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Bitcoin: Um Ano Depois Do Estouro Da Bolha

Publicado 25.04.2019, 11:00
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Nós, analistas de mercado, temos uma das tarefas mais desagradáveis e quiça difíceis dentro do mercado financeiro: trazer o leitor à realidade. E essa é com certeza uma tarefa que nós, se pudéssemos, não o faríamos.

Mas somos pagos (ou não) para dizer a verdade que aparece dentre as entrelinhas do mercado e que muitas vezes os demais investidores ainda não perceberam, enquanto que em outras vezes escolheram não perceber.

Imagine que você, investidor, comprou uma determinada ação da empresa Exemplo S.A. à R$ 10,00 em um bom início de alta e viu o seu papel ultrapassar os R$ 50,00… R$ 100,00! ‘Que bom investidor eu sou’ você vai logo pensar, ‘acertei na mosca’, ‘sou muito bom’.

Imagine agora que você, investidor, abre o jornal pela manhã e vê uma manchete de uma análise que questiona “A Exemplo S.A. vale tudo isso mesmo?” onde o analista diz que os papéis já atingiram seu topo e que agora vão começar a cair, ou que o mercado exagerou na alta e que a empresa vai descer com força.

A curiosidade com certeza o fará ler a notícia que te deixará muito irritado e contradizendo ‘Quem é esse analistazinho para dizer alguma coisa? A empresa saiu de 10 para 100 reais… aposto que está com inveja de quem lucrou! Só sabe falar mer**”.

Eu concordo com você. Não há nada mais desprazeroso do que estar em uma situação de euforia e felicidade e de repente ver alguém querendo jogar um balde de água fria na sua animação, ou como meu pai dizia, querendo colocar água no seu chopp.

Foi você quem escolheu aquela ação. Foi você quem lucrou muito dinheiro com ela e ninguém (ninguém!!!) tem o direito de tirar isso de você.

Seja por habilidade ou por pura sorte, dificilmente acreditaremos que aquele analista está certo e que nossa preciosa ação lucrativa vai cair de preço. Pensamos “simplesmente não pode ser verdade!

E como todo bom ser humano (ir)racional e usuário de internet, fazemos aquilo que sabemos fazer de melhor… xingar muito:

Por isso que digo que o trabalho do analista de mercado é cruel, damos muitas vezes às pessoas o choque de realidade que ela não quer ter. Talvez seja por isso que em muitas ocasiões sejamos tratados com tanta hostilidade. Mas faz parte, afinal…

Toda crise é assim

Se você pegar para analisar o comportamento de manada de todas as crises que o mundo financeiro já viveu, verá um padrão exato do que ocorre com os investidores durante esse período. É sempre assim…

Padrão das crises

Um determinado ativo, até então desconhecido ou desvalorizado pela massa de investidores, começa a ganhar notoriedade. Seu preço começa a subir aos poucos, mas com frequência, a mídia começa a prestar atenção nele, a massa de investidores começa a ler sobre ele e a se interessar em sua compra, a demanda começa a subir vertiginosamente, seu preço dispara, todo mundo só fala nela, o preço parece não ter fim, está todo mundo no papel e…

Os grandes investidores começam a se desfazer dos papéis, começam a pipocar notícias negativas sobre o ativo, os investidores começam a se assustar e a querer se desfazer dos papéis, a oferta é dezenas de vezes maior que a demanda, os preços de venda são postos cada vez mais baixos e o valor dos papéis despenca sem que você possa fazer nada.

E nesse ciclo sem fim de TODA crise, sempre tem aquele investidor mais crente que provavelmente não entrou na hora certa, já pegou o ativo meio caro, mas como viu ele continuar subindo foi comprando cada vez mais, se entupiu do ativo e, quando a queda brusca começa, ele não quer (ou não consegue) se desfazer dos papéis acreditando que ele vai se recuperar e ao fim do boom se vê com uma montanha de prejuízo nas mãos.

