A matéria-prima de um sistema de recria e engorda de bovinos é o bezerro. Não é novidade, mas as vezes é bom lembrar que a pecuária começa na cria.
Como qualquer empresa, o que anima o empresário é o lucro, altamente dependente do preço de venda, no caso do bezerro. Uma vez que a cria é menos intensiva em no uso de insumos, como grãos, além de o sistema não ter que comprar gado (salvo reprodutores), o custo varia menos que em outros sistemas, nos quais a nutrição é “mais pesada” e muito influenciada pelas commodities, além da questão da relação de troca, assunto que é o foco desta análise e será retomado logo após esse raciocínio inicial.
Por enquanto, voltemos ao criador, que viu seu produto de venda (bezerro) cair 13,5% na média de 2022, na comparação anual, em valores reais (IGP-DI). Se considerarmos o valor médio na parcial de 2023, em relação ao primeiro bimestre de 2022, o recuo foi de 20,6%, em valores deflacionados e referência do CEPEA para o bezerro em São Paulo.
Com isso, houve desinvestimento e mais fêmeas foram para o gancho, o que deve diminuir a oferta em alguns anos e gerar mais uma fase de alta para as diversas categorias. É o ciclo pecuário.
Focando no momento atual de maior oferta de bezerros e preços em baixa (gerado por investimentos na fase de alta, entre 2019 e 2021, principalmente), essa desvalorização barateia a matéria-prima do recriador/invernista, que compra bezerros e vende bois gordos.
Assim como os preços do farelo de soja e óleo comparados aos da soja definem a margem do crush, a relação entre o bezerro e o boi gordo é um indicativo importante para a recria e engorda. Não é uma conta tão direta quanto o esmagamento, pois temos um tempo relevante e diversos outros custos com pesos maiores que o operacional do esmagamento, mas serve para ilustrar.
Com as quedas mais expressivas do bezerro no último ano e alguma recuperação da arroba em fevereiro, a relação de troca atingiu o melhor patamar desde dezembro de 2019. Em fevereiro de 2023, o recriador precisa de 8,0 arrobas de boi gordo para comprar um bezerro, a melhor relação desde dezembro de 2019, quando eram necessárias 7,7 arrobas de boi para a aquisição de um bezerro. Veja a figura 1.
Figura 1. Arrobas de boi gordo necessárias para a compra de um bezerro em São Paulo.
Fonte: CEPEA / HN AGRO
Em outubro de 2021, a relação teve o solavanco (10,4@) porque o preço do boi gordo caiu fortemente em decorrência da suspensão de vendas para a China. Como o bezerro está mais distante do abate e do impacto da suspensão das exportações, ele cedeu menos à época, ficando relativamente caro em arrobas de boi. Em outubro de 2021, o preço do boi gordo despencou 10,8%, enquanto a cotação do bezerro recuou 1,8%.
Considerações
Como a fase de baixa do ciclo pecuário é resultado da chegada de mais bezerros ao mercado, o que afeta o resultado da cria, aumenta o abate de fêmeas e a produção de carne, essa melhoria inicial da troca tende a ocorrer e alivia o resultado de quem compra bezerros.
A relação de troca é fundamental para o resultado da recria. Essa troca melhor ameniza o efeito de preços de venda em queda.
No entanto, ela não resolve toda a equação. Isso porque, mesmo com a troca e margem por unidade (boi) interessante, ao vender o boi gordo a preços menores, a margem de contribuição de cada unidade estará também menor em valores absolutos, o que afeta o resultado por hectare e a rentabilidade geral, uma vez que a lotação é limitante.