Abordarei aqui um tema bastante importante no xadrez global do comércio exterior e mercado financeiro: as relações Brasil-China. Fazer pagamentos entre real (BRL) e renminbi (RMB) é algo que soa natural para quem tem pagamentos e/ou recebimentos a serem feitos com parceiros comerciais no gigante asiático.
Este, porém, é um assunto que tem sido acompanhado de perto nos últimos dias por nós, especialistas de mercado. A recente visita do presidente do Brasil ao líder chinês Xi Jinping trouxe à tona, afinal, discussões sobre realizar transações sem intermédio do dólar americano (USD).
Explorando esse assunto, essa possibilidade abre um leque de opções que podem intensificar e estreitar relacionamentos comerciais do Brasil com a China e diversos outros países do mundo, caso estes optem por utilizar o RMB em suas transações com os brasileiros, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. Isso ocorre pois:
- Ao se eliminar um intermediário de um processo, os custos financeiros atrelados tendem a reduzir. Esse ponto possibilita a redução de preços para importadores e, também, uma maior competitividade das empresas no que diz respeito à exportação de mercadorias;
- Ao se adaptar a um novo sistema de pagamento (como o CIPS, da sigla “Cross-Border Interbank Payment System”), também são geradas oportunidades em relação ao desenvolvimento de soluções financeiras de pagamento instantâneo para uso dos brasileiros nos países que são integrantes desse sistema;
- Ao se criar esse canal direto, o comércio exterior com países terceiros (como Rússia e integrantes do Mercosul) pode se fortalecer, e consequentemente as moedas utilizadas nas negociações (BRL e RMB).
Hoje, de modo geral, em algumas situações, pode ser acordado entre as partes envolvidas na transação o uso de uma moeda específica para a realização das operações comerciais. No entanto, as empresas que realizam operações de comércio exterior devem estar preparadas para lidar com diferentes moedas e taxas de câmbio, a fim de minimizar os riscos cambiais e maximizar os lucros. É comum, por exemplo, que as empresas utilizem ferramentas de gestão de risco cambial, como contratos de câmbio a termo ou opções de câmbio, para se protegerem contra flutuações nas taxas de câmbio. Usar a tecnologia como aliada nesse quesito, pode ser interessante.
Embora toda mudança precise de aprofundamento para a sua implementação, a atratividade gerada por esse novo fluxo é grande e vislumbra-se muitos potenciais ganhos para o comércio exterior brasileiro.
No mais, eu diria que essa mudança não significaria o fim do USD como intermediário para todo o comércio exterior brasileiro, mas, sim, uma alternativa que pode (e deve) resultar em processos operacionais e financeiros mais eficientes e sustentáveis, principalmente no que diz respeito aos custos e a diversidade de portfólio de produtos bancários. Vale ficar ligado e acompanhar os desdobramentos do tema.