Após a volta de certificação de carne para a China, o período de ausência dos embarques ao país ainda pesa nos dados de exportação do começo de abril.
Nos primeiros quatro dias úteis, a média diária das exportações de carne bovina in natura foi de 5,6 mil toneladas, frente a 8,3 mil toneladas em abril de 2022, recuo de 31,8%.
Para o curto prazo a expectativa é de maior volume de gado ofertado, principalmente fêmeas, em decorrência da fase do ciclo pecuário, de desinvestimento na atividade.
Cabe o destaque de que as fêmeas têm sua oferta mais concentrada na primeira metade do ano, com destaque para os meses de março e maio, como pode ser visto na figura 1.
Figura 1. Distribuição média dos abates das categorias ao longo dos meses (média 2010-2022).
Fonte: IBGE / HN AGRO
As porcentagens referem-se ao percentual médio de abates naquele mês, em relação ao total anual da categoria. Por exemplo, na média entre 2010 e 2022, das fêmeas abatidas no ano, 9,4% foram para o gancho em março e 9,1% em maio. Dos machos, 9,4% foram abatidos em outubro.
Por que isso é importante? Justamente porque o acréscimo de oferta em anos de baixa do ciclo pecuário, como foi 2022 e deve ser 2023, ocorre principalmente por um maior volume de fêmeas e isso é observado majoritariamente na primeira metade do ano.
Não quer dizer que a oferta vai enxugar na segunda metade de 2023, pois estruturalmente temos um ano de maior disponibilidade de gado pelos investimentos dos últimos anos. No entanto, as fêmeas afetam menos a quantidade na segunda metade do ano.
Escoamento da produção
Esperamos que seja um bom ano para os embarques de carne bovina, apesar do tropeço neste primeiro trimestre. Cabe destacar que, apesar de menor que o recorde de 2022, o trimestre ainda teve volume historicamente alto.
As exportações dependem da conjuntura internacional, que nos favorece, e também da força do real, o que deixa nossas exportações mais ou menos atrativas.
A volta da inflação ao intervalo da meta trouxe a possibilidade de recuo dos juros em um “horizonte visível”, animou os mercados valorizou o real. Um real mais forte afeta negativamente nossos embarques, mas se isso ocorrer por uma melhoria da situação econômica, temos todo um consumo doméstico que tem sido deixado um pouco de lado, frente às movimentações mais intensas do noticiário relacionado ao mercado externo.
O que queremos dizer com isso? Se o dólar ceder por uma perspectiva e números melhores da economia, e torcemos para que continuem nessa linha, os embarques podem sentir, mas com um consumo doméstico ganhando munição, pelos mesmos motivos.
Segundo semestre
No segundo semestre, a disponibilidade de gado é mais dependente do confinamento. Com o recuo dos preços do milho e o boi magro a preços atrativos, a conta do confinamento melhorou, mas ainda temos que ponderar que a taxa de juros elevada compete pelo uso do dinheiro em sistemas que trabalham apenas com o a engorda intensiva.
Quando o confinamento faz parte de um sistema de produção também feito em pastagens, a análise fica mais ampla e as fazendas, em geral, precisam liberar suporte para passar a seca, que pode ser intensificada pela chegada do El Niño, notadamente mais ao norte do país. Nesses sistemas, ou em parcerias que se beneficiem dessa necessidade de liberação de pasto, a atratividade de fechar o gado aumenta.
O nível de preços futuros vai ajudar a equalizar essa intenção de confinamento e, consequentemente, a oferta no segundo semestre.
Expectativas
A expectativa é de que 2023 seja um ano de maior oferta de gado e preços reais menores que em 2022, na média do ano, mas isso não quer dizer que o mercado, necessariamente, tem que trabalhar frouxo o ano todo.
É possível que essa pressão da oferta de fêmeas seja mais evidente na primeira metade do ano, com destaque para a chegada da seca nos próximos meses, o que gera a necessidade de venda de um volume maior pelo produtor.
Passada essa desova, é possível que o mercado ganhe fôlego. Mais uma vez, não esperamos uma explosão de preços, mas na nossa visão há espaço para algo mais positivo que o que tem sido “pintado” pelo mercado.
Baseamos isso no cenário esperado para as exportações e no fato de que, se elas não estiverem tão positivas, provavelmente isso terá influência de um câmbio mais forte, o que se relaciona a mais fôlego no consumo doméstico.