Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 27/10/2020
- SQ investe US$ 50 milhões em bitcoin fazendo a moeda digital se valorizar;
- Mês agitado para Jack Dorsey, CEO do Twitter Inc (NYSE:TWTR; SA:TWTR34) e da Square (NYSE:SQ);
- Controvérsia sobre censura e oferta monetária;
- Audiências em Washington sobre moderação de conteúdo e interferência nas eleições;
- Setor de tecnologia enfrenta obstáculos em 2021.
O bitcoin e as moedas digitais atingiram o pico no fim de 2017, quando o preço da principal criptomoeda disparou até o nível de US$ 20.000 por token. A capitalização de mercado de todas as criptomoedas ultrapassou US$ 800 bilhões naquele momento, e tudo indicava que era apenas uma questão de tempo para que atingissem a marca de um trilhão de dólares. Isso, entretanto, ainda está por acontecer, pois elas não se firmaram naqueles patamares.
Na semana passada, seu valor de mercado estava se aproximando de US$ 400 bilhões. O bitcoin vinha sendo negociado em torno de US$ 10.000, com os preços consolidados no ponto médio entre os seis centavos de 2010 e os US$ 20.000 de 2017. No fim da semana passada, a moeda disparou para mais de US$ 13.000 por token, e atingiu a máxima de 16 meses na terça-feira (27)
SQ investe US$ 50 milhões em bitcoin
A Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, na sigla em inglês) classifica as moedas digitais como commodities. Embora a classe de matérias-primas tenda a ser mais volátil, as criptomoedas apresentaram um nível ainda maior de variação de preços nos últimos anos. Negociado a apenas seis centavos por token em 2010, o bitcoin disparou para US$ 20.000 em 2017. Hoje de manhã, a principal criptomoeda estava cotada a US$ 13.625,7 por volta das 07h47, próximo à máxima de 2020 de US$ 13.649 atingida ontem.
A Square, uma empresa de pagamentos e soluções de ponto de venda de alta tecnologia, anunciou a aquisição de 4.709 bitcoins ao valor de US$ 50 milhões. O preço médio ficou um pouco abaixo de US$ 10.620 por token.
Como mostra o gráfico diário, o bitcoin se valorizou US$ 2.500 por token desde o anúncio até atingir a máxima de US$ 13.140 no dia 22 de outubro.
Fonte: CQG
O investimento está em linha com a missão da SQ. A empresa acredita que o bitcoin e as criptomoedas são instrumentos de “empoderamento econômico”.
Mês agitado para Jack Dorsey, CEO do Twitter e da Square
Inovador e empreendedor, Jack Dorsey tem posição única no setor de tecnologia, ao ser CEO de duas empresas listadas em bolsa: a SQ e o Twitter (NYSE:TWTR).
Dorsey também é cofundador do Twitter e fundador da Square. O mês de outubro foi agitado para o famoso executivo. Uma das suas empresas declarou que aposta no futuro das criptomoedas. A outra empresa estava na mira do governo americano, já que alguns senadores em Washington acusavam o TWTR de interferência nas eleições.
A empresa de pagamentos e a plataforma de mídia social têm valor de mercado de cerca de US$ 120 bilhões. A capitalização de mercado da SQ é de mais de US$ 78 bilhões, cerca de duas vezes a do TWTR. Mas o TWTR está em alta nos últimos dias, já que os tuítes se tornaram uma ferramenta poderosa de vários segmentos.
O presidente Trump se tornou o “tuitador-em-chefe” durante a campanha de 2016 e depois de ser eleito como 45º presidente dos Estados Unidos. O mandatário afirma que o Twitter se tornou um instrumento inestimável para ele se comunicar com seus apoiadores, já que acredita que a mídia tradicional divulga o que ele chama de “fake news”.
A compra de bitcoins pela SQ e o status do TWTR como uma das principais plataformas de mídia estão colocando Jack Dorsey na mira de Washington, e a pressão pode continuar nos próximos meses e início de 2021.
Controvérsia sobre censura e oferta monetária
Uma reportagem do New York Post que acusou o filho do ex-vice-presidente Joe Biden que relações comerciais duvidosas causou muito rebuliço nas últimas duas semanas. O TWTR decidiu banir a informação, e o Facebook (NASDAQ:FB; SA:FBOK34)) fez o mesmo. O TWTR suspendeu algumas contas de quem retuitava a matéria, despertando o repúdio de senadores republicanos.
