Os mercados reagem positivamente nesta semana a duas indicações relevantes, uma nos EUA e outra no Brasil. Ambas se relacionam à trajetória da inflação nas respectivas jurisdições e têm impacto significativo sobre a precificação dos juros à frente. Em ambos os casos, a inflação registrou variação amena e abaixo do esperado pelo mercado, com destaque para a deflação registrada no IPCA aqui no Brasil.
O IPCA de julho registrou leitura de -0.68%. Pelos grupos, destaque para retração de -4,51% em transportes e -1,05% em habitação. Nas contribuições positivas, nota-se avanço de 1,3% em Alimentação e Bebidas e 1,03% em despesas pessoais. As aberturas mostram variação de -4,35% nos administrados, enquanto preços livres avançaram 0,65%, praticamente em linha com nossas expectativas. A alimentação fora do domicílio merece destaque, com desaceleração menor do que o esperado em relação ao mês anterior.
Acreditamos que o cenário inflacionário permanecerá benigno para o mês de agosto, dado o corte de preço de gasolina anunciado pela Petrobras (BVMF:PETR4) no final de julho. No entanto, a dinâmica do mercado de trabalho e a nova rodada de estímulos fiscais representam riscos altistas no médio prazo, contrapostos tanto pela dinâmica recente de commodities, como pelo aperto monetário.
De toda forma, a perspectiva inflacionária reforça a tese de que o Banco Central tenha chegado ao final do ciclo de Selic. Teríamos de observar uma deterioração muito significativa nos fundamentos da inflação, com impacto evidente sobre as expectativas de 2023 e 2024, para levar o Copom a elevar novamente a taxa de juros em setembro. Portanto, reforçamos nossa perspectiva de Selic estável em 13,75% daqui em diante.
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor teve leitura abaixo do esperado tanto no headline quanto no índice subjacente. O índice cheio registrou variação de 0% (esperado: 0,2%), enquanto o core avançou 0,3% (esperado: 0,5%).
Por dentro do índice, nota-se os alimentos ainda pressionados (1,1%), entretanto, observa-se reversão na parte de energia (-4,6%). Esta reflete amplamente a queda nos combustíveis, com destaque para gasolina (-7,7%). Por outro lado, os serviços energéticos apresentaram avanço marginalmente positivo (0,1%), porém bastante abaixo da leitura anterior (3,5%).
O índice teve leitura favorável na visão do mercado, com a significativa redução na variação mensal trazendo alívio para a precificação de juros de curto prazo. Alerta-se, no entanto, que a manutenção de variações de 0,3% no índice mensal subjacente ainda implicaria em uma inflação no intervalo de 3,6% – 3,7% no final do ano que vem, significativamente acima da meta do FED e de suas projeções.
O mercado de trabalho aquecido sugere que a pressão sobre os serviços subjacentes perdurará, o que por sua vez argumenta a favor de uma taxa de juros mais alta do que o atualmente precificado.
Ou seja, enquanto nosso cenário prospectivo aponta para juros estáveis no Brasil, a indicação dos EUA é que possivelmente o aperto poderá se estender para além do esperado atualmente. No entanto, fica claro também que o trigger mais recente (a divulgação da inflação) não contribuiu para a materialização desta expectativa. Com isso, acreditamos que o mercado permanecerá em tom mais tranquilo até o final do mês, dado que o período de férias do hemisfério norte normalmente apresenta menor volatilidade.