Habitualmente os membros do COPOM não abordam de forma objetiva o tema do câmbio, utilizando-o tão somente em termos estáticos atuais para estabelecer cenários prospectivos, e isto pode ser entendido como “conveniência de abordar um tema delicado” sobre o qual o governo ao longo dos últimos anos exerceu forte influência artificializando o preço com foco no controle da inflação, levando o país à desindustrialização e a condição de relevante importador.
Foram anos em que o governo “menosprezou” o setor industrial já que o país era beneficiário do “boom” das commodities que geram enorme vantagem para o país nos termos de troca, e assim, sem uma política fiscal de rigor, com gastos governamentais excessivos, foi possível colocar em prática o uso inadequado do dólar como coadjuvante da política de juros na contenção das pressões inflacionárias.
Além disto, o país tinha fundamentos econômicos muito melhores e com a prática de juros elevados conseguiu catalisar grandes fluxos de recursos estrangeiros, especulativos e não especulativos para renda fixa e variável, ao mesmo tempo que recebia IED´s no seu setor produtivo.
Como não detinha poupança, aumentou drasticamente o endividamento interno e construiu as reservas cambiais em moedas estrangeiras que atualmente rondam os US$ 372,0 Bi, a um custo de carregamento bastante substantivo, mas que deu ao país lastro para suportar pressões de crises que ocorreram posteriormente.
Temos frequentemente abordado em nossos comentários a baixa consideração que vinha sendo dada nas análises sobre o contexto substantivamente deteriorado da economia brasileira ao setor externo.
O foco estava muito centrado nas questões do ajuste fiscal imprescindível das contas publicas, focando obter superávit fiscal após o ano de 2014 ter sido desastroso neste quesito, visando preservar para o país o “grau de investimento” e crescimento do PIB.
Parecia que o tema dos fluxos cambiais não vinha merecendo grande consideração por parte dos membros do COPOM, mais preocupados em defender a credibilidade da moeda nacional com a estratégia de colocação de contratos de instrumentos financeiros “swaps cambiais”, e na margem os bancos provendo a liquidez do mercado à vista.
Na realidade há sinais de que o BC seja refém desta estratégia para evitar a alta explosiva do preço da moeda americana, que, em última instância, poderá exigir que faça ofertas diretas de liquidez no mercado à vista, a partir do uso das reservas cambiais, para suprir a demanda que poderia ser pressionada na eventualidade de interrupção da oferta de “hedge”.
Ocorre que os números de contratos de swaps cambiais e mesmo de posições vendidas estão ficando expressivos e portanto, ganham maior observação por parte dos investidores estrangeiros, havendo mesmo a consideração como risco o fato do preço da moeda americana estar depreciada face á sua realidade perante às demais e mais especificamente considerado o “status quo” brasileiro.
Então, atribuiu-se ao Ministro Levy a declaração: “Não há intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado”.
Cantada a pedra, o preço da moeda nacional foi desvalorizada em 3% exatamente num dia de jogo em torno da Ptax, por ser final de mês.
Declaração certeira sobre um equívoco que vinha sendo cometido pelo mercado e que coloca o Brasil na linha de interesse dos recursos estrangeiros forjados a partir de operações de carry trade, com base nos programas do BCE e do Banco do Japão. O Brasil com o preço da moeda nacional sobrevalorizada torna-se desinteressante aos especuladores, embora pagando juro elevado, pois fica subjacente o risco acentuado da desvalorização cambial, e as operações de “carry trade”, como já salientamos inúmeras vezes, têm margens muito estreitas.
Mas, além desta oportuna indução à correção do preço da moeda americana, lançou um recado aos exportadores, que não devem esperar que o câmbio seja o fator decisivo, sendo necessário que as empresas busquem se tornarem mais competitivas e ao governo reduzir o custo Brasil.
Mencionou ainda um ponto que temos destacado como relevante para o país e onde poderia despertar interesse aos investidores externos, não tão interessados nos setores produtivos face ao baixo crescimento do país verificado em 2014 e que deve continuar em 2015, ou seja a infraestrutura, com o governo abrindo concessões para rodovias, ferrovias, estradas, etc....
Consideramos que a fala do Ministro foi extremamente importante, pois em linha com o que temos destacado continuamente em torno do preço sobrevalorizado da moeda nacional e seus efeitos, entre os quais a inibição de fluxos de recursos externos, predominantemente especulativos, para o Brasil e as incertezas do setor industrial que não se sente seguro para realizar investimentos tendo em vista a persistência do BC mitigando a alta do preço da moeda americana.
O Brasil precisa fazer a sua parte para tentar superar as dificuldades de um ambiente pouco favorável que se vislumbra para o setor externo. As perspectivas externas só fazer piorar, o nosso parceiro comercial principal a China revelou PMI em desaceleração e os preços de commodities confirmam tendência de queda.
O PIB americano de 2,6% no 4º trimestre ante expectativa de 3,2% anualizado, após 5% no trimestre anterior pode dar um alento novo à perspectiva de mudança da política monetária americana, a despeito da forte convicção dos principais órgãos do país de que a recuperação é sólida.
O dólar ainda mais forte neste momento impactaria provocando a retração das exportações americanas no exato momento em que os países europeus e o Japão com seus programas induzem suas moedas à desvalorização.
Nossa projeção para o dólar a R$ 2,80 para o final do 1º trimestre poderá ser reduzida face a postura objetiva do Ministro Levy, visto que na medida em que fala em preço do dólar não artificializado e este se ajusta, o país poderá ter melhora no fluxo cambial temporário, com recursos de baixa qualidade e de natureza especulativa.
O Boletim FOCUS aponta esta semana elevação da projeção do IPCA de 6,99% para 7,01%; queda da projeção do PIB de 0,13% para 0,03%; queda da produção industrial de 0,69% para 0,50%, parece ter suas projeções atrás da curva, setores importantes tem emitido projeções mais rigorosas que tem maior identidade com as perspectivas. Não consideramos as projeções para 2016 já que consideramos a não existência de fundamentos críveis para as mesmas.
É notório o baixo foco no setor externo ao manter a projeção do dólar para o final do ano em R$ 2,80, o déficit em transações correntes em US$ 78,0 Bi e o saldo da balança comercial em US$ 5,0 Bi. A exemplo do que tem ocorrido nos últimos anos o Boletim FOCUS tende a incorrer em erros relevantes nas projeções iniciais em relação aos efetivos do final do ano.