A segunda-feira começou com a “prorrogação” da famosa liquidação da “black friday” repercutindo no mercado do café com o “coffee black monday”. Para a surpresa de muitos o contrato março-25 “derreteu” -2.200 pontos e o “pânico de curto prazo” voltou a assustar o produtor.
Na segunda-feira, no “coffee black monday”, o Março-25 abriu caindo -300 pontos deixando um “gap” @ 316,80 centavos de dólar por libra-peso. Após negociar na mínima da semana - na terça-feira @ 290,05 centavos de dólar por libra-peso - o mercado realizou um movimento em “U” fechou o “gap” acima e negociou na máxima da semana 331,10 centavos de dólar por libra-peso (próximo da máxima histórica @ 335,45 centavos de dólar por libra-peso negociada no dia 29 de novembro de 2024).
O vencimento março-25 encerrou @ 330,25 centavos de dólar por libra-peso (fechamento anterior / mínima / nova máxima / fechamento atual respectivamente @ 318,05 / 290,05 / 331,70 / 330,25 centavos de dólar por libra-peso). E o R$ continuou estressado e encerrou @ 6,078 R$/US$.
A realização em Nova Iorque já era esperada e foi muito saudável – todos os indicadores de curto prazo estavam “esticados” e sinalizando um mercado “sobrecomprado” - com a probabilidade das cotações voltarem a negociar abaixo dos 303 centavos de dólar por libra-peso. Com a queda acentuada vários “stops de compra” foram acionados e os fundos + especuladores acabaram reduzindo a posição comprada em -5.742 lotes (ainda estão comprados em 39.013 lotes e o reflexo da alta dos últimos 3 pregões da semana serão refletidos na próxima divulgação do CFTC*). Nos 2 primeiros pregões da semana o volume negociado na bolsa de Nova Iorque chegou a ultrapassar os 100.000 lotes.
Com a queda da segunda-feira e da terça-feira (quando negociou na mínima do período @ 290,05 centavos de dólar por libra-peso) o “mercado” voltou a negociar dentro da “Banda de Bollinger” dos 50 dias. Após novos ajustes nas posições dos “comprados e vendidos” e analises mais cuidadosas do quadro da “oferta x demanda mundial” e dos problemas reais enfrentados pelas principais origens produtoras os “comprados” voltaram às compras.
Já os “vendidos” ficaram atentos” com novo risco das suas posições “vendidas” serem liquidadas, a força, por falta de caixa. Os grandes fundos + especuladores - que ainda acreditavam e acreditam na alta do mercado - conseguirem novamente romper as médias móveis dos 9 dias e o topo da média móvel dos 50 dias da “Banda de Bollinger”. Resultado: novas altas e alguns “vendidos” sendo “estopados”.
Com a queda acentuada no início da semana outras empresas (ainda com “posições vendidas”) continuaram apostando que os preços poderiam seguir caindo até os 268 / 255 centavos de dólar por libra-peso. Continuaram apostando, rezando... E mais uma vez foram pegas no “contrapé”.
As notícias referentes ao pedido de concordata de uma das maiores comercializadoras de café no Brasil continuam assustando o mercado. Aparentemente o pedido da concordata foi autorizado na sexta-feira dando a empresa 60 dias para renegociar suas dívidas com os credores. Segundo a “rádio peão” essa empresa estaria com uma chamada de margem acima dos 80 milhões de dólares. Como “renegociar” dividas referente à “chamada de margem”? Provavelmente as posições vendidas em bolsa serão liquidadas e quanto mais tempo demorarem para “estopar” a posição maior será o prejuízo...
Os fundos + especuladores, quando sentem “sangue” no mercado, seguem “apertando” os vendidos. Está claro que os “vendidos” estão enfrentando sérios problemas com a falta de caixa para cobrir as chamadas de margem. Essa situação deverá continuar pelos próximos dias – por 2 motivos básicos: falta de gestão dos riscos com o “risco de cauda” (explicado no comentário semanal anterior) pegando os “vendidos” no contrapé e pela alta dos preços em função dos problemas com as próximas safras 25/26 no Brasil e em outras origens.