Foi, é e sempre será assim. Goste você ou não investidor.

Mas e o Bitcoin? Foi assim também?

Lembro-me de ouvir sobre o bitcoin logo no início da criptomoeda, quando amigos meus se interessavam muito mais pela tecnologia e o poder do blockchain do que pelo valor monetário da moeda em si.

É claro que se eu soubesse à época que o bitcoin teria essa supervalorização eu também teria entrado e estaria hoje bem mais feliz do que estou.

Mas imagine você, caro leitor, em plena ascensão do valor do bitcoin, que havia saido de pouco mais de mil dólares para vinte mil dólares em questão de poucos meses, alguém se atrever a escrever contra esse maravilhoso ativo que multiplicava economias em questão de horas… dias…semanas…

Pois é, eu me atrevi a fazer isso em Dezembro de 2017. Concordo que à época fui até aconselhado a não fazê-lo, mas meu compromisso era com a verdade. E o nome do meu artigo não poderia ter sido outro mais polêmico, mais intrigante e, infelizmente, mais chamativo para críticas possíveis: “Bitcoin- 5 Pontos do Porquê Ela Pode (E Vai) Quebrar!”, publicado aqui no Investing.com.

A recepção, baseada em tudo que escrevi do comportamento humano acima, você já deve ter previsto… fui xingado e desmerecido até não poder mais.

Mas e aí? Passado pouco mais de um ano, que fim chegou? Eu acertei? Errei feio? Cheguei próximo ou passei longe?

Para entender o que eu havia exposto naquela época e o porque de eu estar certo, observando hoje, vamos revisitar ponto a ponto!

BITCOIN – UM ANO (E POUQUINHO) DEPOIS.

No começo do artigo (que você pode ler na íntegra clicando no link acima), eu afirmava, antes de tudo, que o que se mais via à época era um monte de sites comentando sobre o bitcoin, como ele era um ativo maravilhoso, que dava para investir e multiplicar seu capital rapidamente e tudo o mais.

Lembro-me que, justamente quando fui pesquisar o que era o bitcoin a fundo, me deparei com a seguinte imagem:

Pesquisas Google sobre BTC

Todos queria, afinal, saber como conseguir, como obter, como ganhar dinheiro e como enriquecer com a tal criptomoeda, pensando em investir todas as suas reservas nela e lucrar rios de dinheiro. Mas isso levava justamente ao meu primeiro ponto… O bitcoin não é um investimento!

1- O BITCOIN É UM INSTRUMENTO DE INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA, NÃO UM INVESTIMENTO.

No primeiro ponto eu argumentava que a origem do bitcoin foi para suprir a demanda de um meio de pagamentos seguro e, principalmente, discreto para produtos pouco ortodoxos que eram adquiridos na parte mais obscura da internet. Dessa forma, a tecnologia foi utilizada primordialmente como simples meio de troca entre duas pessoas que não queria deixar rastros de transações financeiras pela web.

“Ah, mas eu posso comprar coisas com dólares e ainda assim investir na variação dele”, você pode estar argumentando mentalmente agora.

Sim, verdade. Mas estamos falando simplesmente do meio mundialmente aceito como unidade de medida em comum para transações internacionais, o qual possui uma série de backups de bancos centrais por detrás dele que podem controlar variações bruscas e desenfreadas de altas e quedas através de instrumentos e políticas financeiras, enquanto que o bitcoin não possui qualquer garantia que o sustente em momentos de crise (como de fato aconteceu recentemente).

Além do que, salvo poucos lugares nos EUA e Europa, quantos estabelecimentos de fato aceitam a criptomoeda como meio de pagamento?

Revisitando o site coinmap.org, onde em Dez/2017 haviam pouco mais de 11 mil locais cadastrados, hoje estamos na marca de 14,5 mil. Um crescimento de 30%, um bom valor afinal, mas… olhando para o mapa, você consegue ver alguma diferença disruptiva?

