O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 21.37 centavos de dólar por libra-peso para o contrato com vencimento março-25, acumulando 37 pontos de alta – pouco mais de 8 dólares por tonelada – em relação à semana anterior. Os meses seguintes, maio-25 e julho-25 também apresentaram desempenho positivo, embora menor, subindo 16 e 6 pontos, respectivamente. Do vencimento outubro-25 em diante, provavelmente tendo a desvalorização do real frente ao dólar como principal gatilho, as quedas oscilaram entre 2 e 61 pontos (quase 13 dólares por tonelada).
As nuvens pesadas advindas da insatisfação do mercado financeiro com a condução da economia por Lula e seus asseclas projetam juros maiores adiante e a desconfiança em relação ao ajuste fiscal pressiona o real. Dezembro é um mês que as empresas multinacionais remetem os lucros para as matrizes e isso deverá trazer também maior procura pela moeda americana desvalorizando o real. Esta semana o câmbio se desvalorizou 2% frente ao dólar, encerrando a sexta-feira a R$ 6.0892 (as 18.30 horário de Brasília).
As usinas continuam fazendo a lição de casa aproveitando o “surto psicótico” do real para aumentar as fixações tanto da safra 25/26, que acreditamos estar em torno de 50-55%, quanto da safra 26/27, que podem chegar a 10%. Os valores obtidos em reais por tonelada, se comparados com um período de 25 anos com preços corrigidos pela inflação, estão no topo dos 10% aproximadamente. Isto é, em um quarto de século, os preços estiveram abaixo desses valores em 90% das vezes. É ou não é para se fixar? Se possível, a fixação para outubro-25 em diante ser acompanhada da compra de uma call (opção de compra) com preço de exercício 200 pontos acima do nível de fixação em NY.
O mercado mundial de açúcar segue em um cenário de transformações dinâmicas, com mudanças estruturais e conjunturais influenciando tanto a produção quanto o consumo global. Observando os dados apresentados esta semana pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), temos um panorama interessante que revela tendências importantes e desafios futuros para o setor.
Nos últimos dez anos, a produção mundial de açúcar cresceu a uma taxa de 0,53% ao ano, enquanto, nos últimos cinco anos, essa taxa se acelerou para 0,75% ao ano. Se dividíssemos em quinquênios, o primeiro (da 15/16 a 19/20) teve um crescimento anual de 0,31% e o segundo de 0,75% perfazendo a média de 10 anos de 0,53%. Note a aceleração de um quinquênio para o seguinte. Brasil e Índia despontam como os principais motores desse crescimento.
Apenas no último ano, se comparado com a média da década anterior, o Brasil adicionou 5.9 milhões de toneladas à produção mundial enquanto a Índia contribuiu com 3.6 milhões de toneladas. Contudo, vale ressaltar que essa concentração pode ser um ponto de vulnerabilidade: 56% do crescimento da produção nos últimos cinco anos foi responsabilidade do Brasil, um fator que pode gerar instabilidade, caso ocorra algum evento adverso nesse mercado. É aquilo que tenho repetido, se o Brasil pegar uma gripe, o mercado mundial de açúcar pega uma pneumonia dupla.
Por outro lado, o consumo mundial também apresenta uma trajetória de expansão, com taxas anuais de crescimento de 0,66% nos últimos dez anos e 0,93% nos últimos cinco anos, que se divididas em dois quinquênios mostra uma vigorosa evolução de 0,39% para 0,93%, é uma indicação que o próximo quinquênio deverá ter uma expansão anual acima de 1%.
A recuperação do consumo pós-pandemia de COVID-19 se mostra um dos fatores positivos, indicando que a demanda global está voltando a níveis mais saudáveis. Mercados asiáticos lideram esse crescimento, com Índia, Paquistão e Indonésia representando impressionantes 88% do aumento global no consumo na última década. Este dado ressalta o papel da Ásia como um motor de demanda, além de seu potencial de crescimento no consumo per capita, que ainda se encontra abaixo da média mundial.
Ainda olhando para a dinâmica de consumo, é interessante notar as disparidades regionais. Enquanto países como Indonésia e Paquistão mostram aumentos expressivos de consumo per capita, Brasil e México enfrentam fortes retrações. Essa diferença reflete mudanças no comportamento dos consumidores, desafios econômicos e, possivelmente, alterações nos padrões dietéticos.
As projeções futuras indicam que o consumo global deve atingir 191,5 milhões de toneladas em cinco anos, adicionando 41,4 milhões de toneladas (somando as cinco safras) ao acumulado da safra 2024/25. A participação brasileira nesse incremento é estimada em 18,6 milhões de toneladas de açúcar (somando as 5 próximas safras), reforçando a necessidade de planejamento robusto por parte do setor sucroenergético nacional para atender essa demanda crescente. A produção de cana-de-açúcar necessária para sustentar essa expansão será significativa, representando um desafio operacional e logístico, lembrando que não está na equação o crescimento na demanda do ciclo Otto que não deverá ser tímido.
O balanço global de oferta e demanda apresenta um cenário de superávits e déficits que variam conforme as condições climáticas, políticas de suporte ao setor e níveis de estoques. O monitoramento constante desses fatores é essencial para antecipar movimentos de mercado e proteger margens. No entanto, se projetarmos o crescimento da produção e o aumento do consumo nos níveis que percebemos nos últimos 10 anos, a tendência é que em 2-3 safras o déficit passa a ser estrutural. Quem pode prover o mundo com mais açúcar e quem possui área para expansão da cultura de cana?
Em suma, o mercado de açúcar está em uma encruzilhada de oportunidades e desafios. O crescimento acelerado do consumo, especialmente na Ásia, representa uma oportunidade sem precedentes para produtores e exportadores. Contudo, a dependência de poucos players, como Brasil e Índia, e os riscos inerentes à produção agrícola demandam estratégias de gestão de risco eficazes. A tendência também para a próxima década é de maior presença de empresas baseadas no continente asiático no trading internacional.
Manter-se atualizado com análises detalhadas, projeções bem fundamentadas e uma abordagem estratégica é mais crucial do que nunca. O futuro do açúcar é promissor, mas exige atenção, planejamento e, acima de tudo, agilidade para adaptar-se às rápidas mudanças do cenário global. O convite para os leitores é claro: acompanhem as análises, planejem seus movimentos e estejam sempre um passo à frente no mercado.
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Análise técnica (Marcelo Moreira): Os vencimentos Março-25 e Julho-25, após negociarem nas mínimas da semana respectivamente a 20.70 e 18.78 centavos de dólar por libra-peso, encerraram a 21.81 e 19.53 centavos de dólar por libra-peso. O vencimento Março-25 encontrou forte suporte na média móvel dos 200 dias (fechando a semana a 20.84 centavos de dólar por libra-peso), enquanto o vencimento Julho-25 encontrou suporte na média móvel dos 100 dias (fechando a semana a 18.88 centavos de dólar por libra-peso). Nos últimos 18 pregões, essas médias móveis foram testadas cinco vezes, com os “comprados” defendendo esses suportes. As próximas resistências para o Março-25 estão em 21.97 e 23.05 centavos de dólar por libra-peso, e para o Julho-25 em 19.53 e 20.28 centavos de dólar por libra-peso. Atenção ao spread “Out-25/Março-26”, que encerrou a semana em 5 pontos de carrego! Pode ser um excelente ponto de entrada!