De onde você menos espera é que não vem nada mesmo. É notável a regularidade da incompetência. Ela não surpreende. Está sempre por aí.
Lembro com frequência da famosa frase, já meio clichê, você tem razão, do Kennedy: não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.
Se vale para os Estados Unidos, imagina na Copa…
Pergunto a mim mesmo se estou certo. Talvez não, mas noto algo triste no Brasil. As pessoas estão perdendo a capacidade de acreditar, perdendo a fé. A fé na vida em si. Olha-se para um lado, depois para o outro e não se vê saída. Parecemos condenados às mazelas de sempre, à armadilha do país da renda média. Ficaríamos, como país, velhos antes de ficarmos ricos? Os países velhos e ricos já enfrentam graves problemas; agora, como será ser velho e pobre? Perde-se a vontade sequer de conversar, de debater, ou mesmo de acompanhar os rumos do Brasil — e aqui falo do ponto de vista de Estado, não de governo. A alternativa à esquerda é péssima, fique claro.
A sensação é de que a própria realidade se tornou um vírus e ninguém quer se contaminar com aquilo. Fugimos de nós mesmos, o que é sempre a pior fuga. Ficamos impedidos de dar o salto de fé de Soren Kierkegaard. Nietzsche diria que a esperança é o mal derradeiro, o pior dos males, porque prolonga o sofrimento humano. Mas, com o perdão do pragmatismo sobre a filosofia, o que seria do desenvolvimento econômico e social sem a esperança? Não é disso, afinal, que se trata quando falamos no “espírito animal” dos empresários?
Eu preciso ser justo. Até acho que essa batalha do Orçamento vai ser endereçada de algum modo. Há limites até para o ridículo. A realidade se impõe de algum modo. E não existem meios de escapar dela neste caso particular. Mas não esperamos muita coisa da política.
A parte boa é que isso não necessariamente é uma má notícia. Para ganhar dinheiro, dado o nível de preços e dado aquilo que Fabio Okumura brilhantemente chamou de “excepcionalismo norte-americano”, ou seja, que o processo de vacinação e abertura da economia vai chegar a outros países, podemos prescindir de novidades positivas da política. Basta não atrapalhar. Como já escrevi aqui, estamos ainda vivendo 2020 e só se fala em 2022.
Há coisas mais urgentes — e úteis — para se falar. Vamos a elas, porque este é meu último Day One da semana e não temos tempo a perder.
Hoje é o IPO da Coinbase. Apesar de um valuation bem esticado, a expectativa predominante é de forte alta. Grupos de WhatsApp discutem se a alta será de dois ou até três dígitos. Faz parte da festa. Os desdobramentos sobre o bitcoin já têm sido tangíveis. A criptomoeda bateu US$ 64 mil, em novo recorde histórico. Há gente importante do meio dizendo que só este evento pode levar o bitcoin acima de US$ 70 mil.
Na dúvida, se você não tem ainda, melhor comprar um pouco. Temos mais a ganhar do que a perder aqui. E você pode comprar o que você não entende, desde que entenda o impacto daquilo no seu portfólio, que, no fundo, é o que importa.
Nesta semana, rolam as reservas para o primeiro ETF de cripto listado na B3 (SA:B3SA3). Acho que vale a pena participar. Entre em contato com a sua corretora e faça a sua reserva. Eu mesmo já sinalizei minha intenção de compra na Vitreo.
Ainda no âmbito dos IPOs urgentes, essa Viveo parece bacana. Setor quente, empresa bem tocada e as melhores casas do Brasil no book. Antes bem acompanhado do que só.
Aliás, boa parte dessa turma está também comprando as debêntures da Vale (SA:VALE3), anteriormente nas mãos do BNDES. O negócio ganhou bastante liquidez, oferece um yield bacana e tem ganho de capital aqui acho que até para curto prazo. Saiu a R$ 53, mercado já está operando entre R$ 57 e R$ 58 e os R$ 65 são logo ali.
Para fechar, duas coisas sobre ações.
Lojas Americanas (SA:LAME4) subiu 9% ontem. Na segunda, saiu um grande call spread para junho, de 11 milhões de opções, aos strikes de R$ 23,50 e R$ 26,50. Chamou atenção do mercado todo. “No creo en brujas, pero que las hay, las hay.” Há gringo na ponta compradora e em cerca de um mês devemos conhecer os detalhes finais da reestruturação, que é muito positiva para a companhia. Simplifica estrutura societária, ganha liquidez, otimiza estrutura fiscal, ganha sinergia operacional. Nesse valuation, acho que tem que comprar agora.
E precisamos falar de Oi (SA:OIBR3). A ação reagiu muito mal à operação de venda da Infra para o BTG (SA:BPAC11). Entendo que a reação derive mais de um mau gerenciamento das expectativas de mercado do que do deal em si. Como já se conhecia o preço mínimo e a Oi sinalizou muito interesse pela companhia, parte do mercado interpretou que pudesse vir algo acima do mínimo. Contudo, a Oi sai dessa operação muito melhor do que entrou. Isso é inequívoco. Sobre o deal em si, ele tinha muito risco. Se isso fosse uma empresa standalone, o valor seria maior. Na prática, o BTG comprou uma expectativa, muito apoiado ainda numa espécie de powerpoint (embora já com entregáveis claros e tangíveis). Precisa fazer o carveout. Isso obviamente envolve um risco que está no preço. Sobra muito upside na parte em que eles continuam — dá para ganhar dinheiro grande aqui. Essa empresa vai dar muita alegria ainda. Amos é muito competente neste ramo, o BTG tem alguns dos melhores caras do Brasil e Esteves está pessoalmente no deal — e isso conta muito. Minha leitura pessoal, para resumir: a Oi cristalizou a metade que vendeu agora num preço “ok” e comprou a opção de explodir lá na frente no percentual remanescente. O BTG vai entregar a empresa, derisk o business e pode fazer um IPO disso em dois, três anos, num outro valuation. Agora é a execução — e esses caras são bons nisso.
A realidade objetiva e concreta melhorou. Eu me nego a fugir dela.