A dinâmica dos indicadores do mercado físico assustou os pecuaristas nos últimos dias.
O movimento de queda de praticamente R$40,00/@ em 40 dias ocorreu em plena entressafra com um dólar rondando ao redor R$4,90/@. Além disto, pelo lado dos fundamentos externos, diferente de outras situações com quedas menores nos períodos anteriores, não houve nenhum embargo, pandemia ou problema sanitário no Brasil.
A pergunta mais feita em entrevistas, reuniões com clientes e nas conversas de mercado é: já chegou o fundo do poço? Como a pecuária não é uma ciência exata, acredito que a pergunta mais adequada a ser feita é: esse é o ponto de equilíbrio do setor no qual pecuaristas e frigoríficos mantém a atividade?
Pelo lado do pecuarista é não. Boa parte não conseguiu fazer proteções adequadas, uma vez que o mercado futuro esteve em queda praticamente continua desde 28/jun/23. Ao que tudo indica, esse movimento do início de agosto de alongamneto da escala pode ter sido um “stop de boi no físico”. Ou seja, aquele produtor que já amargava algum prejuízo aceitou entregar os animais para “estancar a sangria”. Diante disto, a reposição de animal no cocho (ou falta dela) é um grande sinal amarelo para os próximos meses.
Por outro lado, o da indústria, é sim. O resultado das margens olhando para a carne no mercado interno, carne no mercado externo e o atual preço da arroba no boi é historicalmente alto, independente da métrica de comparação ou do período.
Com base nisto, em primeiro lugar, olhamos para a o diferencial entre o boi gordo e a carne com osso no atacado, nas máximas desde 2020 em SP.
Diferencial boi x carcaça desde 2020 em São Paulo.
Fonte: Radar Investimentos / Broadcast
Depois dessa breve comparação, um leitor ou outro pode pensar: “ok, mas essa é uma comparação rasa, pois a indústria não vende só carne bovina”. O raciocínio está correto, por isso tomei a liberdade de usar os dados da Scot Consultoria, que estima a margem de comercialização do frigorífico com a carnde desossada + couro + sebo + miúdos + derivados + subprodutos.
Este indicador mostra uma margem de comercialização aponta 36,7%. Essa margem de quase 40% não é comum, parece ser mais uma distorção. Veja na tabela abaixo
Em terceiro lugar, mas não menos importante, a arroba brasileira em dólares no atual patamar é relativamente atrativa. Olhando somente para o Paraguai e Uruguai, o desconto em relação aos nossos vizinhos é de respectivamente, 16,7% e 19,1%. Veja na tabela abaixo:
Durante esta semana, notou-se um mercado físico mais travado, com negócios pontuais e baixo volume em São Paulo. A explicação de parte deste comportamento pode ser explicada com os dados acima.
A engrenagens entre o pecuarista e a indústria estão distantes de encostarem. O primeiro está com a margem na lona, enquanto o segundo está com a margem na lua.