Bolsa é PIB?

Publicado 06.06.2020, 11:38
Atualizado 09.12.2024, 07:36
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Mesmo com projeções tímidas para o PIB de 2020 e com tensões políticas e sociais recorrentes nas mídias e nas ruas, o Ibovespa rompia as barreiras dos 119 mil pontos em janeiro, permanecendo assim até meados da primeira semana de março, quando ainda tínhamos um índice que trabalhava acima dos 107 mil pontos (04/03/2020).

Entretanto, com o aumento dos índices de óbitos e contágios da COVID-19 e os seus impactos na economia real, foi possível testemunhar a desintegração dos cento e poucos mil pontos, para algo em torno dos 63 mil pontos ainda em março (23/04). O PIB, por sua vez, com toda sua fragilidade inerente à ressaca do pífio ano de 2019, viu suas projeções variando de +1,2%, para um recuo na casa dos 4,5% a 5,5%.

Ao observar essa movimentação, é fácil vincular o fator Ibovespa com o PIB. Ou seja, mercado financeiro e economia real trabalhando em concomitância. Entretanto, hoje, com a ampliação do apetite dos investidores internacionais por risco global e mesmo com as preocupações com a política nacional; com a questão fiscal; a imprevisibilidade sobre as reformas; e mais uma recessão econômica aguda, vemos uma entrada massiva de recursos internacionais, derrubado o dólar dos R$ 5,89 (13/05), para um trajeto que deve se consolidar abaixo dos R$ 5,00 nos próximos dias, e a Bovespa acima dos 90 mil pontos e com grandes possibilidades de chegar aos 100 mil pontos nas próximas semanas. Ou seja, hoje, o PIB não é Bovespa.

Realmente, “PIB não é Bolsa”. A explicação é a seguinte: primeiro, que as empresas listadas na bolsa brasileira e que compõem o índice IBOVESPA são grandes empresas o que não reflete por exemplo a maioria das empresas em atividade no país, em que mais de 90% são empresas micro e pequenas. Então, vamos aos dados: atualmente o IBOV tem como seus principais setores na sua composição na carteira teórica vigente até agosto/2020: 1) financeiro com 21,17%; 2) petróleo e gás com 12,52%; 3) e mineração com 10,98%, somados isso é quase metade do índice. As empresas compreendidas estão nomes como: ITAÚ (SA:ITUB4), BRADESCO (SA:BBDC4), PETROBRAS (SA:PETR4), VALE (SA:VALE3) e outras blue chips (empresas de primeira linha).

Assim, do ponto de vista corporativo quando pensamos no impacto, por exemplo da redução da taxa de juros sobre a economia e os negócios, essas empresas são as primeiras a se beneficiar. O custo de capital e facilidade de acesso para as empresas listadas e que compõem o IBOV dificilmente supera IPCA+5% ao ano, com prazos que podem chegar a 20 anos na captação de recursos, e ainda existe a possibilidade de “follow on” ou seja lançar novas ações ao valor de mercado vigente, captando dinheiro no mercado sem contrair dívida, apenas vendendo participações “equities”. Em resumo essas empresas listadas têm vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes, logo se valorizam.

Então, quando você hoje olhar para o Índice Bovespa e observar os indicadores da economia real poderá achar assustador a discrepância, pois em termos de valor de mercado as 75 empresas que compõem o IBOVESPA valem R$ 3,2 trilhões de reais (04/06/2020) e o PIB brasileiro inteiro calculado pelo IBGE em 2019 foi de R$ 7,3 trilhões de reais, isso já demostra o tamanho e o poder dessas empresas.


Thiago Monteiro - Professor de Economia
Thobias Silva – Economista
Ambos são Cenaristas

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