Atenuados os momentos mais críticos em torno da Croácia e da Grécia, na realidade superlativados por aqui como causa parcial da depreciação do real, então ficará mais claro que a questão decorre das circunstâncias que envolvem o Brasil e sua economia decadente combinada com uma política fiscal absolutamente deteriorada, e muito pouco do que ocorre no exterior.
Embora o país não tenha uma situação de conforto, muito pelo contrário, no seu setor externo com perspectivas de que, mais uma vez também neste ano, o ingresso de recursos externos líquidos será insuficiente para suprir a necessidade de financiamento externo, a pressão ainda não vem do mercado à vista, o fluxo cambial ainda está positivo.
O BC tem colocado no mercado futuro saldo em torno de US$ 120,0 Bi de contratos do instrumento financeiro “swap cambial” e utiliza os bancos com suas posições vendidas em torno de US$ 24,0 Bi para bancar a insuficiência de ingressos líquidos , que acaba por refletir na liquidez do mercado à vista, que, em tese, seria competência da autoridade monetária. Desta forma transparece que o país tem reservas cambiais de US$ 372,0 Bi quando efetivamente são de US$ 348,0 Bi.
Estudo recente de acadêmicos do porte de Marcos Chamon, do FMI, e Marcio Garcia e Laura Souza, da PUC RIO, reportado pelo jornal Valor Econômico, destaca a conclusão que o leilão do BC de “swaps cambiais” não contém volatilidade.
Este é um dos inúmeros exemplos que surgem expressando uma visão acadêmica divergente do que ocorre na prática. Uma coisa é a análise acadêmica outra é o “jogo na Arena”, que podem acarretar conclusões diferentes.
O BC na realidade sempre falou que intervia para conter a volatilidade, mas na realidade o objetivo era evidente e inconteste na formação da taxa cambial pelo mercado, pois com a crescente percepção de que o país sofreria forte retração no ingresso de recursos líquidos, a demanda por “hedge” deixou o padrão trivial e se acentuou e então a autoridade com a oferta dos “swaps cambiais” deu aos detentores de passivos a proteção com o claro intuito de assegurar para a moeda nacional a credibilidade perdida.
Com isto evitou uma explosiva alta do preço da moeda americana, mas não conteve a ocorrência da volatilidade devido ao erro cometido na formulação da estratégia. Em câmbio não se deve autodeterminar números previamente como foi feito no comprometimento da oferta de swaps cambiais, mas, provavelmente no afã de conter os riscos presentes de alta excessiva da taxa a partir do mercado futuro, garantiu que faria a oferta e deu números. A volatilidade ocorreu devido a esta atitude.
Assim, ocorreu a volatilidade, pois o compromisso do volume de oferta diária em determinados momentos era excessiva e em outras insuficientes.
O mercado de câmbio e seus vasos comunicantes então assumiram a ideia de que o preço da moeda americana seria continuadamente monitorado pelo governo, que não permitiria que o mesmo se tornasse problemático para a inflação.
O cenário prospectivo do “espólio” que seria deixado como legado pelo Ministro Mantega acabou por ir se revelando de forma muito rápida e intensa e o fato passou a ser mais considerado e a eleições transformaram o ambiente fértil para especulações.
Mesmo com a confirmação do estado de deterioração da política fiscal e do não crescimento no governo passado, ainda havia uma parcela majoritária que acreditava que o câmbio continuaria sendo monitorado pelo governo, tanto é que quando o governo anunciou anteriormente a manutenção da rolagem e o corte pela metade da oferta diária de contratos de “swaps cambiais” até o mercado se sentiu confortável.
Porém, quando o Ministro Levy falou em não desejar câmbio artificial, visão extremamente lúcida face à desconstrução que o dólar depreciado provocou em relevantes setores da economia brasileira e nas contas externas que expressaram preocupantes saldos negativos, e que agora tenderia a se acentuar também pelo fato de ter havido relevante inversão das vantagens que o país teve na relação de troca de mercadorias, com o fim do “boom” das commodities, o mercado entendeu que o governo deseja o dólar no seu preço justo, compatível com a situação do país.
Este fato foi determinante para aumentar o preço à sua realidade e o movimento de compra de “hedge” no mercado futuro foi intensificado e isto vem pressionando a taxa cambial podendo conduzi-la para além do que se possa considerar justo e mais uma vez prepondera e se destaca o erro estratégico do BC estabelecer número de oferta diária fixa num mercado que é dinâmico.
O mercado futuro estando sob pressão, a taxa cambial tende a continuar pressionada.
O mercado a vista começa dar sinais de que pode reverter o fluxo para negativo, mas por enquanto vem sustentando saldo positivo e não é o fomentador da alta, somente a repercute.
Se não desejar que a taxa cambial vá além neste momento, o BC precisará romper o seu programa e aumentar a oferta de swaps cambiais e observar com rigor eventuais focos especulativos. Mas, a boa técnica sugere que não cometa o erro de pré-avisar e sim que anuncie rápida e objetivamente a oferta e não precisa assumir a frequência com que agirá.
O ponto de constrangimento é o crescente volume, pois num ambiente que sugere insegurança e tendência de aumento maior, as empresas acentuam e ampliam suas demandas por proteção, não se limitando a proteger exposições comerciais/financeiras de curto prazo.
Este quadro atual deixa evidente, como já temos ressaltado, que o BC não tem como deixar de rolar as posições vincendas de swaps cambiais, sob risco de provocar excessiva alta do preço da moeda americana. Isto só será possível quando os fluxos de recursos para o país reconquistarem volumes positivos líquidos expressivos.