O ano de 2020 foi marcado por preços elevados dos cafés arábica e robusta. De acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, no primeiro semestre de 2020, as cotações foram sustentadas por incertezas quanto à oferta de café. Naquele período, além da menor produção de arábica de 2019/20, a pandemia de coronavírus trazia preocupações relacionadas à logística mundial, e países, como a Colômbia, tiveram problemas de mão de obra para colheita. Do lado da demanda, o cenário de incerteza também impulsionou as compras para “estocagem” de produtos, favorecendo especialmente as vendas de robusta.
Já no segundo semestre, apesar da pressão inicial da colheita de uma safra 2020/21 elevada no Brasil – de 61,6 milhões de sacas, segundo a Conab (dados de setembro/20), ou de 67,9 milhões de sacas, de acordo com o USDA (dezembro/20) – e das preocupações quanto ao consumo (fechamento de bares, restaurantes e cafeterias) –, os preços no Brasil foram sustentados pela elevação do dólar frente ao Real e pela demanda ainda firme. O clima desfavorável (seca e calor) até meados de outubro no Brasil e seus possíveis impactos sobre a próxima temporada (2021/22) reforçaram as altas nos preços (tanto em Reais como em dólares), sobretudo do arábica.
Além do cenário interno, problemas em outras origens também influenciaram a valorização doméstica dos cafés. Na América Central, furacões atingiram importantes produtores, como Honduras, causando perda de milhares de sacas de café e comprometendo a logística da cadeia. Para o robusta, no Vietnã, o clima seco durante o enchimento dos grãos reduziu o rendimento da safra de 2020/21 e chuvas no segundo semestre atrasaram a colheita dos cafés.
Quanto aos negócios, a valorização dos cafés arábica e robusta durante boa parte de 2020 favoreceu a liquidez interna, notadamente nas semanas de forte alta das cotações. Agentes negociaram no físico e para entrega futura (principalmente para o arábica), até mesmo para safras seguintes.
ARÁBICA – A forte estiagem e as altas temperaturas que atingiram os cafezais brasileiros ao longo de boa parte do ano, em especial entre setembro e outubro, devem resultar em quebra de produção em 2021/22, que, vale lembrar, já seria menor, por conta da bienalidade negativa. Esse cenário e o fato de boa parte da safra de 2020/21 já ter sido negociada anteriormente afastaram agentes do mercado em alguns períodos.
Em boa parte de 2020, os preços do arábica operaram acima de R$ 500/sc de 60 kg, com picos em agosto, novembro e dezembro. No dia 31 de agosto, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, atingiu R$ 610,57/sc, o maior patamar nominal de toda a série histórica do Cepea. Aqui ressalta-se que, em termos reais, o maior preço diário já registrado pelo Cepea foi em 28 de maio de 1997, quando o Indicador esteve acima de R$ 1.900/sc (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI).
Na parcial da safra 2020/21 (de julho/20 a 30 de dezembro/20), a média do Indicador do arábica foi de R$ 557,64/saca, alta de 13,8% (ou de 67,80 Reais por saca) em relação ao mesmo período de 2019/20. A maior média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ do arábica foi verificada em dezembro, de R$ 594,33/saca de 60 kg.
ROBUSTA – Apesar de o clima no Brasil também ter preocupado produtores de robusta, os impactos foram sentidos especialmente em Rondônia. No Espírito Santo, maior estado produtor, colaboradores apontam que as chuvas em 2020 foram suficientes para o bom desenvolvimento das lavouras, sendo esperada maior produção em 2021/22. A safra colhida em 2020 (2020/21), no entanto, apresentou problemas, tendo produção menor que o esperado pelos produtores.
Na parcial da safra 2020/21 (de julho/20 a 23 de dezembro/20), a média do Indicador do robusta foi de R$ 391,80/sc, elevação de 26,5% (ou de 82,04 Reais por saca) frente ao mesmo período da temporada passada. A maior média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ do robusta de R$ 409,99/sc, foi verificada em novembro.
EXPORTAÇÕES – Segundo o Cecafé (Conselho de Exportadores de Café), na parcial desta safra (de julho/20 a novembro/20), os embarques totais somam 19,8 milhões de sacas, e os de cafés verdes, 18,2 milhões, respectivos avanços de 15,2% e de 17,2% frente ao mesmo período de 2019/20. A receita totalizou U$S 2,1 bilhões na parcial da temporada, aumento de 12,8% frente ao mesmo período de 2019/20, favorecida pelo volume e câmbio elevado.
Considerando-se apenas arábica, os embarques na parcial desta temporada somam 15,7 milhões de sacas, 16,5% a mais que no mesmo período da safra anterior. Para o robusta, foram 2,4 milhões sacas exportadas de julho a novembro de 2020, elevação de 21,8%.