A receita para Special Purpose Acquisition Companies (SPACs) em 2020 misturou cheques em branco lastreados por celebridades com um mercado em alta com fluxo de capital e investidores ávidos por retornos de crescimento nos EUA. Com mais de 248 IPOs de SPAC, a atividade do ano passado foi quase o dobro dos três anos anteriores combinados. E em 2021, já vimos mais IPOs de SPAC do que todo o ano passado combinado.
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Esses são os elementos de uma bolha SPAC. Muito embora haja alguns investidores marginais e outros sem experiência entrando na rodada, nunca houve um número tão grande de patrocinadores de alta qualidade no mercado. Muitos investidores acreditavam que as SPACs eram uma onda passageira, mas, de acordo com o PE Exit Trends webinar, mais de 73% desses investidores considerariam uma opção de saída viável. O mesmo público prevê que as SPACs serão um dos veículos de saída mais comuns das empresas de Private Equity (PE) neste ano.
A SPAC costumava ser um veículo de investimentos um pouco indigesto e antiquado, tendo em vista que um pool de capital em busca de retornos de investimento, não parece atrair atenção por si só. A entidade negocia como uma estrutura completa apoiada por um patrocinador e uma equipe de negociação que tem 24 meses para se identificar e se fundir com um target. Os três estágios - IPO inicial de cheque em branco; aumento de capital do PIPE assim que uma meta for identificada e fusão com o target - permitem que os investidores de varejo, em busca do efeito Robin Hood, apoiem uma equipe de negócios antes que a empresa-alvo seja identificada, bem como o capital privado.
De quem é o retorno?
Os patrocinadores, normalmente, obtêm os melhores retornos, com risco mínimo de baixa, boa economia e muitas vantagens por meio de garantias. Os vendedores enfrentam um cálculo um pouco mais complicado, mas desfrutam da tutela de um patrocinador, em troca de custos potencialmente mais altos. As empresas que não precisam de tutela podem pular a estrutura, como fez o Airbnb (NASDAQ:ABNB) (SA:AIRB34) quando rejeitou as SPACs que a sondavam e fez IPO por conta própria.
O que acontece com a bolha é mais uma questão de futuro. Agora, parece que a SPAC "democratizou o mercado", mesmo com muitas controvérsias, pois oferecem às empresas privadas um caminho alternativo para abrir o capital, obter uma listagem na bolsa de valores, uma base de acionistas mais ampla e um mercado líquido para suas ações. O número crescente delas pode ser um aspecto muito positivo ou muito negativo, pois cada vez mais nomes respeitados estão se juntando a empresas de alta qualidade e optando por vender para SPACs, inclusive como uma maneira de direcionar os recursos à América Latina e ao Brasil.
Por questões regulatórias, ainda não é possível criar uma SPAC no Brasil. Mas, enquanto a Anbima e a CVM discutem a viabilidade de captar e listar a SPAC no país, é preciso entender quem realmente obtém o retorno sobre elas e se são ou não apenas os fundos de PE iniciais que os estão patrocinando.