No começo de setembro, as cotações internas do café arábica ainda operavam perto dos R$ 600/saca de 60 quilos, sustentadas pela alta dos futuros e pela retração vendedora. Porém, os preços internacionais da variedade passaram a recuar fortemente a partir da segunda semana do mês, pressionando os valores no mercado doméstico. Assim, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, fechou a R$ 564,62/saca de 60 kg em setembro, baixa de 2,5% em relação à de agosto. No entanto, frente a setembro/19, os preços ainda apresentam alta de 133,99 Reais por saca, ou 14,4% (valores reais, deflacionados pelo IGP-DI de agosto/20). No front externo, a média de todos os contratos negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 120,67 centavos de dólar por libra-peso, ainda com leve alta de 0,7% frente a agosto, uma vez que os futuros iniciaram o mês em patamares elevados – perto dos 130 centavos de dólar por libra-peso. Entretanto, ao longo de setembro, com a finalização da colheita da safra 2020/21 no Brasil e o consequente aumento da oferta no mercado externo, além de previsões de chuvas no País e a valorização do dólar frente ao Real a partir da segunda quinzena do mês, os futuros registraram forte queda, voltando a patamares próximos dos 110 centavos de dólar por libra-peso. Quanto ao dólar, na média de setembro, fechou a R$ 5,401, queda de 1,1% frente à de agosto.
Em relação aos negócios, seguiram muito calmos. Além da baixa nos preços, o alto volume comercializado da atual safra manteve agentes retraídos. Do lado comprador, muitos estão com os armazéns cheios, devido ao alto volume negociado no físico em julho e agosto e ao recebimento dos negócios fechados em meses anteriores. Já do lado vendedor, produtores estão mais capitalizados neste ano após aproveitarem os bons preços dos últimos meses e negociarem um grande volume da safra 2020/21. Segundo dados levantados juntos aos colaboradores do Cepea, de 52% a 67% da atual temporada já foi vendida no Brasil (arábica e robusta), sendo que, no Sul de Minas – maior região produtora de arábica – aproximadamente 60% da safra já foi comercializada.
CAMPO – Com a colheita finalizada em setembro em todas as regiões produtoras, a atenção de agentes se voltou para o clima e o desenvolvimento da safra 2021/22 no Brasil. Enquanto as chuvas foram pouco volumosas e desiguais entre as praças, as temperaturas se mantiveram muito elevadas durante o mês, devido aos efeitos da La Ninã, preocupando agentes. Segundo colaboradores do Cepea, o cenário climático tem afetado a condição fisiológica das plantas, que já estavam debilitadas após a colheita, em função do alto volume colhido. Com o tempo quente e seco, as primeiras floradas já abertas podem ser abortadas, especialmente em Garça (SP), onde o volume foi mais significativo. Ainda assim, é valido ressaltar que a maior parte das lavouras ainda não teve a florada principal, diferente do observado nos últimos anos, quando as flores já podiam ser observadas em setembro. Esse leve atraso na abertura das tem resultado em incertezas quanto à próxima safra, reforçando a retração de agentes. A influência da La Nina também está no radar de produtores colombianos, segundo agências internacionais de notícias. No entanto, as preocupações nesse país são com o impacto das chuvas durante a primavera e o verão, que podem prejudicar a colheita e causar ferrugem nos cafezais.
Os preços domésticos do café robusta registraram alta em setembro, refletindo a valorização do dólar ao longo do mês e a retração vendedora. A média do Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 peneira 13 acima no mês foi de R$ 395,38/sc de 60 kg, avanço de 1,3% frente à de agosto. O tipo 7/8 bica corrida teve média de R$ 383,24/sc, elevação de 1,1% no mesmo comparativo. Em relação a setembro/19, as médias subiram 19,4% para o tipo 6 e 19,1% para o 7/8, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de agosto/20). No cenário externo, por outro lado, os futuros foram pressionados por fatores técnicos, pela alta do dólar e pela oferta confortável do grão, visto que os armazéns estão com a capacidade já comprometida no Brasil. Além disso, agentes externos se atentam para o início da colheita no Vietnã, que deve se iniciar nos próximos meses. O contrato Novembro/20 do robusta negociado na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe) fechou a US$ 1.305/tonelada no dia 30 de setembro, baixa de 8,6% na comparação com o último dia útil de agosto.
Assim como para o arábica, a liquidez interna do robusta foi menor em setembro, ainda que alguns negócios tenham sido fechados ao longo do mês. Até agosto, a movimentação estava maior, devido aos preços elevados. Nesse período, produtores também aproveitaram para negociar com entrega de abril a junho de 2021. Do lado vendedor, cafeicultores já venderam uma boa parte da safra 2020/21: no Espírito Santo, a comercialização estava próxima dos 60% do volume produzido; em Rondônia, esse percentual era cerca de 90%. Já na ponta compradora, assim como para o arábica, muitos agentes estão com a capacidade dos armazéns comprometida, devendo retornar ao mercado posteriormente.
CAMPO – As poucas chuvas registradas em setembro possibilitaram a indução das floradas no restante dos cafezais do Espírito Santo, sendo que o pegamento delas têm ocorrido, devido especialmente à irrigação nos cafezais. Já em Rondônia, o clima continua seco, e a abertura de uma florada mais significativa deve ocorrer apenas com o retorno das chuvas. Poucas flores abriram no estado no final de julho, especialmente pela indução por irrigação. Entretanto, agentes ainda se preocupam com o clima, visto que as chuvas são necessárias em ambas as praças para o bom desenvolvimento da temporada 2021/22.