O ano de 2024 se encaminha para o seu final e as expectativas de inflação de 2025 e, especialmente, 2026 se tornam o foco principal dos analistas de mercado. Isso porque as decisões de política monetária têm uma defasagem entre 6 e 9 meses para surtir efeito na economia, e o novo regime de meta de inflação, que deixou de ser ano-calendário para uma meta contínua, inaugurou nos comunicados e na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a projeção da inflação ao consumidor em 6 trimestres adiante (18 meses).
A seca que assola boa parte do território brasileiro está levando impactos negativos imediatos no IPCA, índice oficial de inflação do país. Se a projeção do IPCA para este ano variava entre 4% e 4,2% antes dos efeitos da seca chegarem ao dia-a-dia da economia, com aumento do preço dos alimentos e a elevação da bandeira vermelha 2, devido ao menor nível dos reservatórios nas hidrelétricas, que encarece a conta da energia elétrica.
Agora, os economistas têm receios de que essa estirada nos preços no último trimestre de 2024 pode levar a uma inflação acima do teto superior da meta de inflação. O centro da meta atual é de 3% ao ano, com limite superior ou inferior de 1,5 ponto percentual. Ou seja, limite superior é 4,5% ao ano, patamar que chegou no acumulado em 12 meses em julho. A deflação em agosto aliviou esse temor, mas retorna agora com as projeções de inflação para setembro em diante.
Essa é a má notícia do Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (7). A mediana das estimativas dos economistas consultados pelo Banco Central é de um IPCA de 4,38% no fim de 2024, primeira alta em relação aos 4,37% projetados na semana passada e 4,3% há 4 semanas. A tendência é de deterioração, ainda mais que as projeções no Boletim Focus tendem a demorar a se atualizar. Com a divulgação do IPCA de setembro para a próxima quinta-feira, com expectativa de alta de até 0,5% no mês, a próxima edição do Focus vai trazer um número mais deteriorado do que o dessa semana.
A boa notícia está na expectativa de inflação para 2025 e 2026. Apesar de ainda estarem longe do centro da meta de 3% ao ano, houve uma pausa na deterioração nas estimativas. Pela segunda semana seguida, a projeção é de um IPCA de 3,97% em 2025, enquanto para 2026 a mediana ficou em 3,6%.
Como não houve mudança na expectativa da taxa Selic para este e os próximos anos, é possível que os economistas voltem a trabalhar com um ritmo e taxa terminal do recém-inaugurado ciclo de aperto monetário no Brasil menor do que o mercado precifica com a curva de juros. Se os investidores estão precificando uma taxa terminal igual ou superior a 13%, os economistas consultados pelo Focus veem a taxa Selic terminar 2024 a 11,75%, ou seja, com aceleração de dois cortes de meio ponto percentual nas duas reuniões restantes no ano (novembro e dezembro). Já em 2025, a Selic volta a ser reduzida, terminando o ano em 10,75% e chegando a 9,5% em 2026.
Em relação a outras variáveis, houve manutenção das medianas em relação à semana passada, com exceção a: PIB, dólar e IGP-M de 2025; conta corrente para este e os próximos anos; a balança comercial para este ano; a dívida líquida para 2026 e o resultado nominal para 2026. Entre as variáveis com mudança nas estimativas, vale ficar atento a:
- Conta corrente: as sucessivas deterioração ao déficit em transações correntes. Embora a economia brasileira tenha um estrutura para a conta de transações correntes seja negativa, um crescimento do déficit pode levantar dúvidas quanto à capacidade do país em honrar com as transações realizadas com o exterior, especialmente se não tiver uma contrapartida na conta de Investimento Direto Externo e a balança comercial estiver em uma tendência de contribuir com a deterioração desse déficit.
- Balança comercial: há uma redução na projeção de superávit da balança comercial, mas com manutenção das estimativas para 2025 e 2026. Embora esteja em um patamar elevado para níveis históricos, é preciso ficar atento, tanto para um risco de queda desse superávit devido à queda do preço das commodities (principais produtos exportados pelo Brasil) e alta nas importações (caso a economia esteja forte e a geração de renda no país esteja vazando para o exterior).
- Variáveis fiscais: há algumas semanas o mercado projeta deterioração na dívida líquida para 2026. Além disso, as estimativas não preveem o governo entregando a meta de déficit zero até 2027, o que tende a adicionar prêmio nos ativos financeiros no Brasil e aumento da trajetória do endividamento público.
Confira abaixo as projeções do Boletim Focus: