A temporada brasileira de café 2021/22 foi oficialmente encerrada no dia 30 de junho, com preços do arábica muito acima dos observados na safra passada (2020/21). Na temporada (de julho/21 a junho/22), o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 teve média de R$ 1.325,65/saca de 60 kg, aumento expressivo de 522,90 Reais/sc (ou de 65,14%) frente à da safra anterior, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/22). Trata-se, também, da maior média desde a safra de 1997/98. Logo nos primeiros meses da temporada 2021/22, os preços avançaram com força, impulsionados pela ocorrência de geadas em maior intensidade em cafezais nas regiões de Mogiana (SP), Cerrado e Sul Mineiro. Vale destacar que os valores do arábica já estavam em movimento de alta naquele momento, devido à menor produção de 2021/22, que, além de ter sido de bienalidade negativa, foi prejudicada pela seca em 2021. Assim, após as geadas em meados de 2021, novas preocupações relacionadas à oferta em 2022/23 seguiram no radar dos agentes, mesmo em ano de bienalidade positiva
De acordo com dados da Conab (maio/22), a produção em 2022/23 deve somar 53,4 milhões de sacas, volume 12% acima do de 2021/22, mas ainda o menor desempenho de uma safra de bienalidade positiva desde 2016/17. Já a USDA (jun/22) aponta colheita brasileira de 64,3 milhões de sacas. Até a última semana de junho, cerca de 25 a 35% da safra de arábica havia sido colhida. Colaboradores continuam relatando que a falta de mão de obra tem limitando o avanço nos trabalhos de campo. Os entraves logísticos também reforçaram as altas nos valores do grão. Segundo agentes, os fretes estão caros e as faltas de espaço e de contêineres nos navios vêm resultando em atraso dos embarques e até mesmo em cancelamentos ao redor do globo. Esse cenário, por sua vez, levou ao rápido consumo dos estoques certificados em parte dos países importadores/demandantes
Neste caso, vale lembrar que, em fevereiro/22, os estoques certificados da Bolsa de Nova York (ICE Futures) registraram os volumes mais baixos desde 2000. Naquele mês, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 registrou a maior média mensal da safra, a R$ 1.485,35/sc. No dia 9 de fevereiro, o Indicador atingiu recorde nominal da série histórica do Cepea (iniciada em 1996), ao fechar a R$ 1.555,19/sc. Em termos reais, os preços em fevereiro foram os maiores desde dezembro de 1999 (deflacionados pelo IGPDI de maio/22). Quanto aos negócios, com a forte alta das cotações e as incertezas quanto à produção em 2022/23, a maior parte dos produtores seguiu mais cautelosa durante a temporada, vendendo pequenos lotes no spot ao longo dos últimos meses. Já no mercado a termo, cafeicultores fecharam poucos negócios para 2022/23 (abaixo do visto nas últimas safras), o que se deve a receios quanto ao volume produzido e ao valor de negociação inferior ao verificado do spot nacional.
As cotações do robusta também registraram forte alta em 2021/22. Na média da temporada (de julho/21 a junho /22), o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6 fechou a R$ 792,95/sc de 60 kg, elevação de 273,78 Reais/sc (ou de 52,7%) em relação ao fechamento de 2020/21, em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI de mai/22). Essa também foi a maior média real histórica da série do Cepea para o Indicador, desde que as análises foram iniciadas em 2001. Para o robusta 7/8, a média na temporada 2021/22 foi de R$ 779,89/sc, aumento de 269,09 Reais/sc (ou de 52,7%) em relação à de 2020/21. O impulso às cotações ainda em 2021 esteve atrelado à menor oferta do arábica, que elevou a demanda de torrefadoras ao redor do globo pelo robusta. Além disso, os problemas logísticos e o atraso da colheita da safra do Vietnã, devido às fortes chuvas, também sustentaram as cotações. Diante da queda na oferta de robusta no fim de 2021 e da forte retração de vendedores no Brasil, em dezembro, os preços do tipo 6 e 7/8 atingiram os maiores patamares mensais da safra 2021/22, com as médias a R$ 877,98/sc e R$ 893,00/sc, respectivamente.
Em 2022, as cotações da variedade voltaram a recuar, influenciados pela expectativa de uma safra maior em 2022/23. Agentes consultados pelo Cepea acreditam em produção próxima da apontada pelo relatório da USDA (de jun/22), de 16,6 milhões de sacas de 60 kg. Já a Conab (maio/22) estima colheita de 12,16 milhões de sacas em 2022/23. Ainda assim, colaboradores temem possíveis impactos vindos da falta de mão de obra nas praças. Além de esse fator atrasar a colheita, parte dos cafés pode secar no pé, diminuindo a qualidade. Por enquanto 70% da produção estimada no Espírito Santo foi colhida até o momento e 85% em Rondônia. Referente à comercialização da temporada 2021/22, ainda que negócios tenham ocorrido em maior intensidade que para o arábica, cafeicultores também seguiram retraídos por boa parte da temporada, na expectativa de preços maiores, fundamentados na quebra de safra do arábica.