Muitas cooperativas, comerciantes e tradings continuam “fora do mercado” evitando indicar “preços competitivos” para realizar novas compras originando produto dos seus cooperados. Basicamente isso significa que: “não temos dinheiro para abrir novas posições – então vamos ficar fora para ver se os preços caem mais um pouco enquanto corremos atrás para resolver nosso problema de caixa / liquidez”.
O risco iminente para novas “quebras” (incluindo pequenas, médias e grandes cooperativas) está aí para quem quiser ver / apostar.
Imaginem uma cooperativa brasileira “média” hoje, com uma posição em 5 milhões de sacas de café com o hedge médio (posição vendida na bolsa de Nova Iorque) ao redor dos 230 centavos de dólar por libra-peso. Com o mercado negociando @ 330 centavos de dólar por libra-peso essa cooperativa está tendo hoje uma chamada de margem de 132,28 US$/saca (com o R$ @ 6,10 R$/US$ representa 806,91 R$/saca). Extrapolando então esse montante para a sua posição “vendida” na bolsa, essa cooperativa está tendo uma chamada de margem de US$ 661.400.000 (661,40 milhões de US$ ou 4,05 bilhões de R$)!
Considerando a safra brasileira 24/25 para o café tipo arábica em 45 milhões de sacas (com ainda 20 milhões de sacas a serem exportadas e precificadas contra o vencimento Março-25) e a próxima safra brasileira 25/26 em 38 milhões de sacas (e, considerando que desse montante o produtor já negociou aproximadamente 50% quando os preços ainda estavam no patamar dos 200-230 centavos de dólar por libra-peso ou 19 milhões de sacas), então as cooperativas / tradings / bancos estão “vendidos na bolsa” em aproximadamente 39 milhões de sacas - necessitando caixa para cobrir a chamada de margem ao redor dos 5,16 bilhões de dólares ou “apenas” 31,48 bilhões de reais! É muito dinheiro!
Extrapolando ainda mais, considerando outras 10-15 milhões de sacas de outras origens (América Central / Colômbia / África), então essa “bomba financeira” no mercado de Nova Iorque pode facilmente estar acima dos 7-8 bilhões de dólares! E os 400 / 500 centavos de dólar por libra-peso já está começando a fazer sentido!
Seria esse o motivo que alguns bancos / corretoras / consultorias / traders “vendidos” continuarem publicando projeções / informações “baixistas”, tendenciosas para assustar o produtor? Lembrar que umas das empresas que está com problemas indicava uma safra brasileira 24/25 acima dos 73 milhões de sacas! Alguns bancos / corretoras indicavam uma safra brasileira 24/25 entre 66-70 milhões de sacas e a cotação final para o café em dez-24 abaixo dos 240/210 centavos de dólar por libra-peso. Outros seguem indicando um “gargalo” nos portos onde o Brasil teria 1,80 milhões de sacas aguardando espaço nos navios... E ainda existe uma “insistência” de alguns agentes procurando criar factoides com o “aumento nos estoques certificados” na bolsa de Nova Iorque (lembrando que os estoques certificados saíram de 3,00 milhões de sacas, atingiram 250/300 mil sacas e agora esta ao redor dos 850 mil sacas)...
Nessa semana algumas consultorias voltaram a “afirmar” que a próxima safra brasileira 25/26 poderá ser similar a safra 24/25 (acima dos 65 milhões de sacas) e as chuvas recentes e as chuvas previstas para o período “jan-fev-25” irão “auxiliar no enchimento dos grãos e recuperação das lavouras” já para a safra 25/26...
Ou essas consultorias e seus analistas não conhecem da parte agronômica / fisiológica das plantas e/ou não foram a campo visitar as regiões afetadas para ver “ao vivo e a cores” os estragos já causados e irreversíveis em muitas lavouras pelo Brasil e/ou estão agindo de má fé.
