A oferta de animais para abate segue restrita nas regiões pesquisadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, cenário que vem impulsionando os preços do boi gordo há algumas semanas. Na parcial de agosto (até o dia 24), a elevação do Indicador ESALQ/BM&FBovespa é de expressivos 10,87%. Esta alta é a maior para o mês da série histórica do Cepea, iniciada em 1997. Considerando-se agosto, em 21 anos, incluindo 2017, a variação média é de 1,56%, muito abaixo do observado neste ano.
MOTIVOS PARA A ELEVAÇÃO – O avanço dos preços do boi gordo em praticamente todas as praças é justificado pelo fato de que aproximadamente 90% do abate anual brasileiro é de animais engordados a pasto. Com a intensificação da seca, praticamente não há mais animais de pasto e a cadeia vive o período da “entressafra”. Além disso, a principal indústria retomou as compras e outras plantas reabriram nos últimos meses. Com isso, o preenchimento das escalas de abate tem sido mais difícil pelo aumento da competição entre as próprias indústrias por matéria-prima.
Outro fator que explica a atual escassez de bois está relacionado à delação dos irmãos Batista. Em meados de maio, após o ocorrido, o preço pago ao produtor caiu de forma acelerada, justamente no momento em que pecuaristas planejavam o primeiro giro do confinamento. Esta situação, aliada à incerteza relacionada aos prazos de pagamento da principal indústria do setor, explicam a menor oferta de animais, justamente 90 dias após a delação, momento em que deveriam ficar prontos os animais que começaram a ser confinados no início de junho.
Para corroborar o cenário, outro fator explicativo para as altas expressivas é o prolongamento das chuvas. Como neste ano as chuvas se alongaram até meados de junho, o confinamento também teve início de forma mais tardia. Alguns agentes do setor encaram o momento como altas de preços, enquanto pecuaristas afirmam que este período é de recuperação das quedas. Ressalta-se que as baixas em maio também foram as mais expressivas desde 1997.
ALTAS EM TODO O PAÍS – A escassez de boi gordo para abate tem obrigado a indústria frigorífica de São Paulo a buscar animais em estados vizinhos, principalmente em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. Na parcial de agosto (até o dia 24), Três Lagoas e Campo Grande são as praças com as elevações mais expressivas, de 12,42% e de 12,31%, respectivamente. Na sequência, está Rio Verde (GO), com alta acumulada de 11,89%.
Rio Grande do Sul é o estado com a alta menos acentuada no mesmo período, de apenas 0,18%. De acordo com colaboradores do Cepea, o estado tem recebido muita carne de Mato Grosso do Sul e de outras regiões, atendendo à demanda do atacado. Assim, o mercado gaúcho não está acompanhando a tendência observada em outras regiões do País.
As elevações mais intensas em algumas praças têm feito com que a diferença de preços entre o estado de São Paulo e outras regiões se reduza. No Paraná, os preços praticamente igualam-se ao de São Paulo, região com valores tipicamente mais altos. Em Goiás, por exemplo, há negócios acima dos preços médios praticados em São Paulo. Além da escassez de bois no estado paulista, este movimento é resultado de políticas como a redução do ICMS.
CONSUMO – A equipe de mercado pecuário do Cepea não acompanha os preços no varejo. Porém, os preços e os estoques no atacado apresentam estreita relação com os preços repassados para o consumidor. No mercado atacadista de carne com osso, a carcaça casada do boi se valorizou 7,7% no acumulado do mês. Quanto aos cortes, o preço do traseiro subiu 8,25%, e os do dianteiro e da ponta de agulha, 7,63% e de 5,97%, respectivamente.
Agentes do atacado relatam que esperam altas nas próximas semanas, visto que, com a menor disponibilidade de animais prontos para abate, o relativo baixo volume de carne disponível tem sido escoado. Estes colaboradores do Cepea indicam que o consumo é o fator que tem impedido altas mais expressivas de preço, já que o rápido escoamento ocorre em função da baixa oferta.
Ainda que as exportações tenham apresentado significativa recuperação, o brasileiro é responsável por consumir aproximadamente 80% da produção. De acordo com o Banco Central, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o ano mantém-se em 0,34%. Ainda que positivo, este percentual é apenas uma lenta recuperação da economia. Com mais de 13 milhões de pessoas desempregadas, segundo o IBGE, a aquisição da carne bovina, proteína mais cara do mercado, acaba não sendo impulsionada.
Quanto às carnes substitutas, no mês, os preços estão em alta de apenas 0,1% para a carcaça especial suína e de 0,9% para o frango. Esse menor aumento frente à valorização do boi faz com que o consumidor coloque na balança o custo/benefício da aquisição da carne bovina. Ainda que o consumo de carne bovina esteja enraizado na cultura do brasileiro, a situação econômica e social do País é crítica.