunidade passou deixando muitas saudades!
O produtor “gritou, esperneou”. Alegou aumento nos custos de produção, nos insumos, nos fertilizantes, na falta da mão de obra, na “florada que não vingou”, nos problemas hídricos, nos prejuízos causados pelas geadas de 2021, pela seca… Mas o “mercado” foi “soberano” e ainda não acreditou/acredita no produtor brasileiro e nos números e projeções oficiais de safra da Conab*!
Em 2022 o Set-22 chegou a negociar @ +256 centavos de dólar por libra-peso e o Set-23 @ +240 centavos de dólar por libra-peso. No mercado interno o café tipo arábica chegou a negociar @ +1.650 R$/saca e café tipo robusta @ +800 R$/saca.
Após o “rallie de curto prazo” os mercados derreteram (“curto prazo” não! Pois o “mercado” trabalhou acima dos +1.400/+1.500 R$/saca para o café tipo arábica e nos +800 R$/saca para o café tipo robusta por 3-4 meses).
O Set-23 chegou a negociar na mínima do ano @ 155,50 centavos de dólar por libra-peso no dia 21 de novembro (uma queda de -35%). E os cafés tipo arábica e robusta voltaram a negociar @ +920 R$/saca e @ +550 R$/saca respectivamente (uma queda entre -40% e -35%).
Na primeira quinzena de dez-22 o mercado interno voltou a subir com o café tipo arábica voltando a negociar entre +1.050/+1.150 R$/saca e o café tipo robusta novamente nos +800 R$/saca!
Ficou claro também que os números de “oferta e demanda” precisam ser claros e transparentes para o mercado. Trabalhar com números / projeções furadas do “estoque de passagem / consumo interno / tamanho da safra” apenas prejudicam o produtor e o setor como um todo. Então, empresas que investem pesado nas suas equipes de pesquisa/análise de safra conseguem resultados expressivos. E quem trabalha com os números corretos pode ganhar muito, muito dinheiro!
Chegamos a ver o spread Dez-22/Março-23 trabalhar “invertido” com quase -2.000 pontos com a expectativa do Brasil “não ter café” para exportar durante o segundo semestre de 2022! Para nossa surpresa, e de muitos, o Brasil exportou na média mensal +3.000.000 sacas! E o spread “invertido” voltou para o “carrego normal”! E o Brasil “cuspiu” café, embarcando mais de +19,00 milhões de sacas nos últimos 6 meses, bem acima das expectativas!
+2.000 pontos representam aproximadamente +26 US$/saca, ou aproximadamente +135 R$/saca. Para um “pequeno fundo” especulando em +100.000 sacas (aproximadamente +400 lotes em NY), e estando na posição certa, ganhou aproximadamente +2.600.000 US$! Agora, imaginem um “grande fundo”, operando +1.000.000 sacas (aproximadamente +4.000 lotes equivalente em NY). Teve um lucro potencial em +26.000.000 US$! Em 2022 o mercado assistiu a “transferência de riqueza” entre grandes agentes do mercado, com alguns ficando pelo caminho…
Em 2022 tivemos o início da guerra entre Rússia x Ucrânia. Todos aguardavam uma guerra “rápida”. Porém, em breve já estará completando 1 ano.
Com a guerra as commodities explodiram (tanto petróleo quanto trigo, soja, milho, açúcar e café). A inflação na Europa rompeu os +10% ao ano. Nos Estados Unidos voltou a superar os +7% ao ano. Os bancos centrais foram obrigados a elevar as taxas de juros para níveis “impensáveis”! O risco e a percepção da recessão em 2023 voltaram a tomar conta dos mercados.
Nessa semana os Estados Unidos aumentaram os juros americanos em +50 pontos, terminando o ano entre +4,00/+4,5% ao ano. A previsão para 2023 o mercado já precifica mais um novo aumento na próxima reunião em fevereiro de 2023 (devendo atingir e manter os juros em +5,00% ao ano durante os próximos anos 2023 e 2024).
No Brasil os juros já estão em +13,25% ao ano. Com o novo governo já tomando posse antes mesmo do dia primeiro de janeiro de 2023 e sinalizando a gastança e descontrole fiscal, o mercado já projeta juros acima dos +15% ao ano!
Desta forma, independentemente do tamanho e das projeções “mirabolantes” da próxima safra brasileira 23/24, o momento exige cautela e muito cuidado!
