O mais recente rali no bitcoin foi gerado pelo balanço do First Republic Bank (NYSE:FRC) recém-divulgado e por rumores de intervenção federal.
Desde o surgimento da criptomoeda, era comum dizer que ela servia de proteção contra a inflação. Após a moeda digital ganhar bastante popularidade e amadurecer como ativo, essa tese foi testada em 2022, quando o Federal Reserve iniciou seu mais rápido ciclo de alta de juros em 40 anos, para conter a alta igualmente histórica da inflação. O preço do bitcoin atingiu US$ 30.000 recentemente, diante do iminente colapso de mais um banco nos EUA.
Bitcoin sobe com crise bancária nos EUA
Quando o Fed aumentou a oferta monetária M2 em 39% entre 2020 e 2022, todos os criptoativos se beneficiaram. A explosão histórica de liquidez inflou ativos de risco, como as criptomoedas, que alcançaram a marca de US$ 3 trilhões em valor de mercado em novembro de 2021. Foi então que o preço do bitcoin atingiu sua máxima histórica em US$ 67,5 mil.
No entanto, foi só o Fed começar a desfazer suas lambanças para o bitcoin descer ladeira abaixo. Diante do forte aperto monetário, o dólar ganhou força e o bitcoin se desvalorizou. Isso se exacerbou quando o banco central estourou a bolha de instituições ligadas ao criptomercado, como Terra, Celsius, 3AC e FTX.
Mas, à medida que o ciclo de aperto chega ao fim, abalando bancos comerciais mais frágeis, o bitcoin volta a ganhar força.
Dos três bancos que quebraram, somente o Silvergate, que fornecia liquidez a exchanges na forma de moedas fiduciárias, exerceu pressão negativa sobre o preço do bitcoin. Crédito da imagem: Trading View
Diante de toda essa dinâmica, ficou claro que o bitcoin não é uma proteção tão forte contra a inflação quanto se pensava. Mas tudo indica que seja uma proteção contra a desvalorização monetária. Em uma visão mais ampla, pode atuar como proteção contra a instabilidade no sistema bancário causada pelo sistema de reserva fracionada, no qual os bancos mantêm apenas uma fração dos depósitos dos clientes.
Isso contrasta fortemente com o conceito do bitcoin, que oferece autocustódia descentralizada para uma oferta limitada de moedas que não podem ser criadas como se queira.
First Republic Bank: última peça do dominó a cair?
O First Republic Bank divulgou seu balanço do 1º tri na segunda-feira. Na comparação interanual, os depósitos totais do banco caíram de US$ 176,4 bilhões para US$ 104,4 bilhões, mais do que o esperado. Excluindo a injeção emergencial de US$ 30 bilhões feita pelos grandes bancos, estamos falando de uma drenagem de US$ 102 bilhões em depósitos.
Apenas 52% desses depósitos era segurados. O mais importante é que o FRC tem US$ 80,3 bilhões em dívida de curto prazo, com US$ 63,5 bilhões provenientes da janela de desconto do Federal Reserve. Trata-se de um claro sinal de transtornos financeiros, intensificados pelos rendimentos menores dos empréstimos bancários.
Queda mensal de depósitos no setor bancário dos EUA ano a ano. Crédito da imagem: CEIC Data
O FRC, especificamente, possui US$ 103 bilhões em financiamento imobiliário com um rendimento de 3,18%, enquanto os empréstimos de curto prazo têm juros que variam de 4% a 5,15%. A atual drenagem de capital faz com que o modelo operacional do banco seja insustentável.
De acordo com uma matéria da CNBC, os conselheiros do banco estão tentando obter mais uma injeção de liquidez dos grandes bancos. No entanto, como as ações da FRC tiveram uma queda livre de 95% desde o início do ano, é provável que o FDIC faça uma intervenção no banco mais cedo ou mais tarde.
Bancos não são depósitos de dinheiro
A bem da verdade, a confiança das pessoas no sistema bancário depende do Federal Reserve. Infelizmente, o banco central dos EUA tende a desestabilizar os bancos comerciais de diversas formas:
- Em um ciclo de aperto, o custo maior do crédito reduz a lucratividade dos bancos, aumentando sua exposição à dívida.
- Da mesma forma, o crédito mais caro também aumenta a inadimplência, gerando perdas para os bancos comerciais.
- Em momentos de alta de juros, há uma queda na margem líquida de juros dos bancos (isto é, o diferencial de captação e concessão), já que os juros pagos sobre depósitos superam as taxas recebidas de empréstimos.
- Por fim, o aumento da volatilidade dificulta a capacidade de levantar capital.
Evidentemente, o ciclo de aperto foi motivado pela injeção de liquidez sem precedentes do Fed Cabe ressaltar que sequência de vulnerabilidades está embutida na política monetária do Fed. O atual presidente da instituição, Jerome Powell, declarou justamente isso em 2012, quando era membro do Conselho de Governadores.
“Parece que estamos criando uma bolha na duration da renda fixa em todo o espectro de crédito que provocará grandes perdas quando as taxas subirem no futuro. Seria possível dizer que essa é a nossa estratégia”
Com a crise de crédito bancário em vigor, a recessão é o cenário mais provável.
Pelo lado positivo, a recessão é uma espécie de “criptonita” para a inflação. Da mesma forma, o Fed entrará no ciclo de corte de juros para estimular a economia. Nesse cenário, o bitcoin só se beneficia. Considerando essa dinâmica macro, o chefe de divisão digital do Standard Chartered (LON:STAN), Geoff Kendrick, afirmou na segunda-feira que o bitcoin poderia atingir uma nova máxima histórica de US$ 100.000 até o fim de 2024.
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Aviso: Este artigo foi publicado originalmente no portal The Tokenist.