Os jornais do final de semana descrevem a triste realidade em que o Brasil se encontra. Aumento do número de casos e mortes escala a pressão do governo por atitudes mais contundentes no combate à pandemia. Faltam remédios para entubar os pacientes, faltam UTIs, faltam respiradores, faltam médicos.
A vacinação, que é a solução mais eficaz, ainda deve demorar bastante tempo para chegar a um percentual relevante da população. Por enquanto, a única solução para amenizar a situação é o lockdown. São Paulo e várias cidades do interior estão na fase vermelha. A antecipação dos feriados do ano já foi providenciada.
A situação sanitária é grave e séria. Ainda, em cima dessa tristeza, adicionaremos uma economia muito fragilizada.
Só o BC está otimista com a economia
No seu comunicado da última reunião do Copom, na quarta-feira, o colegiado fez a seguinte afirmação:
"Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes, em particular a divulgação do PIB do quarto trimestre, continuaram indicando recuperação consistente da economia, a despeito da redução dos programas de recomposição de renda."
Eu não sei qual é essa recuperação consistente que eles estão enxergando. Claro que eles têm muito mais dados que nós, e seria muita presunção da minha parte acreditar que eles estão errados, mas acho que vamos passar distantes de tal recuperação.
Os lockdowns estão novamente reduzindo mobilidade, fechando o comércio e vão dizimar a atividade econômica. Além disso, a progressão da doença sem vacinas no curto prazo fará com que essa necessidade de reclusão dure mais tempo do que gostaríamos.
As consequências econômicas são severas. Em uma reportagem publicada no Valor Econômico de hoje, um economista do Ibre/FGV fez a revisão de suas projeções de atividade para os próximos anos. Ele aponta queda da massa de rendimentos dos trabalhadores de 7 por cento em 2021.
O índice de endividamento das famílias chegou a 56,4 por cento, maior número da série. "As famílias nunca estiveram tão endividadas e nunca comprometeram tanto a sua renda", diz ele na reportagem.
Em vários pronunciamentos, os diretores do BC esperam que, passada a pandemia, tenha um efeito de aumento de consumo. Mas o economista Lívio Ribeiro se pergunta na reportagem se teremos aumento de consumo ou "corda no pescoço".
As suas estimativas de desemprego para 2021 foram revisadas de 13,5 por cento para 15,6 por cento, o que seria o recorde histórico no país.
Enquanto isso, o Banco Central, acertadamente, está em um caminho de aumento forte e rápido da taxa Selic. Preocupações com o câmbio e com seu impacto na alta dos preços de comercializáveis “perigam” o descumprimento da meta de inflação. Ou seja, em meio a uma situação de crise, ainda teremos que contar com uma política monetária mais restritiva.
Vários aspectos que nos ajudaram no ano passado não estarão presentes este ano, dificultando imensamente a recuperação. Fatores como auxílio emergencial robusto e política monetária estimulativa tiveram que ser revertidos durante 2021 para não enterrar de vez os mercados.
Não temos espaço fiscal para dar mais estímulos, assim como não temos espaço de inflação para não agir com a piora cambial.
Enquanto isso, nos EUA…
Enquanto nossa situação aqui parece um beco sem saída, os EUA mostram dados importantes de recuperação consistente.
A taxa de desemprego americana deve chegar a níveis pré-pandemia até o início de 2022, consagrando a recuperação econômica mais rápida já vista na história. A vacinação da população já está em níveis bem avançados, e a progressão da doença se mostra controlada e em retrocesso.
Em cima disso, e de um crescimento da poupança das famílias, temos novos programas de auxílio emergencial agressivos já aprovados no Senado. Além disso, temos uma política monetária extremamente estimulativa, que não deve subir tão cedo, segundo o Fed.
Percebe que eles têm lá o oposto do que temos aqui? Eles têm risco de sobreaquecimento, enquanto nós temos risco de baixo crescimento.
Nós, investidores, temos que perceber isso
Essa diferença de cenário macroeconômico deve se refletir em ambos os mercados.
Eu mesma alertei nos últimos meses que a diversificação da carteira para investimentos fora do Brasil fazia muito sentido. As empresas lá fora não estão expostas à mesma dura realidade que estão expostas as nossas empresas brasileiras.
Além de tudo, a melhora do real com a atuação mais rígida do Banco Central fez com que nossa moeda voltasse para patamares de 5,5 reais por dólar, dando um bom ponto de entrada para quem ainda não remeteu seus recursos.
Agora, com um cenário desafiador como este, não é o momento de se classificar como "agressivo" no risco da sua carteira. É o momento do conservadorismo consciente, da diversificação inteligente e da preservação de capital.
Uma boa semana para vocês! Fiquem bem e seguros, cuidem de suas famílias e cuidem também dos seus investimentos.
Um abraço