Se o mundo entrar em recessão com novo ciclo de inflação deveremos ter desemprego, aumento nos custos, e reflexo direto no poder de compra do consumidor impactando a demanda. A lei da “oferta e demanda” irá prevalecer. Ou seja, os preços tenderão a cair e se ajustarão a demanda. Lei básica da “economia 101”!
Nessa semana tivemos novamente a publicação de mais 3 previsões para a safra 23/24 brasileira. Como sempre, as discrepâncias entre os números/estimativas continuam incríveis:
Pine Agronegócios: +54,36 milhões de sacas (arábica em +34,07 milhões de sacas e robusta em +20,29 milhões de sacas);
ECOM: +76,6 milhões de sacas (arábica +52,4 milhões de sacas e robusta +24,2 milhões de sacas);
Sincal: entre +40 / +43 milhões de sacas
Spilling the Beans: entre +50 / +56 milhões de sacas
Rabobank: +68,50 milhões de sacas
A Conab* elevou a safra brasileira 22/23 em +500 mil sacas, passando de +50,40 para +50,91 milhões de sacas. Deverá publicar a primeira estimativa para a safra 23/24 em janeiro/fevereiro de 2023.
Na quinta-feira foi publicado uma notícia onde o “repórter” afirmou que os “preços caíram pois existe um “risco abundante” de café nos Estados Unidos. Essa reportagem surgiu quando os estoques nos portos americanos foram publicados pela “Green Coffee Association*” indicando um aumento nos estoques em +70.267 sacas. Ora, com o Brasil exportando na média mensal +3.20 milhões de sacas nos últimos 5 meses, e com o principal destino sendo justamente os Estados Unidos, qual a surpresa?
Para ajudar na explicação do “porque” o mercado fechou a semana caindo -675 pontos, a “justificativa” foi o aumento nos “estoques certificados”. Ora, essa informação e expectativa já está no “mercado” há semanas. Qual a novidade? Todos sabem que existe aproximadamente +500.000 sacas pendentes para recertificação, e esse “estoque certificado” já está aumentando diariamente nos últimos 30 dias.
Qual será o termo que vão usar quando o Brasil exportar “apenas +3.000.000 de sacas em Dez-22 (segundo a projeção da Cecafé*)? “risco iminente para desabestecimento”? Ora, se com um aumento de +70 mil sacas existe o “risco abundante”, então com uma redução nos embarques em -500 mil sacas o “risco de desabastecimento” deveria ser publicado em “letras garrafais”! Infelizmente “cada um publica/escreve o que quer”…
Eu creio que o mercado realizou em função da decisão do aumento dos juros nos Estados Unidos e a aversão ao risco dos grandes fundos + especuladores. Na sexta-feira praticamente “tudo” caiu… Petróleo -2%, gás natural -5%.
2023 será um ano bem complicado, difícil! A safra 23/24 continua uma “bola de cristal”. A demanda global idem!
Como já demonstrado aqui, o “índice estoque x consumo” deverá voltar a trabalhar acima dos +15% já no próximo ano, e aumentando para +18% / + 25% nos próximos 3 anos (dependendo, claro, das próximas safras brasileiras 23/24, 24/25 e 25/26).
Se o Brasil voltar a produzir +55 / + 65 / + 70 milhões de sacas nas próximas 3 safras e o consumo global continuar aumentando em +2% ao ano, então creio que os preços deverão continuar entre os +800/+1.000 R$/saca.
Se o mercado “der novas oportunidades”, protejam-se!
Terminamos o ano com a mesma recomendação para o “produtor “vendido” (e que acredita que terá problemas com sua safra 23/24): aproveite essas quedas / lateralização do mercado para comprar seguro contra eventual quebra de safra (em função das chuvas/doenças/pragas/geadas durante o próximo inverno maio-agosto-23) analisando e comprando opções de compra “call*” ou estruturas “call-spreads*”.
O mercado sempre será soberano!
Este é o último comentário de 2022. Gostaria de agradecer a todos por mais um ano juntos. Pelos “feedbacks”, pela troca de conhecimento e parceria entre nossos leitores/colaboradores.
Desejo a todos um Feliz Natal e um 2023 abençoado a cada um de vocês!
E não se esqueçam do Aniversariante:
“O anjo porém lhes disse: Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Lucas 2:11-12
Voltaremos no primeiro final de semana de fevereiro de 2023.