A dimensão da liquidez do mercado financeiro internacional decorrente do vasto apoio dos governos às suas economias, com o foco de superação da crise da pandemia do coronavírus, permaneceu represada até recentemente, quando ocorreram sinais iniciais, mais acentuadamente da economia americana, que a retomada do dinamismo da atividade econômica estaria mais próxima do que imaginada.
E os números fortes e surpreendentes da geração de empregos e redução da demanda de salário desemprego nos Estados Unidos referendava esta expectativa.
O Brasil que de há muito havia perdido atratividade aos recursos estrangeiros, que aliás o deixaram em grande volume ao longo de 2019 e ainda em 2020 mas com menor intensidade, seja pela drástica redução do juro praticado no país, expressado pelo taxa SELIC, seja pela decrépita expectativa de retomada mais vigorante da atividade econômica, que impacta nas expectativas em torno do desempenho da B3, exceto quando se focam as empresas exportadoras de commodities.
Naturalmente neste ambiente a inflação se torna efetivamente cadente e isto induz a redução do juro como fator de estímulo à retomada.
No primeiro momento não deu certo, então o governo enfatizou através seu Ministério da Economia o mote “câmbio alto juro baixo”, que tinha a boa intenção de criar a janela de estímulo ao comércio internacional exportador do Brasil, contenção das importações com o encarecimento do produto importador, atratividade aos investidores estrangeiros em conta capital face à atratividade consequente do dólar alto que seria o “Brasil barato”.
Fomentou a desvalorização do real, que fechara o ano de 2019 no em torno de R$ 4,00, até um ponto em que coincidindo com o surgimento da pandemia do coronavírus impactando globalmente perdeu o controle sobre o estímulo do “câmbio alto”, que nunca conseguiu definir o que seria, e acabou por atropelar todos os planos e levar o preço da moeda americana no nosso mercado às proximidades dos R$ 6,00, e isto “assustou” a ponto do BC ter acentuado suas manifestações sobre algo óbvio e sabido, qual seja “o país tem reservas cambiais e poderá utilizá-las com maior ênfase”, e, naturalmente, sem fazê-la dantesca acentuou a intensidade de suas intervenções no câmbio.
Até de certa forma estranha, a reação de apreciação do real frente ao dólar o fez retroagir às proximidades de R$ 5,50, e então houve a intensificação de fluxo cambial para o Brasil com o deslocamento de recursos que estavam represados e que, face à crença de que havia sinais nas economias mais fortes de retomada gradual da atividade, foram despressurizadas em direção às oportunidades existentes no mercado global, com foco predominante sobre os países emergentes.
Então, o Brasil que havia perdido a atratividade tinha a B3 com ações a preços convenientes “dolarizados” e despertou interesse e então ocorreu participação mais forte do investidor estrangeiro nos negócios, sem perder de vista que o entusiasmo motivou grande parte de investidores nacionais pessoas física decepcionada com a renda fixa, e então ocorreu o que cognominamos de “efeito pendular” no mercado combinando movimentos de alta na B3 e queda no preço do dólar.
Este movimento provocou a alta dos preços na B3 e a depreciação do dólar pela oferta frente ao real, o que definimos como pendular, e isto ocorreu de forma rápida e contundente, e, consequentemente, como sempre, motivou otimismo inconsequente e projeções soberbas, sem a acuidade necessária.
Afinal, o Brasil continuava o Brasil com suas fragilidades à flor da pele e suas perspectivas absolutamente incertas, mas estas coisas passam despercebidas quando o volume de capital que aflui menospreza o risco.
Então, o Presidente do FED americano “redesenhou” seus prognósticos e destacou que a retomada da atividade econômica será mais lenta e desafiadora. Este foi um sinal contundente e de impacto.
Ao mesmo tempo ganhou propulsão a percepção de que é absolutamente factível uma segunda rodada de infecção pelo vírus acentuando as preocupações com a intensificação da pandemia, e isto determinou a retomada de postura defensiva dos mercados, reduzindo o apetite pelo risco.
Na margem merece consideração o fato da mudança em curso das tendências da eleição presidencial americana, neste momento mais favoráveis aos democratas do que aos republicanos capitaneados pelo atual Presidente Trump, que teve expressiva queda nas pesquisas nas últimas semanas.
Este fato em torno de Trump deve acentuar a sua arrogância frente à China como estratégia eleitoral para agradar seus eleitores, e, nas próximas semanas, muito provavelmente, veremos a intensificação dos tons dos discursos do Presidente americano.
Por aqui no Brasil teremos a reunião do COPOM onde novo corte do juro SELIC é esperado para 2,25%, e isto deve provocar maior pressão sobre o preço do dólar e, muito provavelmente, podem surgir sinais de maior dificuldade na rolagem da dívida pública brasileira.
Afora este evento pontual o clima político de acirramento deve se configurar perturbador ao mercado financeiro.
Enfim, parece que aquela euforia em torno da B3 e da atratividade do Brasil dado os preços baratos em dólares das ações brasileiras se configurará como absolutamente efêmera.
Vozes mais experientes já sinalizaram “momento é de vender bolsa e comprar dólar”, e o nosso raciocínio também vai nesta linha!