Estabelecimentos com BTC - Dez/17

Estabelecimentos com BTC - Abr/19

O que se vê é a mesma concentração anterior de lugares que, em que pese a disponibilização da alternativa de pagamento, pouco se transaciona de fato algo. Hoje menos de 1/3 das transações da moeda são realizadas com a função de compra/venda de bens e serviços. Massivos 2/3 são pura especulação de valor, conforme aponta o site norte americano newsbtc.com.

E se em Dezembro de 2017 já não valia a pena compra nada com o bitcoin, isso porque o preço não parava de subir, agora faz ainda menos…. justamente nosso ponto 2:

2- NÃO FAZ MAIS (NEM NUNCA FEZ) SENTIDO COMPRAR COISAS COM O BITCOIN.

Você já ouviu falar sobre deflação? Ela é o contrário da inflação, que é quando os preços sobem, ou seja, na deflação os preços caem cada vez mais.

Em países com deflação, o consumo da população se torna extremamente baixo, uma vez que sabendo que amanhã determinado produto vai estar mais barato, o consumidor adia sua compra pensando em economizar. O problema é que isso gera um ciclo vicioso desastroso.

Sabendo que os preços vão cair, ninguém compra. Quando ninguém compra, as empresas reduzem os preços para estimular as vendas. Com os preços caindo as pessoas adiam cada vez mais e mais a aquisição. E a roda da deflação vai girando… E se as empresas não vendem, elas demitem, quem é demitido não tem renda, que não consome, e a empresa demite mais ainda… você já entendeu.

Pois enfim, isso é o que aconteceu no ano anterior inteiro com o bitcoin. Com a queda que se apresentou ao longo dos últimos doze meses, era muito arriscado às empresas que aceitavam bitcoin como forma de pagamento venderem seus produtos. Afinal, você vendia um celular por, digamos, 10 btc que valiam 1.000 dólares, mas ao final do dia, com a queda da cotação, você tinha em conta apenas 800 dólares. Ou seja, um baita prejuízo de 20%

É por isso que ontem, e agora hoje, transacionar compras com o btc é perigoso e desaconselhável, pois afinal uma parte sempre vai sair perdendo. O ideal é que a criptomoeda se estabilizasse para que assim, os consumidores e as empresas pudessem ter uma medida justa de troca de valor.

Mas sabe porque isso não vai acontecer num futuro próximo? Porque…

3- AS PESSOAS ESTÃO ESPERANDO RETORNO FINANCEIRO EM BITCOIN!

Se anteriormente a vontade de 2/3 daqueles que possuíam bitcoins em dez/17 era de ganhar com a alta dos papéis, hoje podemos dizer que não perder mais já é um bom resultado para eles.

No frenesi do ano de 2017, a unica motivação que se tinha para adquirir bitcoins era de que dia após dia nós víamos o valor da criptomoeda subindo sem parar e pensávamos “eu também quero participar dessa festa”.

Mas muitos hoje agradecem não ter podido ou conseguido entrar, até porque quando o meu artigo foi publicado originalmente a cotação da btc chegou à bater 19 mil dólares na negociação intraday. Em questão de meses ela desceu para algo próximo dos 3 mil dólares, uma queda de mais de 80%.

Na cotação do dia de hoje (22/04/19) o valor está em torno dos 5 mil, uma recuperação frente ao seu menor valor negociado, porém ainda muito longe do seu pico histórico. E é justamente isso que tem afastado muitos investidores especulativos que não têm hoje mais motivos para operar freneticamente na alta e baixa dos papéis, como anteriormente.

Se hoje o preço do bitcoin encontra-se mais estável e com flutuações mais ‘saudáveis’, muito se deu pela falta de apetite dos especuladores, mas a alta recente dos 3 para os 5 mil dólares demonstra que ainda há quem esteja buscando ganhar na variação do papel, seja na queda ou na baixa.

