Resultados abaixo do esperado e demissões em massa, são alguns dos desafios que o setor de tecnologia vem enfrentando, que desestimula investidores na procura por ações das bigtechs. Pelo menos entre os investidores brasileiros, que acessam esses papéis por meio da compra de BDRs (Brazilian Depositary Receipts).
Para efeito de comparação, em 2021, das dez primeiras colocadas no ranking de preferência dos brasileiros calculado pela plataforma Dividendos.me, as três primeiras eram, respectivamente, Apple (NASDAQ:AAPL), Facebook (NASDAQ:META) e Google. No top 10 ainda estavam Microsoft (NASDAQ:MSFT) (7º), Alibaba (NYSE:BABA) (8º) e Mercado Livre (NASDAQ:MELI) (9º), ou seja, das dez mais almejadas seis eram bigtechs. As quatro posições restantes eram ocupadas por empresas de ramos diversos com a Disney (NYSE:DIS), do ramo de mídia, em quarto lugar, a Tesla (NASDAQ:TSLA) (Automotivo) em quinto, a Amazon (NASDAQ:AMZN) (varejo) em sexto e a Coca-Cola (NYSE:KO), do setor de bebidas, na décima posição.
Em 2022, a liderança ainda pertence a uma bigtech, no caso a Alibaba (BABA34), mas algumas mudanças de posicionamento no ranking mostram um certo ceticismo dos brasileiros em relação a este tipo de ativo. Tanto que o segundo lugar passou a ser da Tesla (BVMF:TSLA34), do megaempresário Elon Musk. A Alphabet (NASDAQ:GOOGL), dona da Google (BVMF:GOGL34) manteve-se na terceira colocação.
O levantamento leva em conta os dados de 190 mil investidores. A pesquisa mostra ainda que em quarto lugar está a Amazon (AMZO34 (BVMF:AMZO34)), do ramo de varejo. A líder no ranking passado, a Apple (BVMF:AAPL34), aparece na quinta colocação neste ano, seguida pela Meta (M1TA34), Walt Disney (DISB34 (BVMF:DISB34)) e Microsoft (BVMF:{{953585|MSFT34})). A Nike (NYSE:NKE), que no levantamento anterior nem aparecia entre as 20 primeiras na preferência do público, agora ocupa a nona colocação e a Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa) (BVMF:BERK34) ganhou duas posições, saindo da 12ª para a 10ª colocada. Mercado Livre não figura mais na lista das top 10.
Mesmo que sutil, a redução do interesse pelas bigtechs se explica pelo receio que os investidores têm da recessão global, que cresce gradualmente com os aumentos das taxas de juros em países do mundo todo e também pelas declarações dadas pelo presidente do FED, o banco central dos Estados Unidos. Empresas de tecnologia, por dependerem muito de capital de terceiros, têm elevação de seus custos afetando seus resultados e gerando uma queda em sua atratividade, uma vez que o valor dessas empresas está no fluxo de caixa futuro que ela vai gerar e hoje muitas delas ainda não estão gerando caixa.
Outro ponto a ser considerado é que as bigtechs não costumam ser boas pagadoras de dividendos. Para piorar, no último ano algumas chegaram a reduzir como o caso da Microsoft que possui um dividend yield médio de 2% e que atualmente se encontra em 1%. De qualquer forma, este é um motivo secundário, já que mesmo pagando pouco dividendo, as bigtechs podem surpreender.
Vale (BVMF:VALE3) aqui explicar que as companhias que pagam bons dividendos são aquelas que normalmente apresentam ótima saúde financeira e estão consolidadas. Não se espera nenhum crescimento fora do normal, porém, possuem geração de caixa constante e distribuição dos lucros de maneira uniforme. Teoricamente, as empresas que pagam poucos dividendos são aquelas com alto potencial de crescimento. O dinheiro que seria usado na distribuição dos lucros é investido no desenvolvimento de projetos que trarão ainda mais resultados no futuro, o que justifica a preferência de alguns investidores por estes papéis.
A principal razão para a Tesla ter saltado da quinta para a segunda posição no ranking das BDRs preferidas do investidor brasileiro é que, mesmo com um possível recessão e aumento dos juros nos Estados Unidos, ela vem apresentando resultados crescentes e acima das expectativas do mercado. Como o mundo passa por um momento de transição do combustível fóssil para combustíveis renováveis, a empresa, que produz carros elétricos e painéis solares, conta com grande vantagem sobre seus concorrentes.
Até porque a implantação de tecnologias mais limpas é incentivada pelos governos, reduzindo custos e aumentando as margens. Portanto, um investidor que procura aumentar seu patrimônio irá procurar empresas com mercados crescentes (veículos elétricos) e com resultados que deem base a esta ideia.
Seja bigtech ou não a vantagem de se investir em ativos internacionais, pagando ou não dividendos, está no fato de que eles estão atrelados a uma moeda forte, contribuindo para que o investidor tenha menos exposição ao risco Brasil. E mesmo com a crise, as empresas de tecnologia continuam a ser atrativas para os investidores brasileiros. Muitas delas têm se adaptado à nova realidade, realizando demissões em massa, enxugando um crescimento descontrolado que ocorreu nos últimos anos o que deve ajustar moderadamente as contas.
Entretanto, é necessária muita cautela ao se investir nelas em 2023, afinal com a incerteza no cenário global (guerra/recessão/inflação/