Os jornais do final de semana seguem tomados por notícias sobre a reforma tributária. As discussões seriam travadas em outubro, e só seriam aprovados os itens de maior consenso.
A oposição diz que o governo não está criando um entendimento. Situação é otimista em relação aos pontos-chaves.
Ao contrário da Reforma da Previdência, que traria uma economia brutal para o fiscal e era urgente e inadiável, a Reforma Tributária visa simplificar e reorganizar o sistema. Ou pelo menos deveria fazer este papel.
Mas, a julgar pelo que estamos vendo até agora, a reforma traria também um novo aumento de carga tributária. A nova contribuição vinda da união do PIS e Cofins poderia ter uma alíquota de 12 por cento, onerando fortemente o setor de serviços.
Novamente, entramos em um espiral de baixa produtividade no país. Começando com uma necessidade de aumento de gastos, que desta vez veio por causa da pandemia. Essa despesa faz crescer a dívida, e a preocupação com a sua sustentabilidade.
A necessidade de gastos aqui, que deveria ser combatida com redução de gastos acolá, é na verdade combatida com o aumento de impostos. O aumento de impostos é repassado para os preços e criamos uma economia pesada, ineficiente e de baixa competitividade.
Nossa economia não sendo eficiente gera baixo crescimento, o que prejudica o pagamento da dívida, que por sua vez aumenta a necessidade de gastos.
É um círculo vicioso que estamos vivendo desde 1999. Um contínuo aumento da carga tributária. Enquanto isso, somos um país inchado, ineficiente e com saúde e educação de baixa qualidade.
Me perdoe o pessimismo em plena segunda-feira, mas é que dá muita tristeza ver que mais uma vez vamos encarar o aumento de gastos dessa forma.
Aumentar os gastos é ruim?
O aumento de gastos em si não é um problema, se ele vem para financiar um setor produtivo e gerar maior crescimento futuro, como explicou o economista Armínio Fraga na sua coluna da Folha neste domingo.
Mas não é o nosso caso. O nosso aumento de gastos veio para financiar o Coronavoucher, que era necessário, mas que não vai gerar crescimento.
Por outro lado, estamos aumentando nossa dívida e chegaremos até o ano que vem em uma dívida bruta de 100 por cento do PIB.
Além de tudo isso, estamos encurtando o prazo médio da nossa dívida. O Tesouro reduziu fortemente a colocação de títulos longos durante a crise, para não piorar as taxas de juros do mercado.
Ele passou a emitir mais pós-fixados que, com a queda da Selic, baratearam muito o financiamento da dívida pública. Por outro lado, reduziram bastante o prazo médio da dívida, de 4,5 anos em 2016 para 3,7 anos hoje, segundo o próprio Armínio.
O aumento da dívida com redução do prazo médio nos deixa em uma situação muito delicada para o futuro. Ficamos com uma margem de manobra muito estreita para se financiar.
Qualquer nova crise ou baixo crescimento aciona a bomba-relógio. Se tivermos inflação e necessidade de aumentar mais rápido a Selic então, nem se fala.
Seus investimentos
Por isso que eu sigo falando que não gosto de investir nos juros longos.
É preciso tomar muito cuidado com este tipo de investimento.
Muitas pessoas possuem fundos passivos, de IMA-B, por exemplo, ou títulos como IPCA ou prefixados, que performam muito bem desde 2016.
Os investidores deste tipo de título passaram 4 anos vendo rentabilidades maravilhosas, e por isso seguem nesses investimentos.
Mas esses retornos só foram possíveis por conta de uma tendência inédita no Brasil e no mundo de quedas enormes das taxas de juros.
O gráfico abaixo mostra o comportamento dos juros prefixados de 5 anos no Brasil desde 2015. Podemos ver claramente a tendência de queda.
É muito importante você notar que para seguir ganhando com esse tipo de investimento, teria que seguir ocorrendo novas quedas nas taxas.
Mas note que em 2020 os juros de 5 anos estão mais estáveis, pois já chegaram muito próximos do "juro neutro", estimado pelos economistas.
O juro neutro seria o juro estrutural do Brasil, que reflete a realidade macroeconômica do país, e não inflaciona nem deflaciona a economia.
Ou seja, o juro longo atual está muito próximo do neutro, deixando pouco prêmio para quem vislumbra ganhos de marcação a mercado.
Vejo muitas pessoas dizerem que os juros longos poderiam cair mais, pois a Selic está próxima de 2 por cento. Mas esse é um erro enorme, pois o Brasil não é a Suiça, e a nossa taxa curta está temporariamente baixa por conta da crise.
Assim que a economia se estabilizar voltaremos a ter uma taxa de juros alinhada com os nossos fundamentos. Ou seja: voltando a subir.
Sendo assim, se há alguma taxa fora do lugar, é a taxa curta e não a taxa longa.
Sem contar que investindo nos juros longos você ainda corre todo o risco das taxas longas voltarem a subir, por conta dos riscos fiscais que eu mencionei no início do artigo, e você pode acabar tendo prejuízo de marcação a mercado.
Gestão ativa
A renda fixa, assim como a sua carteira de ações, deve ser gerida de uma maneira ativa.
Quando os títulos estão baratos você deve comprá-los, e quando estão caros, deve vendê-los.
Pegamos essa queda maravilhosa das taxas de mercado desde 2016 até 2019. Entramos novamente nos títulos longos durante a crise, quando as taxas subiram fortemente. Ganhamos muito com toda a marcação a mercado da queda das taxas.
Agora, estamos focados nas diversas oportunidades de crédito privado para seguir rentabilizando nossa carteira, mas sem correr o risco dos juros longos em um momento de piora fiscal.
Veja que ser ativo em renda fixa não significa comprar e vender todo dia. Carregamos nossas posições por 4 anos, antes de mudar o rumo da carteira (2016, 2017, 2018 e 2019). Em 2020 fizemos uma operação de 6 por cento em apenas 1 mês.
As oportunidades variam de periodicidade. Mas sempre aparecem. E é preciso estar atento o tempo todo.
Um abraço e uma boa semana.