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Brasil Está Barato. E Qual a Melhor Forma de Surfar Isso?

Publicado 23.08.2021, 12:42
CL
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Brasil está barato? Na última semana, tivemos diversos assuntos permeando a cena de investimento: Afeganistão, resultados das empresas de varejo nos EUA, o tal “tapering” do FED podendo começar muito em breve, entre outros.

Mas para nós brasileiros, não tem como não falar da cena local de investimentos no Brasil.

A meu ver, o mercado ligou o modo pânico. DI's saltaram, bolsa enterrou e muitos investidores jovens entraram em pânico. Afinal, o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso!

Tem muita gente falando muita coisa, colocando a culpa na política, no presidente e por aí vai. Mas penso que não é tão simples assim, tem mais caroço nesse angu e vou mostrar nessa tônica. Mas antes disso queria dizer que o Brasilzão não morreu nem vai morrer. Talvez seja meio aquele sentimento da música do Wesley Safadão com a Anitta: Brasilzão nos F gostoso e a gente gosta.

Sabe por que eu não te largo?

Cê faz gostoso ainda põe leite condensado

Mas vamos falar sério. Aquela “boca de jacaré” que comentei na semana passada abriu ainda mais exacerbando o cenário de investimentos nos EUA (linha preta) versus mercados emergentes (linha vermelha) e o Brasil (linha verde) – vide gráfico. O que esse gráfico mostra é que o investimento em bolsa de valores no Brasil e no mercado emergente não compensou o risco maior que esses mercados representam e já acumulam perdas no ano, ao passo que o mercado americano acumula alta de quase 20% no ano.

Investimentos na bolsa brasileira, dos EUA e emergentes

O que explica isso?

Muitos de vocês podem imaginar que a explicação para a fraca performance da bolsa brasileira se deve aos problemas e incertezas políticas de Brasília. De fato, incertezas são sempre precificadas no mercado para baixo…”na dúvida vende”. Temos uma situação fiscal nada boa, com um governo com uma popularidade caindo e a beira de uma eleição. Isso certamente não ajuda.

Mas veja que os mercados emergentes em geral também não vêm performando bem, logo, a fraca performance não é exclusividade do Brasil, mas também é encontrada na China, Turquia, Indonésia, entre outros.

Então penso que temos 2 fatores que ajudam a explicar e que vão além dos vetores tradicionais das inconsistências macroecômicas e políticas dos emergentes.

Fator 1: as commodities. Depois de um começo de ano em forte recuperação, diversas commodities passaram por fortes realizações (quedas de preços), em especial commodities metálicas e o petróleo – vide gráfico abaixo. Isso se deve à desaceleração da economia chinesa e americana – onde os últimos dados têm surpreendido pela ponta negativa.

Preço das commodities (Fonte: Thedailyshot)

E basta olhar um gráfico de mais longo prazo para ver que os mercados emergentes (linha vermelha) guardam uma correlação muito forte com os preços das commodities (linha azul) – vide gráfico abaixo. Em outras palavras, podemos dizer que os preços das commodities, intrinsicamente cíclicos e voláteis, influenciam e muito o desempenho dos mercados emergentes.

Preço das commodities e desempenho de emergentes

Fator 2: Já tem sido assim há tempos.

Dominic Toretto nos ensinou no filme Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio.

Velozes e Furiosos

Brincadeiras a parte, o gráfico abaixo compara a performance de mercados emergentes com mercados desenvolvidos. Essa diferença que vemos de forma mais clara agora, já existe há algum tempo. Desde 2012 pelo menos os mercados emergentes vêm apresentando uma performance mais fraca vis a vis desenvolvidos.

Performance de mercados emergentes e desenvolvidos

O Guilherme Zanin fez uma bela análise sobre isso, nos trazendo algumas vertentes de pensamento econômico.

Os emergentes estão defasados? Sim! Mas vão convergir? Apenas se você acredita que vamos ter o mesmo arcabouço institucional que as grandes nações possuem. Isso se chama em economia teoria de crescimento endógeno de Paul Romer’s, que destaca que países desenvolvidos tendem a manter ou até aumentar a vantagem competitiva. Essa teoria fica em oposição ao modelo de Solow de convergência das nações pobres contra as nações mais ricas.