E se observarmos o histórico da criptomoeda, e analisarmos a linha de tendência de queda, veremos que essa recuperação não é nada fora do padrão, portanto podemos ver mais quedas por ai com a força vendedora ganhando volume.


Evolução preço BTC

E o ativo perdeu repetidamente todos os seus suportes anteriores que é difícil imaginar que ele vá se recuperar à valores anteriores. E sabe o porque disso? Por que…

4- O BITCOIN É (CADA VEZ MAIS) LIMITADO. ISSO É BOM, MAS ISSO É (CADA VEZ MAIS) RUIM!

Em dezembro de 2017 haviam no mundo 16.754.063 de bitcoins em circulação, algo próximo do 80% do total a ser produzido que, segundo os cálculos matemáticos que “geram” novas moedas, chegara ao máximo de 21 milhões de unidades em 2140. Hoje (22/04/19) esse valor é de 17.658.588, ou seja, algo próximo dos 85%.

E conforme eu expliquei no artigo anterior, está ficando cada vez mais difícil e custoso encontrar um novo btc e, portanto, menos pessoas terão interesse na sua ‘extração’, afinal será necessário horas e horas de mineração para conseguir um ativo que tem sua cotação cada vez menor.

Caberá então àqueles que já possuem um elevado valor em bitcoin ou que são entusiastas da criptomoeda a manter o legado para as nova minerações. Com isso, tendemos a ver o controle deste ativo cada vez mais concentrado, o que permitirá a eles (dentre outros motivos):

– Represar a venda de moedas de forma a gerar uma falsa demanda e desestabilizar o preço.

– Fazer grandes movimentações de venda e derrubar a cotação instantaneamente, gerando prejuízo aos retardatários.

– Reduzir as negociações no mundo real (compra e venda de mercadorias e serviços), reforçando o ponto anterior sobre ganhar dinheiro e não ser um meio de troca viável, como comento no ponto 1.

E conforme comentado no artigo à época:

"Estima-se que 40% do total de bitcoin mineradas hoje encontram-se em posse de somente 1.000 pessoas, ou seja, aproximadamente 6,7 milhões de BTC estão com mil pessoas que, se resolverem vender suas moedas, podem derrubar o mercado de uma só vez, gerando pânico e cada vez mais vendas.

E se você acha difícil isso acontecer, muito cuidado! No dia 20/12/17 o fundador de uma das mais importantes criptomoedas, a Litecoin, vendeu de uma só vez todas as suas criptomoedas alegando conflito de interesses".

Mas… se até agora você ainda não se convenceu de que o bitcoin se tornou um ativo especulativo decorrente de uma bolha, como qualquer um, eu tenho só mais um ponto para tentar reverter isso…

5- TODA CRISE É ASSIM (e a gente não aprende)!

Pode parecer até engraçado, mas o timing entre minha análise em Dez/17 foi ‘perfeito’ antes do início das quedas em na virada do ano. Espero que eu tenha conseguido safar a poupança de pelo menos meia duzia de leitores que resolveram levar o artigo a sério.

Mas ainda assim, muitos vão dizer que foi sorte, que eu chutei o pior cenário e acertei ou ainda muitas outras coisas negativas sobre a minha pessoa, ou melhor, meu papel de analista (aquele que por vezes dói em revelar quando algum conhecido pergunta ‘E você, trabalha com o quê?’).

Não adianta. A gente (e o mercado) não aprende. Insistimos em querer o caminho fácil, a grana rápida, o retorno fantástico e o lucro certo. Errar é humano, e o mercado parece ser o mais humano de todos nesse quesito.

Sai crise, entra crise e nós, analistas de mercado teremos sempre o papel quixotesco de tentar trazer alguma lucidez no meio de tanta loucura e, ainda assim, sermos ignorados e rechaçados. Mas continuamos por aqui!

Um forte abraço!

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