*Texto originalmente publicado no LinkedIn do autor
O cenário para a economia brasileira em 2021 será marcado pela superação da pandemia e saída da recessão. Apesar deste quadro positivo, o nível de incertezas continua atipicamente elevado e os desafios de 2022 são relevantes, o que explica alguma cautela nas projeções.
Alguns movimentos já presentes no cenário deverão ter continuidade e consolidar a retomada econômica. É o caso do crescimento global, juros baixos no Brasil, responsabilidade econômica e vacinação.
O primeiro motor da recuperação é o forte crescimento global. Tudo indica que os Estados Unidos estejam em início de ciclo e a China continue sua trajetória de crescimento, ainda que a ritmos decrescentes. Historicamente, o Brasil se beneficia dos impulsos externos por meio dos preços de commodities, mesmo que a intensidade destas respostas varie ao longo do tempo. Reflexo deste quadro é um superávit comercial que deve caminhar para o patamar de US$ 80 bilhões e permitir um déficit em conta corrente ao redor de 1,0% nos próximos anos.
O segundo fator que impulsiona a retomada é a taxa local de juros. Com o IPCA em 4,6% neste ano e em 3,6% em 2021, o cenário provável é que os juros voltem ao seu patamar neutro, hoje estimado pelo mercado em algo próximo a 6,5%. Mesmo assim, os juros reais devem seguir em padrões históricos muito baixos, mantendo os incentivos para que parte relevante da poupança financeira do País seja direcionada para a produção e consumo.
Da mesma forma, a competição política em um ambiente de dívida pública e desemprego elevados é um incentivo para maior responsabilidade na gestão da economia. Isso inclui tanto escolhas de políticas fiscais e monetárias quanto avanços incrementais de reformas e do programa de concessões e privatizações. Não por outro motivo, as regras econômicas têm sido mantidas e a agenda de reformas voltou para a pauta no Congresso. Como resultado, o quadro político e fiscal torna a economia mais previsível, favorecendo a retomada.
O último fator que favorece a saída da recessão é o encaminhamento da vacinação, ainda que em um ritmo incerto. Vale notar que as novas ondas têm produzido impactos menores sobre crescimento em função da digitalização da economia e adoção de protocolos sanitários, o que eleva a confiança na reabertura da economia.
Todos estes fatores abrem espaço para dinâmicas favoráveis e defasadas nos mercados de trabalho e de crédito, reforçando o próprio ciclo econômico. A recessão de 2020, atipicamente, não está sendo acompanhada por uma crise financeira e os indicadores econômicos divulgados até o momento superaram as expectativas e confirmam um cenário mais otimista, fazendo com que o crescimento este ano possa oscilar ao redor de 3,5%. Com isso, dificilmente a economia irá caminhar para um segundo mergulho recessivo.
A boa fase a partir de agora não implica, no entanto, um cenário com poucos ruídos e menos turbulências. O primeiro trimestre mostrou como o cenário é imprevisível. A elevada dívida pública no Brasil, oscilando próxima a 90% do PIB, expõe o País a choques em um ambiente propenso a acidentes.
E há vários acidentes possíveis no cenário à frente. É provável que a tensão em relação à condução da política monetária nos Estados Unidos seja crescente e ocupe a agenda de 2022. Internamente, as eleições presidenciais devem ser polarizadas e competitivas, sendo acompanhada por debates sobre regras fiscais, aumento dos gastos públicos e programa de concessões e privatizações.
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Isso significa que ainda que o cenário para este ano seja positivo, 2022 traz desafios elevados e, à medida que entre no radar de investidores e analistas, pressione câmbio, inflação, juros e crescimento.