O Brasil está barato ou o Brasil é barato?

Respondendo objetivamente a pergunta acima: sim para os dois.

Não gosto das comparações do mercado brasileiro com americano ou de países desenvolvidos porque sempre formos “descontados”. Então acaba que estarmos “mais baratos” frente ao mercado americano não nos diz muito. O maior risco que o investimento no Brasil faz com que historicamente a bolsa brasileira negocie com desconto grande ao mercado americano. Agora, depois das quedas recentes o mercado brasileiro parece barato quando analisamos diferentes métricas. Uma delas é bem simples, intuitiva e muito usada. A relação Preço/Lucro da bolsa brasileira (linha azul) atingiu mínimas quando analisamos um gráfico de longo prazo. Ademais quando comparado mesmo a emergentes (linha cinza) o Brasil apresenta um múltiplo menor (mais barato) que outros mercados.

Relação P/L da bolsa brasileira e de emergentes

Não é a toa que o JP Morgan lançou um report essa semana intitulado: “Estratégia de ações para o Brasil: Teste de estresse, oportunidade de compra”

Report JPMorgan

Pontos importantes sobre investir no Brasil

  1. Alocação.

Tradicionalmente o “gringo” (investidor estrangeiro) vê o investimento no mercado brasileiro como “tático”, “uma alocação de curto prazo”, “especulativa” que visa aproveitar uma assimetria temporária. O Brasil, assim como outros emergentes, não é visto como um porto seguro a investimentos de maior porte (maior parcela de alocação do capital).

O que estou querendo dizer com isso é que, mesmo estando interessante aproveitar eventuais oportunidades no Brasil, a alocação destinada a Brasil, normalmente é pequena em proporção a carteira total de investimento. Diferente do brasileiro, o “gringo” não aloca uma parcela relevante do seu capital no Brasil. Por que o brasileiro deveria fazê-lo então?

O que estou dizendo é que talvez seja hora de você repensar sua carteira total de investimentos, direcionando sim parte ao Brasil, mas que talvez essa “parte” não seja a mais relevante no seu portfolio.

  • Qual é a melhor forma de investir no Brasil?

A melhor forma de se aproveitar de oportunidades no Brasil é justamente através do mercado americano!

Como assim?

Existem mais de 80 empresas brasileiras que possuem ações ou ADRs negociadas no mercado americano; além de alguns ETF's que permitem exposição ao mercado brasileiro. A vantagem de investir no Brasil através do mercado americano é a da moeda, dado que aqui você investe em dólares.

E por que isso é importante?

Supondo que essa tese de investimento no Brasil “não dê certo” … supondo que as coisas piorem no Brasil e a percepção de risco se eleve mais (bate na madeira 3x), qual seria o impacto mais óbvio? O de uma valorização do Dólar frente ao Real. Ou seja, é como você tivesse o que chamamos de hedge (proteção) a um cenário inverso ao da posição assumida na sua carteira. Historicamente a exposição ao câmbio oferece diversificação durante quedas do mercado de ações. A tabela da Pimco mostra claramente isso:

Dados Pimco

A ideia aqui é a seguinte…você investe no Brasil porque ele está barato, um valuation pornográfico que aceita muito desaforo. Se você estiver certo, vai ver suas ações se valorizar e ganhar dinheiro. Ótimo! Mas se o fiscal degringola, inflação aumenta, país não cresce, eleição assusta etc … Por qualquer um dos “n” motivos que podem fazer com que as ações não se recuperem, você tem uma espécie de hedge. Sim, as ações podem cair mais, mas se a situação piora muito, teríamos uma tendência a ver o dólar se valorizar e você veria uma certa “compensação” dessa perda através do investimento dolarizado…algo que não acontece se você investe diretamente no Brasil.

Pense a respeito.

Era isso pessoal, aquele abraço!

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