Em nossos comentários diários sobre mercados e economia, vínhamos afirmando que as projeções para o PIB do Brasil em 2021 estavam melhorando, assim como as de outros indicadores. Porém, as incertezas ainda seguem fortes, com países detectando a terceira onda de covid-19 e o surgimento de novas variantes do coronavírus.
Aqui, como temos sido recorrentes em afirmar, ainda estamos fracos no processo de imunização da população, mas existe a possibilidade de retomada ascendente de vacinados em primeira e segunda dose, a partir dos insumos que vão chegando e de contratos de fornecimento de vacinas. Também temos que acrescentar a absoluta necessidade de reformas estruturantes e ajustes para levar nossa economia a rumos melhores. Afinal, quase todos concordam que o Brasil compõe o quadro mais frágil entre os países, ao lado da África do Sul e da Turquia.
Mas é fato que as previsões também melhoraram por aqui. Na última semana, tivemos bons dados divulgados para nossas contas externas, baseados no desempenho da balança comercial. Queda na relação dívida/PIB de abril e resgate de dívidas, ainda que o prazo de vencimento tenha sido encurtado. Superávit primário do setor público acumulando R$ 75,8 bilhões, apesar da contenção de gastos e do orçamento atrasado.
Isso não tirou o Brasil da zona de risco, mas deu novo ânimo aos investidores. Basta ver que, na semana passada, depois de muito lutar, o Ibovespa voltou a ultrapassar o recorde de 125.323 pontos, registrado em 8 de janeiro. Depois de os investidores estrangeiros terem alocado liquidamente na B3 (SA:B3SA3) recursos da ordem de R$ 33 bilhões, tivemos que conviver com fortes retiradas e, com os ingressos de maio (ainda sem mês encerrado), já retornamos ao patamar de R$ 29 bilhões.
O lado político que vem sendo determinante no comportamento dos mercados também sofreu alguma suavização nas últimas semanas, com as pesquisas sobre o governo de Bolsonaro reduzindo tensões e alguns solavancos diante de reformas estruturantes e ajustes. O próprio presidente deixou de polemizar sobre quase tudo e, aparentemente, já começou a campanha de reeleição, fazendo inaugurações de obras e viajando pelo país para comprovar sua popularidade.
Aliás, isso volta a ser um empecilho. Com a “motociata” na semana anterior e as manifestações contrárias do último fim de semana, o processo sucessório de 2022 para presidente e governadores fica completamente inaugurado com grande antecedência. Com isso, as chances de reformas profundas e ajustes na economia acabam reduzidas, principalmente por conta de mexerem diretamente no bolso do brasileiro e das empresas aqui domiciliadas.
A reforma tributária, que aparentemente já seria fatiada, fica mais comprometida, e a administrativa, que começou a andar, pode até não sair neste mandato presidencial. Ao contrário, vamos ter que nos preocupar com o populismo fiscal e as eventuais perfurações no teto de gastos.
Vamos torcer para que isso não ocorra, mas a sociedade deverá estar em alerta, pois não há saída: quanto mais tempo demorarmos para produzir os ajustes requeridos para colocar a economia no rumo certo, mais profundos eles terão que ser no futuro.
Ainda assim, poderemos pegar um pouco de carona na recuperação econômica global, e os mercados reagirão positivamente a isso, apesar de mais devagar.