- Café arábica acumula queda de 12% até agora em outubro, maior correção desde o recuo de 13% em setembro de 2020.
- Safra brasileira foi muito forte e mais grãos podem entrar no mercado antes de La Niña.
- Nível de US$ 1,90 por atuar como suporte, mas, se perdido, pode abrir espaço para US$ 1,70.
- Condições sobrevendidas podem gerar um repique para US$ 2,25 e 2,20.
O preço do café arábica no mercado futuro dos EUA, grão preferido da rede Starbucks (NASDAQ:SBUX), está registrando uma forte correção, mesmo com as principais redes de cafeterias do mundo elevando os preços dos seus lattes, mochas e outros drinques do tipo espresso.
Essa desconexão parece estar relacionada ao aumento da oferta do arábica. Operadores afirmam que houve um crescimento muito grande da safra no Brasil, maior produtor e exportador do grão, além do clima mais favorável na América do Sul, o que deve reforçar o abastecimento do mercado.
“O mercado acredita o mundo está bem abastecido de café”, declarou Jack Scoville, diretor de pesquisa agrícola da corretora Price Futures Group, de Chicago.
Scoville afirmou que ainda persistia a ameaça de um terceiro ano de La Niña, evento climático que geralmente prejudica as plantações por causa do excesso de chuvas. Ela disse ainda:
“Isso pode afetar a produção de café novamente no próximo ano, mas até agora as condições da safra são positivas”.
Uma análise da negociação do arábica na Intercontinental Exchange (ICE) de Nova York conta uma história da matéria-prima que pode não ser muito diferente da popularidade dos seus produtos no mercado.
Todos os gráficos são uma cortesia de SKCharting.com com dados do Investing.com
O arábica tocou a mínima de um ano de US$ 1,9405 por libra-peso na sessão de segunda-feira. Faltando menos de duas semanas para o fim de outubro e sem uma recuperação em relação aos níveis atuais, o café arrisca terminar o mês com sua maior desvalorização em dois anos – uma queda de quase 12%, em comparação com o recuo de 13% ocorrido em setembro de 2020.
A Starbucks divulgou números de receita e resultados trimestrais acima das expectativas em agosto, graças à forte demanda nos EUA.
Diante da alta da inflação, o fundador da Starbucks e CEO interino, Howard Schultz, disse que a rede não está vendo os clientes optarem por ofertas mais baratas ou reduzindo os gastos. Schultz atribuiu o poder de precificação da Starbucks e a fidelidade dos clientes à boa execução da empresa em um ambiente operacionalmente difícil.
O Rabobank afirma que o clima no Brasil está excelente para a floração da safra de café para o próximo ano.
O governo brasileiro também admitiu, em setembro, que suas estimativas para a safra nos últimos anos tiveram problemas e precisavam ser revistas, de modo a refletir melhor a realidade, dado que os números de produção foram menores do que a soma do consumo local e das exportações.
Em uma entrevista à Reuters, o diretor de política agrícola da agência brasileira de estatísticas e análise de oferta de alimentos Conab, Sergio De Zen, declarou que, devido a essas discrepâncias, foi implementado um processo de revisão dos números e da metodologia de previsão da safra de café.
Os números da Conab para o Brasil há anos estão suscitando debates entre operadores e analistas, que geralmente as consideraram muito baixas.
As tradings e os analistas independentes geralmente apresentam números maiores para a safra do Brasil. Para este ano, por exemplo, enquanto a Conab avalia que a safra brasileira será de 50,4 milhões de sacas de 60 kg, o USDA, Departamento de Agricultura dos EUA, projeta 64,3 milhões, o Rabobank, 63,2 milhões, e a consultoria Safras & Mercado, 58,2 milhões.
“Conversamos com cooperativas, produtores e exportadores, tentando trabalhar em conjunto para elaborarmos uma projeção de safra que reflita melhor a realidade”, afirmou De Zen.
As declarações do diretor ocorrem depois que a Reuters questionou as previsões da Conab, com base em dados de consumo e exportações do Brasil. Há uma clara lacuna na oferta quando os números são comparados.
Nos últimos cinco anos, as discrepâncias em relação às previsões de safra apontam para um grande déficit de mais de 32 milhões de sacas.
“Já fizemos o cálculo antes...”, afirmou o diretor, admitindo o problema.
Os números de estoques podem ajudar a resolver a equação, mas a Conab parou de publicá-los.
“Paramos de fornecer os números de estoques, porque o cálculo de balanço de oferta não faz sentido”, declarou.
De Zen declarou, contudo, que os estoques nas fazendas não são insignificantes e podem ajudar a solucionar a equação de oferta e demanda, mas disse que o número e a qualidade das respostas para a pesquisa sobre armazenamento eram baixas.
Portanto, para onde os preços do arábica podem ir no curto prazo, pelo menos do ponto de vista técnico?
De acordo com o analista Sunil Kumar Dixit, o arábica estava sendo negociado dentro de uma canal de baixa, perto do suporte.
“A média móvel simples de 100 semanas de US$ 1,90 pode atuar como um suporte pro tempore”, afirmou.
Ele disse ainda que a média móvel exponencial de 50 semanas de US$ 2,14 e a faixa intermediária da Banda de Bollinger semanal de US$ 2,20 eram as zonas imediatas de resistência no curto prazo.
“A tendência de baixa no café pode se estender além da média móvel de 100 semanas de 1,90 e encontrar suporte um pouco mais baixo no nível de US$ 1,70, que corresponde à MME de 50 meses”, declarou Dixit.
Por outro lado, as condições sobrevendidas no estocástico semanal podem ajudar os preços a repicar em direção a US$ 2,25 e 2,20.
Aviso: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.