Aparentemente o Brasil atravessa fase de baixo interesse para os investidores internacionais. Claro que a pandemia instalada pela Covid-19 tem seus efeitos, mas também não é só isso. Na verdade, a Covid-19 acelerou a aversão ao risco, deixou todos mais pobres (do rico ao efetivamente pobre) e houve corrida para sair de emergentes. Mas, por aqui, também tivemos motivos específicos.
A pandemia que nos atacou - e hoje já estamos na segunda posição no ranking do vírus - obrigou o governo a realizar esforços que não estavam no radar. Oficialmente, o secretário do Tesouro Mansueto de Almeida fala que o déficit primário pode chegar a R$ 700 bilhões, mas previsões mais causticas nos remetem a possibilidade de chegar até R$ 1 trilhão. Isso seria impensável antes da contaminação, quando as estimativas eram da ordem de déficit pouco superior aos R$ 100 bilhões.
Função ainda da Covid-19, todas as reformas estruturantes e absolutamente essenciais para o país foram abortadas, as empresas que seriam privatizadas perderam valor e não serão mais objeto de privatização nos próximos meses, e outras medidas que seriam adotadas foram perdendo prioridade, dentro da necessidade de salvar pessoas vulneráveis, empresas e setores da atividade com maior exposição aos impactos.
Pois bem, é bom esquecermos os dados de conjuntura por um tempo, pois serão certamente horríveis. É bom esquecer a recuperação em “V” para o Brasil, pois ela ficou quase impossível, mesmo com o otimismo sobre isso demonstrado pelo ministro Paulo Guedes. Na nossa visão, também podemos esquecer a privatização de Banco do Brasil (SA:BBAS3), citada por Guedes na fatídica reunião ministerial de 22/4. Nesse governo temos chance de privatizar Eletrobras (SA:ELET3), o que já seria um ganho.
No plano internacional, o Brasil tem sido muito citado de forma muito negativa pelas complicações políticas, descoordenação na política sanitária para tratar a explosão da Covid-19, claro pelos indicadores frágeis de conjuntura e pela retomada da recuperação quando a crise estiver sendo reduzida. Só para dar uma ideia, depois de mais de 70 dias de quarentena (ou seria setentena), as pessoas estão cansadas, a economia destruída e o Brasil vai abrir, ainda antes da inflexão da curva de contágio, o que certamente representa risco adicional.
Somos citados negativamente pelo FMI (Fundo Monetário), pelo Banco Mundial, pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e também por importantes instituições financeiras globais, como BofA (Bank of America), CS (Credit Suisse) e UBS; e ainda pelas agências de classificação. Recentemente o CS classificou o real como sendo uma moeda tóxica, e o nosso CDS (Credit Default Swap), uma espécie de seguro contra calote, que já andou abaixo de 100 pontos, transitava agora acima de 300 pontos. Isso sem contar a desvalorização cambial em 2020 perto de 30% (já esteve pior e beirando R$ 6) e os juros que ficaram desinteressantes para investidores e inviabilizaram operações de Carry Trade.
Querem um exemplo disso que estamos falando? Em abril, os investimentos diretos no país (IDP) foram somente de US$ 234 milhões, retroagindo a números de 1995. O desinvestimento em ações foi de US$ 2,5 bilhões e em renda fixa de US$ 4,87 bilhões, somente em abril. Na Bovespa, as saídas líquidas de recursos em 2020 (até 22/5) estavam em R$ 77 bilhões, contra saídas em 2019 de R$ 44,5 bilhões.
Poderíamos mostrar outros exemplos, mas o que queremos demonstrar é que vamos precisar fazer uma CRI (campanha de recuperação de imagem), assim que conseguirmos sair dessa crise, retomando reformas estruturantes ainda mais profundas, sinalizando como vamos fazer para enxugar tudo que foi feito no orçamento de guerra e como atrair novamente investidores locais e principalmente os internacionais.
Mas o Brasil, historicamente, nunca foi um bom exemplo nisso. Por aqui, os gastos se tornam permanentes com enorme facilidade e a carga tributária sempre aumenta para compensar, o que retira atratividade do País.
Alvaro Bandeira é Sócio e Economista-chefe do banco digital modalmais