O Brasil foi rebaixado pela Moody´s completando a visão negativa do trio mais importante das agências de rating – S&P, Fitch e Moody´s – e ocorre a sinalização de menor apetite por papéis brasileiros no exterior, dos quais se exige agora mais juros e prazo menor.
Nada passa impune, sendo correto admitir-se que o país perdeu mais atratividade e fomentou muitas dúvidas no mercado internacional, que tem sido um crítico severo.
Com os papéis brasileiros conduzidos ao conceito de “junk’ e com os seus reflexos negativos inevitáveis, empresas e bancos estabelecidos no Brasil tendem em grande número à não rolagem dos empréstimos vincendos, até porque a economia deteriorada do país não justifica e há um recuo na demanda por crédito.
Por outro lado, recursos estrangeiros alocados no mercado de renda fixa e variável no país já não são seduzidos somente pelo fator taxa de juro e estão considerando aspectos adversos como o risco, já que o governo ainda persiste no mesmo comportamento do ano passado, quando registrou déficit altamente expressivo. No mês de janeiro já foi constatada saída liquida de recursos alocados neste segmento.
O COPOM parece convencido de que a inflação brasileira é mesmo inercial e não responderia com contenção se impusesse uma elevação da taxa SELIC, e tende isto sim, a reduzi-la, mas parece ainda inseguro, tendo-a mantida inalterada na reunião findada ontem. Na realidade há parcos instrumentos para conter as pressões inflacionárias presentes na economia e que se mostram resistentes mesmo num ambiente de forte recessão com sinalização ao agravamento.
O que seria eficaz é considerado totalmente improvável, ou seja, o governo cortar de forma substantiva seus gastos.
O fluxo cambial apurado no mês de fevereiro até o dia 26 emite sinais relevantes que precisam ser “lidos e entendidos”.
A saída liquida de recursos do país ao longo do mês de fevereiro, até 26, apontando US$ 6,045 Bi pode estar sinalizando o inicio da revoada de recursos estrangeiros do país, alocados em diferentes segmentos.
Ao que parece se deu pouca consideração a este dado, enquanto em contrapartida houve certo euforismo com o saldo da balança comercial, que precisa ser observado com serenidade já que há um estoque liquido de importações a serem pagas, data base janeiro, maior do que o saldo enaltecido.
Até onde perceptível a tendência de não rolagem de parte dos empréstimos vincendos por empresas e pelo sistema financeiro tende a se intensificar, assim como das aplicações em renda fixa e/ou variável.
Os movimentos de forte queda na taxa cambial e alta na Bovespa podem estar inseridos na estratégia de saída executada pelos agentes do mercado financeiro.
Real valorizado, embora em absoluto conflito com a realidade do país, proporciona menor dispêndio em reais na saída ou mais dólares na remessa.
Por outro lado, a Bovespa em alta cria o ambiente, por falta de fundamentos, para a ocorrência de “sell-off” com preços mais elevados para saída dos recursos do país na conversão com base num preço desalinhado para o dólar.
Ambos os contextos atuais, seja do dólar seja da Bovespa, estão distantes dos fundamentos, por isso é totalmente factível que no “desarme” da estratégia ocorram mudanças muito abruptas.
Esta história em torno do preço do petróleo, da economia chinesa, etc, etc.... nos parece só pano de fundo para justificar os movimentos injustificáveis com base em fundamentos criveis.
Continuamos cometendo o erro de “olharmos para fora” e ficar desatentos com o ambiente interno eivado de fatores negativos para os quais o governo não encontra equacionamento.
É o que acontece com o olhar brasileiro sobre a economia americana. Vemos uma gama de problemas, e, de repente, o Livro Bege surge mostrando que não é bem assim e o ADP anunciando criações expressivas de novas vagas de emprego. Queremos acreditar que o juro americano não subirá de imediato, mas os dados econômicos dos Estados Unidos não sustentam esta possibilidade tão seguramente.
Mas, somente agora temos focado com maior rigor, depois de instalado efetivamente o problema, a questão do desemprego, da queda de renda e consumo, da continua retração da atividade industrial e, a partir do pífio PIB negativo de 3,8% em 2015, observarmos que o 4º trimestre de 2015 mandou um recado de que 2016 poderá ter uma recessão se acentuando e o PIB ser maior negativamente.
Há certa relutância em admitir-se a existência de uma crise econômica de grandes proporções no país, havendo um movimento indutor no sentido de que tudo é questão política, e isto acaba sendo “operado” no mercado influenciando a formação dos preços, mas na realidade a questão do Brasil não é de nome deste ou aquele, mas efetivamente de uma crise econômica que independente de quem quer que seja não conseguirá ser superada antes de 2018, desde que se implemente medidas corretas.
Então, é preciso muita atenção nestes movimentos de apreciação do real e valorização excessiva da Bovespa num ambiente econômico que sugere exatamente o contrário.
Na medida em que empréstimos forem sendo liquidados pela não rolagem e as importações em estoque a pagar forem sendo pagas, a demanda por hedge, seja com base nos swaps cambiais ou contratos a termo, tende a arrefecer, tornando ineficaz este instrumento como controlador do câmbio e então, o BC será levado a intensificar a oferta de linhas de financiamento aos bancos, para que estes operem com posições vendidas e promova liquidez do mercado à vista.
Contudo, para tudo há um limite, e os bancos não poderão elevar suas posições vendidas a extremos, ainda mais num ambiente de falta de perspectiva que o próprio fluxo cambial de mercado possa vir as cobrir, o que levará esta ponta da estratégia a um “corner” que poderá obrigar a autoridade monetária a vender dólares à vista ao mercado, reduzindo as reservas cambiais.
Procuramos evidenciar o foco de “outro lado” de visão do momento, desvinculando os movimentos de aspectos políticos e suas perspectivas críveis ou não, e a “culpa ou beneficio” externo, com o objetivo de destacar que no câmbio nem tudo que parece pode ser o que efetivamente se imagina.
Recomendamos rigorosa atenção e cautela a estes movimentos atuais na Bovespa e no câmbio.