O cenário observado no setor pecuário nacional ao longo de 2021 foi semelhante ao verificado no ano anterior, com exportações – especialmente à China – em ritmo intenso e oferta restrita de boi gordo para abate. Como resultado, os preços de toda a cadeia renovaram os recordes das respectivas séries.
BOI – O Indicador do boi gordo CEPEA/B3 iniciou 2021 com média real de R$ 326,59, atingindo o maior patamar do ano em março, de R$ 333,11 (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de novembro/21). Nos meses seguintes, as médias mensais do Indicador se mantiveram firmes, acima dos R$ 300.
Já em setembro e outubro, contudo, os preços da arroba do boi gordo caíram com força. Os valores foram pressionados pela suspensão dos envios de carne bovina à China no início de setembro, após os registros de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecido como “mal da vaca louca”. Nestes meses, as médias reais foram de R$ 305,10 e de R$ 268.
Em novembro, mesmo com a inesperada continuidade da suspensão dos envios de carne à China, os valores da arroba voltaram a subir, impulsionados pela retração na oferta de boi para abate – aqui ressalta-se que, segundo o IBGE, de janeiro a setembro de 2021, foram abatidos no Brasil 20,52 milhões de animais, 8,58% a menos que no mesmo período de 2020 e o menor volume para esse período desde 2004. Além disso, com o retorno das chuvas, pecuaristas que ainda tinham animais se afastaram do mercado, tendo em vista a melhora dos pastos. A média da arroba subiu para R$ 297 em novembro, praticamente superando as perdas verificadas nos dois meses anteriores.
Na primeira metade de dezembro, ainda sem envios à China, as cotações da arroba seguiam avançando. No dia 14, o anúncio feito pela Administração Geral de Alfândegas da China indicando a retomada das exportações brasileiras de carne bovina ao país asiático animou agentes de mercado consultados pelo Cepea. Assim, no dia 30 de dezembro, o Indicador chegou a atingir R$ 336,50, o maior patamar diário nominal de toda a série histórica desse produto, iniciada em 1994. No mês, a média foi de R$ 320,90, 3,7% acima da verificada em dezembro de 2020, em termos reais.
CARNE – As vendas de carne nos atacados brasileiros estiveram lentas no correr de todo o ano, devido ao fragilizado poder de compra da maior parte da população. Ainda assim, as médias mensais reais da carcaça casada do boi estiveram acima de R$ 20/kg ao longo de 2021. A sustentação veio da baixa oferta de animais para abate, que evitou que a oferta doméstica de carne ficasse elevada. Em dezembro/21, a média mensal foi de R$ 20,51/kg, sendo 0,38% superior à verificada no mesmo mês de 2020, em termos reais.
BEZERRO – Os preços do bezerro renovaram os recordes reais em 2021. Em abril, o animal de 8 a 12 chegou a ser negociado em Mato Grosso do Sul acima de R$ 3.300/cabeça. Esse cenário preocupou o pecuarista terminador. Em outubro, especificamente, ainda que os preços da reposição já operassem em patamares menores, em torno de R$ 2.700, a forte queda nos preços da arroba do boi gordo deixou terminadores em alerta. Isso porque dados do Cepea mostraram que a relação de troca de arrobas de boi gordo por animais de reposição atingiu em outubro o momento mais desfavorável ao pecuarista que faz a recria-engorda, considerando-se toda a série histórica do Cepea, iniciada em 2000, no caso do bezerro.
EXPORTAÇÕES – Apesar da manutenção da suspensão dos envios de carne de boi à China por pouco mais de três meses (do início de setembro até meados de dezembro), as exportações totais da proteína em 2021 fecharam o ano em volumes elevados. Segundo dados da Secex, de janeiro a dezembro, as exportações brasileiras de carne bovina in natura somaram 1,56 milhão de toneladas, 9,5% abaixo do mesmo período de 2020. A receita em moeda nacional somou R$ 42,7 bilhões, superando em 10,1% o total recebido em 2020 (de R$ 38,8 bilhões).