Jack Dorsey e Mark Zuckerberg, fundador e CEO do FB, serão interrogados no Senado para explicar por que decidiram banir a notícia de um dos principais jornais americanos e suspender contas. Alguns parlamentares estão acusando as empresas de interferência na eleição ao censurar a informação. As plataformas do TWTR e FB estão protegidas pela Seção 230 da Lei de Integridade da Comunicação, que diz: “Nenhum fornecedor ou usuário de serviço interativo de computação será tratado como editor ou responsável por qualquer informação divulgada por outro fornecedor de conteúdo informativo”. Alguns parlamentares devem defender que a decisão de Dorsey e Zuckerberg de proibir a matéria do NY Post foi um ato de censura, o que pode eliminar as proteções previstas na Seção 230.
Enquanto isso, além da questão da censura, a outra empresa de Dorsey, a SQ, tem algo em comum com o FB que pode deixar o congresso com a pulga atrás da orelha. Em 2018, Jack Dorsey afirmou que acreditava que a criptomoeda acabaria se tornando a única moeda do mundo. Em 2019, o Facebook de Zuckerberg implementou um plano para desenvolver o token Libra, outra moeda digital. Há um acordo bipartidário para se opor às moedas digitais. Os governos dos EUA e de outros países controlam a oferta monetária, pois são emissores de moedas fiduciárias. Um movimento de abandono das moedas tradicionais em favor de criptomoedas limitaria ou mesmo eliminaria esse controle.
Audiências em Washington
Os CEOs do TWTR e FB, em conjunto com Sundar Pichai, da Alphabet (NASDAQ:GOOGL), prestarão depoimento por videoconferência ao Comitê de Comércio do Senado no dia 28 de outubro. Os CEOs enfrentarão questionamentos sobre suas políticas de moderar conteúdos em suas plataformas.
A audiência terá como foco a Seção 230 da Lei de Integridade das Comunicações e deve ensejar movimentos de remoção de proteções das plataformas. Democratas e republicanos em Washington expressaram preocupação com o poder das redes sociais e a influência das principais empresas de tecnologia em práticas anticoncorrenciais, bem como no acesso e uso de dados. Na semana passada, o Departamento de Justiça dos EUA acusou o GOOGL de violações antitrustes.
Eu não ficaria surpresa se as moedas digitais subissem no evento de 28 de outubro ou nas audiências subsequentes. O comitê do senado havia convidado os CEOs com a ameaça de convocação judicial se eles se negassem a comparecer.
Setor de tecnologia enfrenta obstáculos em 2021
Em vista da eleição acirrada no próximo dia 3 de novembro, os democratas e republicanos em Washington não têm concordado com praticamente nada nos últimos dias. Mas, após a disputa, provavelmente veremos os representantes eleitos tomarem ações contra as principais empresas de tecnologia. Embora cada partido político tenha suas razões, há um apoio bipartidário para regular o poder e a influência dessas empresas.
A maior regulação e até mesmo divisões de algumas empresas podem estar no horizonte. Os EUA não são o único governo preocupado com a questão, na medida em que a União Europeia também está adotando medidas para limitar a ascensão de empresas de tecnologia. Os investimentos em moedas digitais e o suporte a elas são outra pedra no sapato dos governos. A expectativa é que as ações de tecnologia apresentam muita volatilidade nos próximos meses. Os governos e órgãos reguladores podem aprovar leis que limitem as atividades dessas companhias, subdividindo-as em unidades menores e não relacionadas, o que deve afetar seus resultados.
Ao mesmo tempo, o bitcoin e outras moedas digitais vêm andando de lado nos últimos meses. A tecnologia blockchain tem ampla aceitação, mas é pouco provável que os governos ao redor do mundo abram mão de controlar a oferta monetária em favor de um meio global de câmbio no futuro próximo. Entretanto, o bitcoin, líder do grupo, decolou em direção à máxima de 2019 a US$ 13.915 por token. Acima disso, tempos o pico de 2017, acima de US$ 20.000, que pode ser testado.