ARÁBICA
As cotações domésticas do arábica recuaram com força em março, pressionadas especialmente pela acentuada queda externa e pela desvalorização do dólar em partes do mês. O Indicador CEPEA/ESALQ do arábica, tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, teve média de R$ 395,70/saca de 60 kg no mês, recuos de 3% em relação à de fevereiro e de expressivos 14,1% frente a março/18, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de fev/19). Foi, também, a menor média desde janeiro/14.
As quedas externas, por sua vez, são influenciadas por fatores técnicos, pela valorização do dólar e pela expectativa de ampla oferta global – este especialmente relacionada à produção brasileira. No Brasil, o bom volume de café ainda na mão de produtores, boas perspectivas quanto à safra 2019/20 e o possível recorde de exportações nacionais em 2018/19 – de 38 a 40 milhões de sacas – apenas reforçam o cenário de oferta “folgada”. Assim, em março, a média de todos os contratos negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures) foi de 97,4 centavos de dólar por libra-peso, forte queda de 5,1% em relação a fevereiro. O dólar registrou média de R$ 3,843, alta de 3,3% de fevereiro para março.
Vale apontar que a queda dos preços externos não tem apenas afetado apenas o mercado brasileiro. Em março, a Fedecafé (Federação dos Cafeicultores da Colômbia) anunciou que está estudando a possibilidade de vender a colheita do país latino a um preço que cubra os custos de produção, sem estar atrelado à cotação do mercado de Nova York, segundo agências de notícias internacionais.
Em relação à liquidez, os baixos preços mantiveram agentes retraídos por boa parte do mês, limitando os negócios. Assim, a comercialização da safra 2018/19 ficou restrita entre 70% e 80% do volume total produzido para a maior parte das regiões de arábica. Apenas no Noroeste do Paraná que cerca de 90% da safra havia sido negociada até o final de março. Vale (SA:VALE3) apontar que, nas últimas semanas do mês, a liquidez teve leve melhora. Mesmo com as cotações baixas e sem perspectivas de grande recuperação nos preços, devido à aproximação da colheita da temporada 2019/20, alguns produtores retornaram ao mercado, por conta das necessidades de caixa para custear as atividades de campo e de escoamento do café remanente para o armazenamento do novo.
SAFRA 2019/20 – O clima seguiu favorável para as regiões de café arábica em março. Segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as chuvas ultrapassaram os 75 mm em todas as regiões produtoras no mês, sendo que as estações de Patrocínio (Cerrado Mineiro) e Franca (Mogiana – SP) tiveram o maior acumulado do mês, com 299,8 mm e 218,4 mm respectivamente. As precipitações seguidas sol também auxiliaram na maturação dos grãos de muitas regiões, que estão com o desenvolvimento mais adiantado, especialmente devido às floradas precoces e ao clima mais quente no início de 2019.
Assim, a colheita da temporada 2019/20 deve ganhar ritmo já no final de abril na maior parte das regiões produtoras de arábica, um pouco mais cedo que o habitual, segundo indicam agentes consultados pelo Cepea. Vale lembrar que, na safra 2018/19, os trabalhos foram intensificados apenas em meados de maio/18.
Nas regiões de Garça (SP), Zona da Mata (MG) e Noroeste do Paraná, inclusive já há relatos de que alguns produtores iniciaram os trabalhos em cafezais mais precoces e nas pontas de algumas plantas, que apresentam grãos mais maduros. Ainda que poucos lotes de grãos beneficiados cheguem ao mercado em abril, as atividades devem aumentar apenas em meados deste mês, com um maior volume de café sendo disponibilizado em maio. De acordo com relatos de colaboradores do Cepea, o volume colhido em 2019/20 ainda deve se aproximar do apontado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no início deste ano, de 50,4 a 54,4 milhões de sacas – um possível recorde para um ano de bienalidade negativa dos cafezais de arábica.
Quanto à qualidade, no geral, é esperada menor peneira e maior defeito dos grãos, especialmente do café arábica, em decorrência do clima seco em janeiro e da menor uniformidade dos cafezais pelas diversas floradas. Além disso, na Mogiana, Sul e Cerrado Mineiro, também há preocupações quanto à broca.
ROBUSTA
As cotações domésticas do café robusta também recuaram em março, influenciadas pelas quedas dos preços externos da variedade e do dólar, em parte do mês. O Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 peneira 13 acima registrou média de R$ 302,88/saca de 60 kg em março, queda de 0,7% frente à de fevereiro. O tipo 7/8 bica corrida teve média de R$ 293,89/sc, baixa de 0,4% no mesmo comparativo. Essas médias são, respectivamente, 7,5% e 7,1% inferiores às de março do ano passado e, também, as mais baixas desde dezembro/13, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI fev/19).
Com as menores cotações, a liquidez no mercado interno permaneceu baixa. No Espírito Santo, o total vendido da safra 2018/19 até março foi de 70% e 80% do produzido, enquanto que em Rondônia restam menos de 5% da safra para ser comercializada, sem avanços frente a fevereiro.
No mercado externo, assim como para o arábica, as cotações foram influenciadas pelo cenário de ampla oferta global e nacional, por fatores técnicos e pela valorização do dólar frente ao Real. O contrato Maio/19 do robusta negociado na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe) fechou a US$ 1.456,00/tonelada no dia 29 de março, queda de 4,2% na comparação com o último dia útil de fevereiro. Os menores preços do robusta neste ano também têm dificultado a venda do Vietnã e da Indonésia, primeiro e terceiro maiores produtores mundiais da variedade, respectivamente. Segundo agências internacionais, os menores valores também podem desencorajar os investimentos neste ano, afetando a produção, especialmente no Vietnã, que vêm passando por um período de seca.
CAMPO – O clima ainda é levemente preocupante para o desenvolvimento dos cafezais de robusta do Espírito Santo. As chuvas retornaram ao estado apenas em meados de fevereiro e ainda seguiram de forma desuniforme em março, prejudicando o enchimento dos grãos. Segundo dados do Inmet, enquanto que a estação de São Mateus registrou 100,8 mm, em Linhares, o volume foi de 57,4 mm. Segundo colaboradores, a expectativa é de certa quebra de produção na região capixaba, em torno de 5 a 10% do que era previsto. Entretanto, as excelentes condições climáticas até 2018 e a retomada dos tratos culturais nas últimas temporadas elevaram o potencial produtivo dos cafezais para 2019/20. Com isso, as expectativas ainda são de uma produção ao menos semelhante à observada em 2018/19. Já em Rondônia, as chuvas têm ocorrido de forma satisfatória, o que deve permitir bons resultados nesta safra: a estação de Cacoal registrou 321,6 mm no mês. Quanto à colheita, no Espírito Santo, a expectativa é de que os trabalhos se iniciem no final deste mês, se intensificando em maio. Já em Rondônia, produtores realizam as primeiras catações no final de março, sendo que as atividades devem ganhar ritmo na segunda quinzena de abril.