Mesmo agora no final do mês de novembro e primeira semana de dezembro-24 alguns produtores decidiram pela recepa das suas lavouras pois a “quantidade do café estimado nos pés não compensará o custo com a colheita”. Ou seja, a situação do parque cafeeiro brasileiro para a próxima safra 25/26 é critica.
Será que esses bancos / corretoras / consultorias / traders estão “altamente alavancados” com chamadas de margem prontas além das suas capacidades financeiras e com o riso para “serem estopadas” por falta de garantias / fundos dos seus clientes a qualquer momento? Onde estará o “stop” nessas empresas? @ 335 / 350 / 400 centavos de dólar por libra-peso?
Como mencionado no comentário semanal anterior, muitas operações “de balcão” alavancadas, “estruturadas”, “as que aparecem e dobram” quando o mercado atinge “certo preço” foram acionadas. Não apenas no preço do café mas também em operações de câmbio! Ou seja, o mercado continua sentando em alguns “barris de pólvoras e com os pavios já acessos e queimando”. E alguns barris já começaram a explodir!
Nada mudou nos fundamentos. A “oferta x demanda mundial” seguirá justa durante os próximos 2-3 anos e os preços deverão continuar firmes e subindo. Pelo cenário do problema atual da falta de caixa para cobrir a “chamada de margem” creio que em breve estaremos vendo NY negociando acima dos 400 centavos de dólar por libra-peso.
Apesar da indústria já estar aumentando os preços nas gôndolas o consumo segue firme nos principais destinos e nos “países ricos”. Como também já mencionado, as margens das grandes empresas deverão diminuir durante os próximos anos e os “bônus milionários” dos seus executivos deverão ser revistos e cortes deverão ocorrer em breve (como publicado na mídia nessa semana uma das maiores empresas de commodities americanas demitiu 8.000 funcionários agora no mês do Natal).
Aparentemente a Starbucks (NASDAQ:SBUX) já está sentindo na “pele” também os resultados de uma política de hedge equivocada... Como irá fazer para “originar / comprar seu café” a preços competitivos agora? Deixou de fazer hedge quando o mercado estava nos 150 / 180 / 200 / 250 centavos de dólar por libra-peso e agora terá que “comprar a mercado”...
O mercado interno brasileiro continua firme com negócios reportados novamente acima dos 2.000 R$/saca para o café arábica tipo 6 e acima dos 1.750 R$/saca para o café tipo robusta. Mesmo com o início da colheita da safra do Vietnam os preços em Londres seguem firmes e encerraram a semana acima dos 5.100 US$/tonelada (equivalente a 1.884 R$/saca).
No curto – médio – longo prazo sigo positivo.
Não tem nenhum “fato novo” no radar indicando a possibilidade / probabilidade dos preços voltarem a negociar abaixo dos 240 centavos de dólar por libra-peso. Poderá ocorrer? Claro, basta o R$ desvalorizar apenas -29% nos próximos meses... Ou uma nova crise mundial (como vimos na pandemia de 2020).
Como demonstrado pelo “mercado” nessa semana quando vier alguma realização, algum “evento” não programado o “risco de cauda” poderá derrubar os preços com uma velocidade fora do comum. Ou, o mesmo “risco de cauda” poderá levar os preços a novas máximas históricas.
Por isso, muito importante o produtor aprender de uma vez por todas a se proteger, a comprar o seu seguro contra eventual queda nos preços – as opções de venda “put*” garantindo preços que remunerem os custos da sua lavoura.
Com os preços atuais é possível o produtor garantir preços mínimos acima dos 1.800 R$/saca para os próximos 2 anos!
Para o produtor “vendido”, já com travas realizadas para os próximos 2-3 anos (com preços entre 800-1.400/1.500 R$/saca) a compra de um seguro contra novas altas também é obrigatório. Como mencionado, já existem produtores e cooperativas que “não estão dormindo” pois já sabem que não terão condições para honrar os compromissos assumidos com os contratos firmados para a próxima safra 25/26... E eles também continuam “apostando” que o mercado irá realizar...
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Boa semana a todos!