O ano de 2024 surpreendeu muitos analistas e investidores ao consolidar o Bitcoin (BTC) como um ativo de interesse estratégico não apenas para fundos e investidores de varejo, mas também para agentes econômicos institucionais e governamentais.
Parte desse movimento foi impulsionada por um cenário macroeconômico que favoreceu em termos de liquidez e queda de taxa básica de juros, além de um gradual amadurecimento do mercado cripto.
O Estrondoso Lançamento dos ETFs de Bitcoin e a Superação do Ouro
Os ETFs (fundos negociados em bolsa – Exchange Traded Funds, em inglês) de Bitcoin à vista (spot) lançados nos Estados Unidos em 2024 transformaram-se em um verdadeiro marco financeiro, registrando cerca de US$ 36,7 bilhões em fluxos líquidos nos primeiros 239 dias de negociação e superando de longe qualquer outro lançamento de ETF na história.
Para efeito de comparação, os ETFs de ouro levaram 1.535 dias para atingir níveis semelhantes de captação, o que destaca a força dessa demanda reprimida por um veículo regulado de exposição ao Bitcoin.
Em dezembro de 2024, o valor total sob gestão (Assets Under Management - AUM) dos ETFs de Bitcoin nos EUA ultrapassou pela primeira vez o dos ETFs de ouro — uma conquista impulsionada pela forte apreciação do BTC ao longo do ano.
Esse volume expressivo de entradas, estimado em 512.000 BTC a uma média de US$ 69.000 por unidade, resultou em um retorno médio de 46% sobre o capital investido, elevando ainda mais o AUM.
Ainda assim, há muito espaço para expansão: apenas 21,3% do AUM dos ETFs de BTC é detido por investidores institucionais, em comparação com 44,4% nos ETFs de ouro. À medida que a regulação se torna mais clara e os mandatos de fundos passam a incluir alocações em criptoativos, é provável que a participação institucional cresça significativamente.
Em termos de impacto no mercado de ETFs como um todo, os ETFs de Bitcoin representaram 3,5% de todos os fluxos destinados aos ETFs nos EUA em 2024, um feito inédito para um produto lançado há menos de um ano.
Esse volume expressivo de compras influenciou diretamente o preço do Bitcoin, com as principais altas do ano coincidindo com fortes fluxos de entrada nos ETFs.
Empresas Listadas, ETPs e o Impacto no Suprimento de BTC
A adoção institucional em 2024 não se limitou ao lançamento dos ETFs de Bitcoin. Os chamados “Bitcoin Treasuries” de empresas listadas em bolsa cresceram de forma expressiva, somando mais de 550.000 BTC em seus balanços.
Desse total, cerca de 297 mil BTC foram adquiridos apenas em 2024, impulsionados principalmente pela estratégia “21/21 plan” da MicroStrategy (NASDAQ:MSTR), que comprou cerca de 250 mil BTC e planeja levantar até US$ 42 bilhões — via emissões de ações e títulos seniores — para investir em Bitcoin.
Nesse cenário, algumas mineradoras, como Marathon Digital (NASDAQ:MARA) e Riot Platforms (NASDAQ:RIOT), também recorreram a emissões de dívida para comprar BTC, o que pode gerar riscos de vendas forçadas se a cotação do ativo cair, refletindo movimentos já observados em 2022.
Além dos ETFs e das empresas listadas, os ETPs (Exchange-Traded Products) contribuíram para a absorção de 859 mil BTC ao longo de 2024, o que representa cerca de 4,3% do suprimento circulante do ativo.
Regulamentação, Reservas Estratégicas e Adoção Governamental
Em 2024, um dos acontecimentos mais marcantes no âmbito regulatório foi a vitória de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos, acompanhado de promessas de criar um ambiente mais equilibrado para criptomoedas e de considerar o Bitcoin (BTC) como reserva estratégica.
Trump propôs reter todos os bitcoins confiscados pelo governo, enquanto a senadora Cynthia Lummis apresentou o “Bitcoin Act of 2024”, sugerindo a compra de aproximadamente 1 milhão de BTC pelo Tesouro e pelo Federal Reserve em um período de cinco anos, com a obrigação de manter esses ativos por pelo menos duas décadas.
Embora a aprovação definitiva ainda dependa do Congresso, o simples fato de se debater uma reserva oficial de BTC reflete a importância geopolítica adquirida pelo ativo.
No cenário internacional, vários governos também demonstram apetite por Bitcoin. Os Estados Unidos, por exemplo, já possuem cerca de 197 mil BTC, dos quais aproximadamente 94,6 mil BTC são provenientes do hack da Bitfinex em 2016.
El Salvador mantém a política de adquirir 1 BTC por dia, enquanto Butão se destaca por utilizar sua energia hidrelétrica abundante para mineração.
O Reino Unido, por sua vez, detém cerca de 61,4 mil BTC apreendidos em um esquema de lavagem de dinheiro, que podem ser vendidos a critério das autoridades locais.
Em paralelo, a saída de Gary Gensler da SEC reforça a esperança de uma regulamentação mais favorável à expansão institucional do BTC, pois abre espaço para a aprovação de novos produtos de investimento e para o avanço das discussões sobre o uso de criptomoedas em escala governamental.
Perspectivas para 2025
Embora o cenário para o Bitcoin em 2025 seja amplamente otimista, é fundamental levar em conta a volatilidade inerente aos criptoativos e possíveis entraves no contexto macroeconômico — como conflitos geopolíticos, redução de liquidez no mercado global e desafios regulatórios.
Ao mesmo tempo, a consolidação do BTC como ativo de tesouraria para empresas e governos, aliada ao halving ocorrido em 2024, tende a diminuir ainda mais a oferta circulante, contribuindo para a sustentação de preços elevados.
No entanto, fatores como possíveis vendas forçadas decorrentes de endividamento excessivo e mudanças na política monetária ou fiscal permanecem como pontos de atenção.
À medida que o mercado amadurece e a regulamentação se torna mais clara, 2025 pode confirmar o BTC como ativo-padrão na alocação institucional. Consultores e gestores de investimento nos EUA já costumam recomendar alocações de 1% a 5% em BTC, reforçando sua função como diversificador estratégico em portfólios.
Nesse cenário, a eventual criação de reservas estratégicas de Bitcoin pelos Estados Unidos ou por outros países pode acelerar ainda mais a demanda, impactando substancialmente o preço e tornando o próximo ano um marco na trajetória do mercado de criptoativos.
Fontes de dados:
Investing, iShares, Coinbase (NASDAQ:COIN), ETF.com, Bitcointreasuries, Arkham Intelligence