A terceira semana de junho começou com a desvalorização das principais moedas e ações internacionais. Não há nada mais preocupante para os líderes mundiais, investidores e a população de modo geral do que uma segunda onda do novo coronavírus. Infelizmente, essas preocupações estão se tornando realidade em muitas partes do mundo.
Aqui nos EUA, foram registrados novos recordes diários de casos na Flórida, Texas e Arizona. No exterior, estamos vendo a ocorrência de novas infecções em grandes cidades como Pequim e Tóquio.
A decisão da China de reimplementar medidas de confinamento fez com que muitos temessem que medidas similares fossem adotadas em outras partes do planeta. Até agora, a China já isolou 11 conjuntos residenciais, fechou importantes mercados de alimentos, proibiu o turismo interprovincial e postergou a reabertura das escolas.
A reversão nas ações começou na semana passada e pode ter marcado o topo das ações se o número de casos voltar a disparar. Até o momento, os números “oficiais" de contaminações na China e no Japão têm sido pequenos, mas se chegarem a atingir três dígitos diariamente, a China pode achar necessário adotar restrições mais rígidas, com implicações econômicas mais amplas.
Se isso acontecer, certamente veremos uma desvalorização mais persistente nas principais moedas e ações; nesse caso, os pares AUD/USD e USD/JPY serão os mais vulneráveis.
Nos EUA, os governos do Oregon, Utah, Nashville e Baltimore decidiram voltar atrás no processo de reabertura. Membros da Casa Branca, como o vice-presidente Mike Pence e o assessor econômico Larry Kudlow, rechaçaram a ideia de uma segunda onda, mas o alarmante aumento no número de casos no Cinturão do Sol é um importante sinal de alerta.
Embora esteja prevista a divulgação de importantes relatórios econômicos nesta semana, como os dados referentes aos gastos dos consumidores nos EUA, Canadá e Reino Unido, o principal vetor dos fluxos de mercado e do apetite para o risco podem ser os números de casos de covid-19.
A expiração dos benefícios de seguro-desemprego também pode provocar uma queda mais acentuada nas principais moedas e ações. Kudlow já indicou que o benefício extra de seguro-desemprego de US$ 600 por semana não será prorrogado após sua expiração no mês que vem. Os democratas querem que o benefício continue, mas os republicanos se opõem.
Considerando que esse pagamento extra está tirando muitas famílias do aperto, o impacto econômico pode ser devastador para milhões de americanos. Sua renda seria cortada em um terço e gerar um grande impacto nos gastos de verão.
Embora seja bastante provável que democratas e republicanos cheguem a algum tipo de acordo no sentido de vincular os benefícios de seguro-desemprego às taxas de desocupação nos estados, não seria tão generoso quanto o programa atual. Isso gera sérios riscos ao rali do mercado acionário e ao apetite dos investidores.
Falando agora dos dados econômicos nos EUA, os números seguem melhorando, com um índice de atividade industrial do Empire State superando em muito as expectativas. Os economistas esperavam uma melhora de -48,5 para -29,6, mas, em vez de uma contração, os dados mostraram uma estagnação no setor no mês de junho, com o índice subindo para -0,2.
Os investidores estão ansiosos para saber se essa forte recuperação se refletirá nas vendas do varejo, que devem ser divulgadas nesta terça-feira. Esse é o dado mais importante na agenda dos EUA, e a expectativa é que as despesas tenha um repique de 8% após caírem 16,4% no mês passado. Entre meados de maio e início de junho, as moedas e ações dispararam na expectativa de uma recuperação, e agora temos a chance de ver qual foi sua intensidade.
As medidas de confinamento fizeram com que a atividade econômica entrasse em depressão em março e abril. Mas, assim que as restrições foram amenizadas, a demanda reprimida deve impulsionar os gastos. A única questão é a magnitude da recuperação. Se as vendas do varejo subirem pelo menos 10%, veremos uma recuperação nas ações e no câmbio. Entretanto, se os gastos ficarem abaixo das expectativas, a deterioração terá continuidade.
As vendas no varejo americano serão muito mais importantes do que a reunião do Banco do Japão, pois a expectativa é que o banco central japonês mantenha as taxas de juros inalteradas.
Os investidores também devem ficar de olho no euro e na libra esterlina.A pesquisa ZEW na Alemanha será divulgada hoje, e a expectativa é que haja uma melhora na confiança dos investidores.
Enquanto isso, o Banco da Inglaterra será o único grande banco central a flexibilizar sua política monetária nesta semana. Sua decisão será motivada, em parte, pelos números do mercado de trabalho de terça-feira.
Apesar de o mês de maio ter registrado menos perdas de emprego, os PMIs sugerem que as condições do mercado laboral continuam fracas. Por isso, a libra esterlina é a moeda mais vulnerável a perdas nesta semana.