Agora não é somente uma possibilidade, mas tudo parece se encaminhar para que Jair Bolsonaro chegue à Presidência do país. A pesquisa feita pelo Ibope e divulgada no início da noite desta segunda-feira mostra isso de forma quase definitiva, caso não haja nenhuma grande reviravolta por fatos comprovados contra o candidato.
O Ibope mostrou que Bolsonaro detém 59% das intenções de voto e Haddad ficou somente com 41%. Mais que isso, a rejeição de Bolsonaro caiu para 35%, enquanto a de Haddad subiu para 47%. Cerca de 41% dos entrevistados disseram não mudar o voto em Bolsonaro, enquanto Haddad ficou com 28% de fidelidade. Considerando votos nulos e brancos, o percentual chega a 9% e com 2% de indecisos. Como consequência disso, Haddad teria que tirar votos de Bolsonaro para ser o vencedor, e nesse momento parece pouco razoável.
Como acontecia com Lula em seus áureos tempos, nada parece colar em Bolsonaro, ao mesmo tempo em que Fernando Haddad parece capturar toda a rejeição atribuída ao PT, Lula, Dilma e companhia. Igualmente, nessa reta final e faltando menos de duas semanas para o segundo turno, muitos são os partidos e políticos que tentam se descolar do PT, dificultando a tal frente ampla ligada a Haddad.
Ciro Gomes deu linha e foi para a Europa descansar, o PDT, seu partido, não fechou apoio, e Cid Gomes acabou destemperado em vídeo que viralizou nas redes sociais. A última carta de reação do PT é para suavizar seu programa de governo, retirando as partes mais polêmicas do texto.
Já Bolsonaro, cuja eleição é dada como certa pela consultoria Eurasia, com 85% de probabilidade, não precisa fazer muito. Aliás, não precisa fazer nada. Basta se “fingir de morto”, não entrar em provocações e deixar de abordar temas polêmicos. Se conseguir arranjar um atestado médico para não participar de debates melhor ainda para sua candidatura. Porém, isso não seria bom para o Brasil.
O ideal seria que os candidatos debatessem em rede nacional os programas de governo em alto nível, não só dizendo o que farão, mas fundamentalmente como farão, dada a situação de recursos escassos e problemas graves do ponto de vista econômico e fiscal. Mais que isso, quais reformas farão, com que abrangência e profundidade e com que celeridade.
Bolsonaro e seu partido (PSL), que deixou de ser nanico e baixo clero para ser possivelmente a maior bancada da Câmara, certamente terão outras responsabilidades e sobre elas terão que interagir. Bolsonaro também terá que aprender a ser presidente já no exercício do cargo, o que não parece ser fácil diante do quadro grave local e da situação internacional em mutação.
Possivelmente, no início de seu mandato, Bolsonaro, que se diz não afeito ao modelo “toma lá e dá cá”, governará com a sociedade e respaldado nos votos recebidos nas urnas. Porém, isso serve muito para o curto prazo, mas é imprestável para o médio e longo prazo, caso o sucesso de seu governo comece a declinar e vá perdendo o apoio da sociedade, às voltas com desemprego, inflação alta, baixo crescimento, dívida em forte expansão, insegurança jurídica tolhendo investimentos, etc.
Se e quando essa estratégia falhar, o Congresso Nacional desprezado e/ou pressionado num primeiro momento cobrará caro pelo apoio tardio, e Bolsonaro poderá se complicar. Assim, caso Bolsonaro vença as eleições de 28/10, terá esses dois meses de 2018 para ajustar sua equipe e elaborar a transição, e depois algo como seis meses para ir mostrando resultados e seduzindo os investidores externos e locais, em clima de contração da liquidez global.
Apesar disso, os mercados podem reagir positivamente nos primeiros momentos, mas vão precisar de muitos resultados e mudanças para engatar tendência mais consistente de médio e longo prazos.
Vamos ter que torcer muito pelo Brasil!