A Bolsa de Valores de São Paulo tem hoje mais de 4 milhões de CPFs cadastrados. É uma quantidade pequena se compararmos a países como os Estados Unidos, por exemplo. Lá, mais da metade da população investe no mercado financeiro. Mesmo assim, os números da B3 (SA:B3SA3) são surpreendentes se considerarmos que, em dezembro de 2019, existiam 1,68 milhões de CPFs na base de dados da B3. Essa corrida para a renda variável aconteceu porque a taxa básica de juros estava muito baixa – a Selic chegou ao patamar de 2% ao ano – e muita gente tirou o dinheiro da renda fixa para buscar mais rentabilidade em ativos de maior risco.
Esse movimento é importante porque tirou parte dos brasileiros da zona de conforto. Quer coisa melhor do que ter bons retornos sem ter o mínimo de preocupação? É o que acontecia com os juros nas nuvens. Mas não era um ambiente saudável para a economia como um todo. A questão está no fato de que a maioria desses investidores não estavam preparados para a renda variável. Investir em ações é, sim, uma forma interessante para a multiplicação dos recursos financeiros, mas é preciso ter muita atenção e bom conhecimento para se dar bem. O conselho dos especialistas é de que o investidor não pode ter pressa ao escolher a Bolsa. Os ganhos são possíveis no longo prazo. Tentar lucrar de um dia para outro só é viável para os experientes especuladores.
O conselho parece bom, mas não é bem assim. O que é longo prazo? Temos como exemplo um levantamento recente da Comdinheiro mostrando que o Ibovespa foi o pior investimento em 10 anos, perdendo até para o CDI. Quem investiu no Ibovespa no dia 31 de agosto de 2011 e retirou o dinheiro apenas no dia 31 de agosto de 2021 obteve rentabilidade de 110,25%. Surpreendentemente o percentual é inferior aos 125,84% ganhos por quem escolheu um ativo indexado ao CDI para deixar seus recursos no mesmo período de tempo.
Nesta mesma base de comparação, o dólar valorizou 224,05%, sendo o ativo com a melhor performance entre aqueles pesquisados pela Comdinheiro. O ouro teve o segundo melhor desempenho (214,28%) seguido do IMA-B, indicador que acompanha o rendimento dos títulos Tesouro IPCA+ e que rendeu 202,96%. O IHFA (Índice de Hedge Funds ANBIMA) gerou retorno de 171,20% e o Euro, moeda da Comunidade Econômica Europeia, 165,47%.
Em outras palavras, quem escolheu o Ibovespa durante esse período se esforçou muito para ganhar pouco. Isso não significa que a Bolsa seja um lugar ruim para se investir e sim que não é um lugar para amadores. Mesmo nesse período houve quem tenha obtido retornos bem superiores investindo em ações específicas ou perdido muito, o que pode ser explicado com uma única palavra: volatilidade.
Como vemos, simplesmente deixar o dinheiro parado pode não ser a melhor opção. O levantamento em questão tem como base um período de 10 anos, muito tempo para, no fim, ter um retorno menor do que o que seria obtido com o CDI. Ocorre o seguinte. A Bolsa sobe e desce o tempo todo. É possível que nesse mesmo período, investidores profissionais tenham conseguido rentabilidades muito superiores ao que foi levantado. Mas isso só foi possível porque eles não deixaram simplesmente o dinheiro parado. Pelo contrário, venderam e compraram ações conforme a movimentação do mercado.
O conselho de esperar o longo prazo é válido para quem investiu em uma ação ou conjunto de ações que teve queda. Se o investidor ficar desesperado e sacar ele terá perdido dinheiro. Então, é preciso esperar o tempo necessário para o papel atingir uma valorização que lhe confira lucro. Mas não precisa ser assim. Há outra forma de ganhar dinheiro com a Bolsa, mas que exige muito conhecimento. Então, quem não tem experiência pode se apoiar no trabalho de traders, profissionais do ramo com conhecimento e experiência no mercado. Com o apoio desses profissionais é possível ganhar dinheiro no curto prazo e até mesmo de um dia para outro.
É preciso entender que a queda do Ibovespa não significa que todos os papeis se desvalorizaram. Quem confiou na experiência de um bom trader, certamente lucrou muito mais nesse mesmo período porque ele tem o entendimento e a agilidade para vender e comprar ativos no momento certo. Ou seja, multiplica-se o dinheiro no longo prazo, com ganhos obtidos no curto e reinvestidos. Bolsa não é renda fixa para só dar retorno, nem o antigo overnight, que rendia diariamente. É preciso ter jogo de cintura para investir em ações.
Fora isso, vale aqui o bom e conhecido conselho de nunca colocar todos os ovos na mesma cesta. O ideal é diversificar as ações não só por empresas, mas também por segmentos da economia. Deixar uma parte em renda fixa como reserva de emergência, e em outros ativos. Não é porque o mercado se comportou de uma maneira nos últimos dez anos que ele vai seguir o mesmo caminho na próxima década. Pode acontecer o contrário, nunca se sabe.